RELAÇÕES
INTERNACIONAIS 2017
TRUMP
E O DESENHO DE UMA NOVA ORDEM MUNDIAL
Crise econômica, desemprego, falência de empresas,
queda excessiva nas vendas nacionais e internacionais, migração, terrorismo.
Todos estes fatores juntos estão contribuindo para a criação de uma Nova Ordem
Mundial. Voltam à cena nacionalismo, protecionismo, isolacionismo e um rígido controle de imigração.
O Brexit, a vitória de Trump e aumento
de movimentos de extrema direita na Europa, como Jean-Marie Le Pen na França, representam,
o fim da globalização, tal como a conhecemos desde os anos 1990. A globalização
ou mundialização foi um processo de integração econômica, social e política do
mundo. Foi impulsionada pela comunicação e redução de custos dos meios de
transporte. Além disto, os desafios ambientais, como as mudanças climáticas,
poluição do ar e excesso de pesca no oceano, estão ligadas à globalização.
A globalização foi uma expansão muito
forte na livre circulação de produtos e mão-de-obra. Um processo que se iniciou
nos Estados Unidos de Reagan e no Reino Unido de Thatcher e, por isto mesmo, se
rompe nestes dois polos do poder econômico, político e militar.
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É como se as potências tivessem se
cansado de seus imigrantes. Passaram a ver neles obstáculos à sua retomada
econômica.
Acrescente-se aí a questão do
terrorismo. Nestes dias de hoje, imigrantes se tornaram suspeitos preferenciais
de terror, seja nos Estados Unidos, seja no Reino Unido.
São, por tudo isso, amplamente indesejáveis.
Tudo isso resultou em Trump, nos Estados
Unidos, e no Brexit, na Inglaterra.
Ainda é cedo para falar nas consequências
para o Brasil. Uma queda brusca nas exportações, que tanto contribuíram para o
crescimento do país nas últimas décadas, é previsível.
Uma nova Ordem Mundial está se formando. Na nova ordem, voltaremos
presumivelmente à condição de coadjuvantes que sempre nos coube — excetuados aí
os anos de Lula, em que a voz do Brasil foi ouvida como nunca antes.
O certo é que o sonho de um mundo
globalizado, quase fraternal, ruiu espetacularmente com a vitória de Trump.
Após
o Brexit, a vitória do republicano Donald Trump nos Estados Unidos, a maior
economia mundial, é uma nova mensagem dos “esquecidos da globalização” as suas
elites contra os controversos acordos de livre comércio.
“A
economia mundial atravessa dificuldades e os que sofrem por isso têm a
impressão de que a globalização é a responsável”, reagiu o economista japonês
Seiji Katsurahata após a vitória de Trump, que seduziu os eleitores americanos
com um discurso virulento contra o livre comércio.
“Os
ideais da globalização se apagaram com o enfraquecimento da economia mundial”
após a crise de 2008, acrescentou à AFP este especialista do Dai-ichi Life
Research Institute.
“O
sentimento geral, sobretudo o das classes populares, é que fazem com que elas
paguem o preço da globalização”, explicou há pouco tempo o economista francês
Thomas Pikkety à AFP.
Uma
opinião pública que se sentiu cada vez mais vulnerável diante de acordos
negociados na sombra. “Há uma percepção muito clara, e penso que é verdadeira,
de que estes acordos comerciais são concebidos para os interesses dos grandes
grupos”, explicou o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, durante uma
visita recente a Paris.
E
estas pessoas, cansadas dos fechamentos de fábricas, de seus problemas
financeiros, e irritadas com os discursos dos líderes políticos e econômicos
sobre a necessidade de liberalizar cada vez mais o comércio, querem que as
coisas mudem.
Para
surpresa das elites, o Brexit ganhou em junho e, em novembro, Donald Trump foi
eleito presidente.
O
Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou em sua reunião de outubro sobre a
necessidade de integrar “todos o mundo, e não apenas alguns” na globalização.
Durante
a última cúpula do G20, em setembro, a diretora-gerente do FMI, Christine
Lagarde, afirmou que os chefes de Estado dos países mais poderosos do mundo
estavam determinados a “responder às críticas populistas e fáceis contra a
globalização”.
Mas
sua mensagem não surtiu efeito. A rival de Trump, a democrata Hillary Clinton,
também tentou aproveitar a onda de descontentamento durante sua campanha, dando
uma guinada de 180 graus depois de ter apoiado em 2012 a controversa Associação
Transpacífica (TPP).
Acordos de livre comércio prejudicados
A
vitória de Trump ocorre num momento em que os acordos comerciais estão em
perigo. A França pediu para suspender as negociações sobre o Tratado
Transatlântico de Livre Comércio (TTIP ou Tafta) entre a União Europeia e os
Estados Unidos.
E o
acordo assinado entre Canadá e UE (CETA) precisou ser validado após uma forte
pressão dos líderes europeus para que a Valônia, a região francófona da
Bélgica, assinasse o texto ao qual se opunha.
A
alguns meses de eleições cruciais na França e na Alemanha, Paris enviou na
terça-feira uma série de propostas a Bruxelas para que as negociações destes
acordos sejam mais democráticas e transparentes.
“Não
haverá futuro europeu se não houver uma democracia extremamente forte”, avisou
o secretário de Estado francês, Matthias Fekl, que lembrou que “a Europa está
ameaçada por tentações e tendências muito perigosas em seu seio”, em referência
ao avanço dos partidos populistas.
Após
a vitória de Trump, os mercados aguardam suas primeiras medidas. “Prevemos que
Trump começará a designar a China como uma manipuladora de divisas e que
apresentará muitas denúncias contra a OMC”, disse Paul Ashworth, o chefe
economista do instituto Capital Economics.
“Também
insistirá para renegociar o Alena (acordo de livre comércio da América do
Norte)”, que entrou em vigor há mais de 20 anos sob a presidência de Bill
Clinton e inclui México, Canadá e Estados Unidos.
O
diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo, reagiu rapidamente e se
declarou “disposto” a trabalhar com Trump.
“Está
claro que muitos pensam que o comércio não funciona para eles, devemos nos
preocupar com isso e assegurar que o comércio aporte o maior número de
benefícios ao maior número de pessoas”, afirmou.