quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

JUBILEU SANTA LUZIA, UMA DAS GRANDES ROMARIAS DO BRASIL

JUBILEU SANTA LUZIA, UMA DAS GRANDES ROMARIAS DO BRASIL





Esta semana centenas e centenas de romeiros chegam a Santa Luzia, na Grande-Belo Horizonte para rezar para Santa Luzia, a santa dos olhos. Dia 13 dezembro é o dia de Santa Luzia, ponto máximo da festa. Eles vêm de todo o Brasil. Santa Luzia se transforma e oculista do povo na cura dos males da visão. 

Santa Luzia (ou Lúcia) foi uma jovem de Siracusa (Palermo, Itália), cujos olhos, de extraordinária beleza, fascinavam a todos que se encontravam com ela e tinha oportunidade de conversar e apreciar seu belo rosto. Convertida a religião cristã, fez voto de virgindade e distribuiu seus bens entre os pobres. Durante a perseguição contra a Igreja nascente, na época do imperador Diocleciano, foi denunciada ao tribunal pagão e condenada a ser violada. Porém, devido a misteriosa força, ninguém conseguiu removê-la do lugar onde se achava, nem mesmo uma parelha de bois. Envolvida em resina, foi lançada a uma fogueira. Contudo, nem as chamas se atreveram a tocá-la, por isso terminou os seus dias trespassada por uma espada.
A jovem santa é representada com a palma do martírio em uma das mãos e a outra segurando um prato com dois olhos, pois, segundo a lenda, ela os teria arrancado das órbitas e oferecido ao seu ex-noivo, o Prefeito Pascasio, que se enamorara dela, sobretudo pela beleza do olhar, afastando assim o amor dos homens e a vaidade pessoal, para dedicar-se somente ao serviço de Deus.
O culto de Santa Luzia foi trazido ao Brasil pelos primeiros missionários que aqui aportaram, e teve larga difusão em nosso país, principalmente no interior e nas zonas de praia, onde o dia 13 de dezembro, a ela dedicada, é sagrado: não se pesca nem se caça. É cultuada ainda em muitas cidades do interior do Brasil. Em Minas Gerais, na cidade de Santa Luzia, a festa atraí romeiros de todo o Brasil.
São comuns, ainda hoje, as novenas e trezenas preparatórias a festa da santa, e antigamente o hasteamento de sua bandeira no terreiro das casas era acompanhado de cânticos e quadrinhas, como a seguinte:

Que bandeira é essa
Que se vai levantar?
É de Santa Luzia
Que vamos festejar!
No Rio de Janeiro a Festa de Santa Luzia é muito concorrida e a histórica igrejinha, no centro da cidade, vive horas de intenso movimento, com a afluência de devotos e curiosos, devido a interessante cerimônia religiosa, que ali se realiza. Durante a missa solene os membros da irmandade vestem roupas vermelhas, tendo no braço esquerdo, bordados em ouro, os olhos de Santa Luzia entre duas palmas, encimados por uma aureola ou resplendor.
Em Minas Gerais, na histórica cidade de Santa Luzia, a 25 quilômetros de Belo Horizonte, a festa da santa, em 13 de dezembro, atraí romeiros de todo o Brasil. A cidade fica cheia com dezenas de ônibus. Armam-se barracas dos dois lados das ruas que dão acesso à igreja de Santa Luzia (1701), em estilo barroco, ornamentada em ouro com pinturas de Athayde e obras de Aleijadinho. A festa dura uma semana com missas, orações, festejos e a tradicional procissão dos fiéis que percorrem a cidade com a imagem da santa. Nas casas, os moradores colocam uma bandeira vermelha com os dizeres: “Santa Luzia, rogai por nós”.
Na noite que precede o dia 13 dezembro, as pessoas acendem velas nas janelas das casas até o amanhecer do dia como forma de iluminar o caminho para a chegada da santa. Os fiéis assistem à missa do galo, à meia-noite, na igreja matriz que fica lotada e marca o início das festividades. Depois da missa, os festeiros e seus convidados participam de coquetel na Casa de Cultura seguindo pela madrugada. Durante a festa, pessoas da comunidade são homenageadas com medalha de ouro da santa que são entregue durante as missas da trezena. Cada ano um grupo de famílias da comunidade é escolhido para organizar a festa numa tradição de fé e devoção que se repete, de geração a geração, de pais para filhos, há mais de um século.
A devoção a santa siciliana tomou aspectos inconfundíveis no Brasil, devido a sua miscigenação com ritos fetichistas, transformando a bela jovem cristã em séria concorrente dos oftalmologistas. A medicina popular brasileira diz que, quando cai um argueiro na vista de alguém, o remédio fácil e pronto e recitar, esfregando a pálpebra:
Corre, corre, cavaleiro
Vai a porta de São Pedro
Dizer a Santa Luzia
Que me de uma pontinha de lenço
Para tirar esse argueiro.
Era também comum, quando um cisco incomodava os olhos, dizer-se: "Santa Luzia passou por aqui em seu cavalinho comendo capim" e esfregar-se as pálpebras. Afirmam os devotos que o cisco desaparece imediatamente. Existe ainda a medalha propiciatória denominada "Olhos de Santa Luzia", que constam de dois olhos unidos, simples ou cobertos de enfeites, fabricados de modesto latão ou em prata e mesmo em ouro, adornado com pedras preciosas. Estas medalhas tanto podem ser encontradas pendendo de valiosas correntes, como presas em toscos alfinetes nas camisas remendadas dos pobres devotos.
A crença no poder de um olhar, principalmente no "mau olhado", é universal e milenar. Desde tempos imemoriais, acredita-se que os olhos de determinada pessoa possam enfeitiçar ou fascinar o indivíduo olhado. A fim de defendê-los contra as forças invisíveis desse malefício, os gregos costumavam gravar e pintar olhos em objetos mais diversos, principalmente nas cerâmicas de uso caseiro. Na velha China, também o olho era usado como ornamento apotropéico (que afasta os malefícios), tornando-se a característica dos artífices da dinastia "Chou". Com o advento do cristianismo, a superstição, originaria talvez de eras pré-históricas, tomou um sentido mais elevado, o de devoção, concretizando-se nos "Olhos de Santa Luzia", a padroeira das moléstias da vista.
Tornou-se conhecida também antigamente, pela denominação de "Santa Luzia dos cinco olhos" a palmatória, que no tempo da escravidão servia para castigar os escravos rebeldes e ainda, no início do século XX, para aplicar "bolos" nos alunos indisciplinados. Os cinco olhos eram os orifícios na palma deste instrumento de castigo corporal. Afirmavam alguns estudantes que, enchendo um dos buracos com uma bolinha de cera, a "Santa Luzia" rachava infalivelmente. A palmatória só entrava em descanso no período das férias escolares (Vieira Fazenda, 1921).
A experiência de Santa Luzia é uma das mais usadas no nordeste e norte do Brasil para a previsão de chuva. No dia 12, ao anoitecer, expõe-se ao relento, alinhadas, seis pedrinhas de sal, que representam em ordem sucessiva, da esquerda para a direita, os seis meses vindouros, de Janeiro a junho. Ao alvorecer do dia 13, data votiva da santa, observa-se: se estão intactas pressagiam seca. Se a primeira apenas se dilui é certo a chuva em Janeiro; se a segunda, em fevereiro e assim por diante, mas se isso acontecer com a maioria delas é sinal de um inverno (período de chuvas) benfazejo (Cascudo, 1962).
Todas essas lembranças atestam o prestígio da santa, martirizada em Siracusa, uma das mais populares do Brasil, cujo nome - "Lucis Via" - isto é, o Caminho da luz, simboliza a luz espiritual que ilumina a alma de seus devotos.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
BREGUEZ, Sebastião Geraldo – Festa de Santa Luzia mostra fé e devoção de centenas de romeiros em Minas, Belo Horizonte, Merconews, jornal do Mercosul, 13 de dezembro 2004.
CASCUDO, Luiz da Câmara –Dicionário do Folclore Brasileiro, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1962.
VIEIRA FAZENDA, José – Antiqualhas e memórias do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, T. 86, vol 140, Imprensa Oficial, 1921.


















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