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Carteiro, agente folkcomunicacional
Prof. Dr.
Sebastião Breguez
A Folkcomunicação é uma teoria criada, na década de 1960, pelo pernambucano Luiz Beltrão, criador das Ciências da Comunicação, no Brasil, para designar os estudos dos processos comunicacionais populares nas sociedades em processo de desenvolvimento. Ela engloba duas ciências, a Comunicação e a Antropologia. Ela estuda como se dá esta comunicação entre o popular, o erudito e a comunicação de massa (midiática). A expressão do carteiro, aquele que entrega diariamente cartas e correspondências nos domicílios brasileiros, está sobrevivendo na Era Digital dos emais. Mas se eternizou como lenda no imaginário do povo.
Integrando uma profissão que existe desde a antiguidade, os
carteiros são agentes folkcomunicacionais que disseminam informações, notícias
e novidades às populações diariamente no Brasil e em todo o mundo. Bem ou mal
recebidos, agredidos e hostilizados por cães ou pessoas mal humoradas,
enfrentando sol, chuva e frio, andam a pé, de bicicleta, de moto, camionetes,
montados em jumentos ou em canoas. Eles são os agentes populares importantes no
processo de intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, idéias e
atitudes de massa, através de agentes e meios ligados diretamente ou
indiretamente à cultura popular.
O Dia do Carteiro, comemorado no dia 25 de janeiro, relembra um
fato importante da História, de 1663. Naquele 25 de janeiro, a Coroa Portuguesa
criou o Correio-Mor no Brasil, nomeando o alferes João Cavalheiro Cardoso para
desempenhar a função na colônia. A data é uma homenagem ao primeiro carteiro,
designado há 343 anos.
Nossos primeiros carteiros foram os tropeiros, e nosso primeiro meio de
transporte terrestre o burro. Além dos tropeiros, qualquer viajante,
marinheiro, almocreve ou comerciante que embarcasse em lancha, canoa, sumaca,
transportava também, por favor, correspondência. Um segundo tipo de
transportador de correspondência existiu, também, nos primeiros tempos de nossa
colonização: os “próprios ou positivos”, empregados das grandes fazendas e
engenhos, e que segundo Rodolfo Garcia, ainda se ocupam desta tarefa nos nossos
dias. Por fim, o terceiro tipo de mensageiro, o mais comum e duradouro: o negro
escravo, mensageiro gratuito, eficiente, dócil, quase sempre fiel, e a esperta
mucama, confidente de namorados inocentes e romances proibidos.
Hoje os carteiros representam um universo de 50 mil trabalhadores em
todo o Brasil que percorrem cerca de diariamente cerca de 250 mil quilômetros,
o que representa mais de 5 voltas na circunferência da Terra, entregando, cada
um, em média, cerca de 1.300 objetos, visitando mais de 350 domicílios. Além
das atividades diárias de entrega de cartas e encomendas, nossos carteiros têm
participado de ações de cidadania desenvolvidas em todos os Estados. É o caso,
por exemplo, do projeto Carteiro Amigo, Incentivo ao Aleitamento Materno,
abrangendo todo o Brasil, no aconselhamento e na entrega de panfletos
informativos quanto à importância do aleitamento materno. O que fez do Brasil o
segundo país do mundo onde mais cresceu a prática do aleitamento materno,
podendo-se creditar grande parte desse triunfo aos carteiros, pelo eficiente
trabalho desenvolvido junto às camadas mais desassistidas da sociedade. Outra
atividade social é a da disseminação da leitura no Brasil, com a campanha de
doação de livros para as bibliotecas públicas, a partir da coleta de livros
junto à comunidade e a sua entrega às bibliotecas selecionadas.
Com o avanço das formas de comunicação, pelo advento da internet, com
seus e-mails, messenger (msn), blogs e fotologs, muita gente questionou o
futuro dos carteiros. Mas, mesmo com toda a parafernália tecnológica, os
profissionais-símbolo dos Correios podem comemorar tranqüilos, especialmente
nesta quinta-feira, o dia dedicado a eles. Nos últimos anos, a atividade só tem
crescido. Desde 1995, o número de encomendas e cartas dobrou, atingindo quase 9
bilhões de objetos transportados em todo país. A categoria cresceu mais de 100%
no Brasil e, em Minas, não foi diferente.
Segundo pesquisa do Vox Populi, os Correios são vistos por mais de 90%
dos brasileiros como a segunda instituição de maior credibilidade no país,
atrás apenas da família. Na época de escândalos envolvendo a empresa, ficou
comprovado que a boa imagem junto à sociedade se deve, principalmente aos
carteiros.
A simpatia e bom humor com que trabalham é retribuída pela população. “As
pessoas nos esperam na porta de casa”, confessa o carteiro Fábio Rodrigues
da Rocha, de 26 anos, há cinco na estatal. Na bolsa, o rapaz garante haver mais
do que papel, boletos de cobrança ou propagandas. Ele vê, no ato de se escrever
uma carta, o poder de aprisionar um sentimento e transmiti-lo, com toda sua
força, pelas letras. “Transporto informação e emoções. Boas ou ruins, como a
vida é”, afirma Fábio. Para ele, apesar das três horas diárias de
caminhada, o tempo passa rápido e a rotina da profissão não é cansativa.
O Centro de Distribuição Domiciliária (CDD) onde ele trabalha, na Rua
Padre Pedro Pinto, 708, em Venda Nova, recebe cerca de 75 mil correspondências
por dia. Logo quando chega, às 8h30, Fábio ajuda na triagem das
correspondências. As ruas são identificadas pelos três últimos dígitos do CEP e
os bairros são cobertos por, no máximo, seis profissionais. Há três anos, Fábio
se dirige ao Bairro Planalto e outros nas redondezas. “Ficamos pelo menos
dois anos em cada bairro. É uma forma de criar laços com a comunidade”,
diz. A cumplicidade e a gratidão Também permeiam essa relação. “Eles estão
sempre presentes, nos bons e maus momentos”, afirma a caixa de sacolão Vera
Lúcia Pinto, de 34. Em alguns casos, mais que respeito marca a prestação de
serviço. “Sem eles a gente não vive. Tenho a maior confiança no Fábio e o
considero um verdadeiro amigo”, elogia a vendedora Mariza Teixeira, de 51.
VELHOS PROBLEMAS
Nova realidade, problemas antigos. Os carteiros sobreviveram à avalanche
das técnicas de comunicação modernas, mas lutam contra as mesmas dificuldades
há décadas. Nem sempre, chegar a seu destino em BH é tarefa fácil. É preciso
saber que o endereço é perto da padaria, a alguns metros do quebra-molas ou
próximo de um loja . A casa de número 760 está ao lado da floricultura, cuja
placa indica 598. Há pelo menos 600 ruas e avenidas com numeração irregular na
capital. “Dá um pouco de dor de cabeça. Algumas correspondências conseguimos
entregar, porque já conhecemos o destinatário”, afirma Fábio.
Alegria de receber uma carta
Há também os casos em que o endereço, ou CEP, está incompleto ou
incorreto. Diariamente, os Correios não conseguem entregar, em Minas, 0,45% dos
objetos, cerca de 1.530 cartas e encomendas. Já o melhor amigo do homem, às
vezes, é o pior inimigo dos carteiros. “Só pelo jeito que eles chegam à
porta já sei se estou correndo perigo”, conta o rapaz, mordido quatro
vezes. Além dos percalços, as caminhadas dos carteiros produzem histórias
divertidas. Como a vez em que Fábio foi entregar uma carta a uma mulher que
brigou com o marido. “Bati na porta e ela me xingou”, recorda.
HOSTILIDADE E CÃO
A figura hostil do cão de guarda deixou de ser a única a intimidar os
carteiros da Grande Belo Horizonte. Assaltos aos entregadores estão preocupando
a categoria e também a instituição. No primeiro semestre deste ano, foram
registradas 14 ocorrências. A assessoria de imprensa dos Correios na capital
confirmou que o número de roubos cresceu, mas que não possui estatísticas de
anos anteriores porque os casos, como eram inexpressivos, não foram
contabilizados. Na capital, a maioria das ocorrências aconteceu no Alípio de
Melo (região Noroeste), Bairro da Graça (região Leste) e Venda Nova. Na região
metropolitana, Betim é a cidade que mais preocupa. Em nenhum dos roubos, de
acordo com a assessoria dos Correios, houve agressão física. Na Grande Belo
Horizonte, trabalham cerca de 3.000 carteiros. Para preservar a integridade de
seus servidores, a empresa ofereceu neste mês, em parceria com a Polícia
Militar, uma palestra de práticas seguras em vias públicas. Também está
produzindo uma cartilha com dicas para a proteção durante o trabalho, como
evitar carregar objetos pessoais de valor, além de orientar os carteiros a não
reagir ao assalto. Um filme também será confeccionado tendo como pano de fundo
a violência. “No último dia 10, nos reunimos com alguns carteiros e passamos
orientações para melhorar a segurança”, disse o capitão do 13º Batalhão,
Eduardo Domingues Barbosa. Segundo o oficial, algumas orientações como mudanças
de rotas e horários podem evitar que um carteiro seja “marcado” pelos bandidos.
“Estamos colaborando na identificação dos criminosos, mas precisamos ter
mais detalhes para montar um retrato falado”, explicou. Militares do 13º
BPM, lotado na região Norte de Belo Horizonte, foram instruídos a intensificar
o patrulhamento. “Nas ruas ermas que constituem rotas de carteiros, haverá
abordagens a pessoas estranhas na região. Queremos fazer um cerco a quem
estiver portando armas de fogo ilegais”, disse.
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