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Comunicação, folclore e globalização
Os meios de comunicação de massa estão destruindo o folclore ou a sociedade está sendo formada por uma só cultura?1
Sebastião Breguez
A evolução gradativa e posteriormente acelerada do modo de produção capitalista a partir da Revolução Industrial provocou sérias mudanças no contexto global do século XX. De uma sociedade onde a organização social e político-econômico era artesanal, agrícola e feudal, passamos a uma sociedade cuja economia e instituições radicam essencialmente na indústria e na produção em grande escala. Essa mudança de infra-estrutura provoca, por sua vez, mudanças na super-estrutura, pois ambas estão em ampla interação, modificando toda ideologia, valores, modos de pensar, agir e sentir, modos de ver as coisas, sem falar do próprio ambiente ecológico. Foi o surgimento da Sociedade de Consumo. A Revolução Industrial iniciada na Europa e exportada para vários outros países do Mundo foi constituindo, na medida de seu desenvolvimento, fases avançadas processo industrial onde, por exemplo, hoje o mundo inteiro se integra progressivamente num mercado de consumo internacional, buscando cada vez mais enormes gamas de bens. A sociedade de consumo deu primazia ao homem consumidor e todas as classes sociais foram chamadas a consumir.
Os produtos são baratos, pois são feitos em larga escala, atendendo a uma enorme variedade de consumidores com diversos “status” e poder aquisitivo. Paredes de propaganda, anúncio de jornais, rádios, televisões, cinemas, tudo a fazer a apresentação da cultura de massa e de seus produtos. Os anúncios, as relações públicas, a doutrinação, o obsoletismo planejado não são mais custos improdutivos e sim elementos básicos da produção. Essa sociedade tecnológica se caracteriza, ainda, pela automação progressiva do aparato material e intelectual que regula a produção, a distribuição e o consumo. Um aparato que se estende também às esferas tanto particulares e públicas mas suas esferas políticas, econômicas e culturais. O aparato tecnológico (no qual as ciências se converteram em fatores necessários para o processo de produção e consumo, principalmente a matemática e também a psicologia e a sociologia) alcança um grau de produtividade no trabalho que torna possível o aumento do nível de vida a uma larga escala da população que antes se considerava “não privilegiado”. Nascida nessa época, como fruto da infra-estrutura capitalista, a Cultura de Massas, reúne culturas diferentes e serve de elo de ligação entre essas culturas numa constante interação, englobando a um só golpe a cultura popular (ou folclore) e a cultura erudita.2
A Cultura popular pertence estruturalmente a uma classe social definida dentro do sistema de produção capitalista, que é o povo, com seus modos de pensar, agir e sentir e comunicar seu universo cultural. Aqueles que apenas tem acesso aos modos de produção capitalista e não posição de mando ou de influência.3
A cultura erudita, dos letrados, dos burgueses, pertence a uma classe social, também definida e caracterizada pelo modo de produção capitalista que são os proprietários dos meios de produção. Aqueles que apenas têm posição de mando e determinam os próximos rumos culturais, políticos e sociais, que por serem determinados pela infra-estrutura econômica estão sujeitos à ela4. A evolução histórica do homem sempre deu destaque a dois tipos principais de conteúdos culturais. A popular ou folclórica alicerçada num processo empírico e iletrado de acumulação de experiência e inovações transmitidas de pai a filho, de irmão a irmão, cuja transmissão é pela vivência, é oral e se baseia na proximidade. A cultura erudita, ao contrário, é alicerçada com bases letrada, em normas científicas, em relação de causa e efeito.5 Até a época de Gutenberg o patrimônio cultural da humanidade era transmitido e difundido em esferas muito estreitas e distantes uns dos outros. A cultura erudita era iniciada somente aos filhos da aristocracia e os poucos que conseguiam ter proximidade ao círculo hermético da elite. A cultura popular, ao contrário, era transmitida e era consumida pela grande maioria da população que constituíam as classes subalternas. Ao lado da medicina clássica, dos proprietários dos meios de produção, (os servos, os camponeses, os escravos, os trabalhadores braçais, etc). Ao lado do teatro erudito existia o teatro popular. Ao lado das manifestações literárias da elite estavam as manifestações escritas do povo. Assim por diante.6 Com a inovação da Imprensa, capitalistas interessados em ampliar sua acumulação, o modo de produção daquela época foi transformando, também, a produção cultural tendo como ideologia formar um consumidor geral sem distinção de classes. A produção em massa começou a iniciar-se também no setor de utilidades não imediatas. A cultura de massa, então foi formando subsídios para seu progresso cada vez mais espantoso. Uma cultura que reúne os símbolos, normas, valores, mitos, imagens, etc., de um universo popular e um universo erudito. Até, então esses universos culturais mantinham uma posição inter-comunicativa mas distante um do outro. Um exercia influência e pequenas mutações no patrimônio genético - cultural do outro sem que houvessem mudanças estruturais e/ou morfológicas radicais. Acontecia que fatos da vida popular eram inseridos através de obras artísticas da cultura erudita através da pesquisa, contatos e ás vezes vivência mesmo. E isso vemos em várias obras literárias de escritores antigos, músicos, pintores e escultores. Por outro lado, o simbolismo dos letrados era incorporado ao simbolismo do povo pelas influências de domínio, mando, imposição, doutrinação (o caso dos missionários cristãos ilustra bem esse exemplo).
Os exemplos são muitos, mas bastaria caracterizar, neste trabalho, por exemplo, o fandango, que é uma dança dramática encontrada no Brasil, em Alagoas, e que é uma variante de velhos costumes musicados portugueses. Mesmo a literatura de cordel, que um crítico literário norte-americano disse que Jorge Amado usou para seus romances, é um tipo de comunicação escrita do povo, elaborada e adaptada de formas poéticas de portugueses e espanhóis (atualmente é muito difundido no mundo inteiro, e existe inúmeros estudos a respeito). Roger Pinon, Professor belga licenciado em filosofia germânica pela Universidade de Liége, tem uma série de trabalhos a respeito. Veja por exemplo. “El Cuento Folkórico”, Editorial Universitária de Buenos Aires, 1965. No Brasil, a região mais rica em manifestações do folclore literário é o nordeste.7
Atualmente, o processo de intercomunicação da cultura de massa não permite distinção entre cultura popular e cultura erudita. O folclore foi perdendo suas características de “vivant” assim como também a tendência é a de formação de uma sociedade unicultural. Estamos assistindo a uma aculturação do folclore e da cultura burguesa.8
O rádio, a televisão, o cinema, o jornal, as revistas, as publicações em geral, estão matando o folclore na medida em que as camadas populares têm acesso aos meios de comunicação. Na medida em que uma sociedade subdesenvolvida vai passando pelo processo de desenvolvimento e industrialização, onde as condições pré-capitalistas de existência, as estruturas sociais arcaicas, o analfabetismo, o pauperismo, a sub-higiene, a fraca alimentação, vão sendo substituídas por condições mais compatíveis com a dignidade humana.9 Por isso, diz Édison Carneiro que as manifestações coletivas do folclore são encontradas em regiões brasileiras, como por exemplo o litoral paraense, o interior da Paraíba, o Recôncavo Baiano, zonas de notório atraso econômico, de pobreza crônica do povo, de condições pré-capitalistas de existência.10
Roger Bastide 11 diz que o folclore está morrendo justamente no momento em que se tornou ciência no Ocidente. O folclore está morrendo após as transformações econômicas fundadas no modo de produção capitalista. Na França, por exemplo, o Professor Varagnac conseguiu demonstrar que o folclore foi destruído após a introdução do maquinismo na agricultura e não conforme se pensava que fosse somente o serviço militar, a escola primária, e o desenvolvimento das redes de estradas em 1850. O Folclore, então, tende a reduzir-se a grupos esparsos da população urbana como os grupos infantis e as subpopulações urbanas de favelados.12
A introdução da máquina na agricultura, a aculturação dos “mass-media”, cujo principal amigo do “folk” é o radinho de pilha, destroem a harmonia existente e impede a continuidade das manifestações populares como por exemplo, ritos como o mutirão, o boi-bumbá, as cangadas, os reisados, a medicina rústica, as advinhas, os provérbios, as crendices e superstições, a literatura de cordel, etc.
Com a introdução do maquinismo no campo, novas relações de produção passam a caracterizar as estruturas sociais e econômicas e isso impõe novas ideologias. Como o folclore está situado na superestrutura da sociedade, mudando a infra-estrutura econômica, mudanças também se efetuarão na superestrutura. O trabalhador rural marginalizado pela máquina, no campo, emigra, para grandes centros urbanos onde espera e anseia por melhores condições de vida. No centro urbano, a mão-de-obra especializada caracteriza o mercado de trabalho e o homem tem que ter uma formação técnica, mínima que seja (como pintos, pedreiro, marceneiro, etc.), dentro de uma especialidade para se manter. Na medida que o trabalhador rural se insere nas novas relações de produção, vai interiorizando comportamentos “dos civilizados” e vai abandonando suas formas rústicas de pensar, agir e sentir, vai se “civilizando” embora isso demande tempo.13
Desde 1957, McLuhan se referia a um folclore de laboratório. Para ele, a nossa cultura é totalmente uma cultura de laboratório. É programada por técnicos da publicidade, do rádio, da televisão, do cinema, do jornal, da universidade, dos departamentos de psicologia social. Após elaborada, a cultura de massa é posta ao consumo, a circulação (observando que ela é elaborada em função de infra-estrutura capitalista) para as camadas sociais que existem na estrutura que lhe serviu de ventre. A cultura de massa, então, para se firmar, se serve de mecanismos diversos de controle social seja na padronização dos gostos seja na produção em série de produtos baratos que são impostos à compra pelo consumidor ideal. Portanto, para McLuhan, o folclore atual, assim como toda cultura, é fruto de laboratório, e não aquela forma “vivant” de que nos fala Albert Marinus, folclorista belga,14 que caracterizava as comunidades aldeãs antes de Gutenberg.
A indústria do disco promoveu a massificação das obras de Beethoven, Chopin, Wagner, Mozart, Straus ou Schubert, para não citar outros. A indústria do livro promoveu a produção em massa de Homero, Dante, Shakespeare, Voltaire, Dumas, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Jorge Amado e outros. A “ofsett” permite a produção em milhares de exemplares de quadros de Dali, Picasso, Da Vinci, Monet, Casanova, Renoir e outros. A televisão pega isso tudo e revoluciona ainda mais: Obras artísticas, musicais e teatrais estão diariamente pelos programas de televisão e cinema.15
O folclore está se fundindo na cultura de massa? A sociedade está sendo formada por uma só cultura? Ou será que o folclore é fruto da estratificação social e da desigualdade na difusão das conquistas culturais da humanidade?
O folclore tem uma função social e é questão muito importante saber porque o povo faz o folclore e por que se realiza nele. Acredito que aí chegaremos ao ponto em que se fundamenta, se estrutura as diferenças sociais, econômicas e políticas que dividem os homens.
Sebastião Geraldo Breguêz é professor da UNIVALE
(1) O conceito de cultura que adotamos neste trabalho é o mesmo que consta no “Dicionário Filosófico Abreviado, de M. Rosental e P. Iudin, Ediciones Pueblos Unidos, Montevidéu, 1950, que diz o seguinte: “Cultura - Conjunto dos valores materiais e espirituais criados pela humanidade, no curso de sua história. A cultura é um fenômeno social que representa o nível alcançado pela sociedade em determinada etapa histórica: progresso, técnica, experiências de produção e de trabalho, instrução, educação, ciência, literatura e arte, e instituições que lhes correspondem. Em um sentido restrito, compreende-se sob o termo cultura, o conjunto de formas da vida espiritual da sociedade que nascem e se desenvolvem à base do modo de produção dos bens materiais historicamente determinado. Assim, entende-se por cultura, o nível de desenvolvimento alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc., e as instituições correspondentes. Entre os índices mais importantes do nível cultural, e em determinada etapa histórica, é preciso notar o grau de utilização dos aperfeiçoamentos técnicos e dos desenvolvimentos científicos na produção social, o nível cultural e técnico dos produtores dos bens materiais, assim como o grau de difusão da instrução da literatura e das artes entre a população” (pág. 104). Segundo Édison Carneiro, (em Dinâmica do Folclore, Editora Civilização Brasileira, 1965) por folclore entende-se um conjunto de modos de sentir, pensar e agir peculiares às camadas populares das sociedades civilizadas e que alguns folcloristas estendem o campo do folclore a todas as sociedades, até mesmo as primitivas. Diz ainda que a existência de graus diversos da mesma cultura é necessária para caracterizar o fenômeno.(2) José Marques de Melo num artigo publicado na rev. VOZES (outubro de 1969, ano 63, nº 10) diz que a cultura de massas atua como veículo de interação entre a cultura clássica e a cultura popular estimulando o intercâmbio simbólico entre elas, e, ao mesmo tempo, extraindo de ambas códigos e elementos místicos que incorpora ao seu próprio acervo e os retribui sob a forma de novas influências”. A evolução histórica do homem sempre deu destaque a dois pólos distintos de estágios culturais numa mesma sociedade cuja natureza de organização e estratificação e cuja determinação está no modo de produção determinado historicamente.
(3) O folclore pertence a superestrutura da sociedade (para maiores detalhes vide livro de Édison Carneiro — “A Dinâmica do Folclore”), já citado, página 81 cuja determinação está na infra-estrutura que estabelece relações produtivas entre os homens. “Na produção social dos homens, estes estabelecem entre si determinadas relações, indispensáveis e independentes de sua vontade; estas relações de produção correspondem a um estágio de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade daquelas relações de produção constituiu a estrutura econômica da sociedade — verdadeira base. Sobre ela, ergue-se a superestrutura legal e política, à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material determina o caráter geral dos processos sociais, políticos e espirituais da vida” (Karl Marx, Prefácio de “CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DE ECONOMIA POLÍTICA”, in Marx-Engels, OBRAS ESCOLHIDAS, Sigla XXI).
(4) Antônio Gramsci (“Os Intelectuais e formação da Cultura”, Editora Civilização Brasileira, 1968) diz: “Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, de um modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político: o empresário capitalista cria consigo e técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um novo direito, etc. Deve-se notar o fato de que o empresário representa uma elaboração social superior, já caracterizada por uma certa capacidade dirigente a técnica...”
(5) “Sociologicamente, a cultura clássica e a cultura popular situam-se em pólos extremos. A primeira é uma cultura própria das elites, dos grupos privilegiados que detêm o poder uma sociedade, ou melhor as classes dominantes. A segunda é uma cultura peculiar à grande massa populacional que constitui o pólo dos dominadores na estrutura da organização social” (José Marques de Melo, “Comunicação, Cultura de Massas, Cultura Popular” in Revista VOZES, já citado. Édison Carneiro, em “Sabedoria Popular do Brasil” diz que o campo do folclore se estende a todas as manifestações da vida popular como o traje, a comida, a habitação, as artes domésticas, as crendices, os jogos, as danças, as representações, a poesia anônima, o linguajar, revela a Existência de todo um sistema de sentir, pensar e agir, que difere essencialmente do sistema erudito, oficial, predominante nas sociedades de tipo ocidental”. E tal sistema reflete as diferenças de classes sociais (de educação, e de cultura) que divide os homens. (6) Existia e ainda existe. Ainda existe o teatro popular com suas danças dramáticas como o Bumba-Meu-Boi, o reisado, etc. Ainda existe a medicina dos excretos. Ainda existe a literatura de cordel. Ainda existem as diferenças de classes...
(7) A literatura de cordel é encontrada em feiras. Em Governador Valadares, cidade que sempre recebe imigrantes nordestinos e baianos a procura de melhores condições de vida, encontramos inúmeros exposições de literatura de cordel nas praças, ruas e principalmente no Mercado Municipal. Os livretos de cordel vinham pendurados em cordas. O nome cordel é derivado de corda. É através das cordas que são feitas as suas exposições. São publicações em prosa e verso num português arcaico onde o povo transmite as suas dores e os seus risos. A literatura de cordel tem sido alvo de inúmeras depredações, principalmente de editores paulistas. Eles se apossam da forma e do conteúdo da prosa popular e publicam os livretos com o português civilizado”. “Prostituem” a riqueza do povo.
(8) Essa idéia de sociedade unicultural vai de encontro com a própria organização e estruturação da sociedade, que é estratificada. Edgar Morin partindo da idéia de cultura como “complexo de símbolos, normas e imagens” encontra inúmeras culturas que penetram no indivíduo em sua vida diária. Existe, para Morin, uma cultura religiosa, uma cultura nacional, uma cultura clássica, uma cultura popular, uma cultura de massas.
9) O tradicional em folclore recebe, com o “mass-media”, uma série de impactos. E vai interiorizando formas novas, secularizadas embora o conteúdo permaneça. O folclore como tradição está morrendo, porque está se remodelando.
(10) As manifestações coletivas do folclore tendem a morrer. O que caracteriza um rito como o mutirão, por exemplo, é a coesão do grupo, do povo que se utiliza dele. Na medida que as condições capitalistas de existência, ou para ser mais exato, o modo de produção capitalista é introduzido numa sociedade “folk” desagrada a coesão grupal por que estabelece novos tipos de relacionamento entre os elementos dessa comunidade.
(11) Prefácio de “Arte, Folclore e subdesenvolvimento”, Souza Barros, Editora Paralelo / MEC.
(12) Édison Carneiro critica essa posição de André Varagnac. Diz ele que Varagnac se negou a analisar a questão de permanência dos modos de sentir, pensar e agir que constituem o folclore. Vide observação 10.
(13) Vide notas 10 e 12. Aqui em Belo Horizonte, encontramos, para nossa surpresa, em muitas favelas, comportamentos de “folk” que estão ainda bem vivos. Numa favela na Nova Suíça, por exemplo, encontramos inúmeras famílias que faziam aborto com mentrasto. A mulher, na época em que tem certeza da gravidez, toma inúmeras vezes ao dia chá de mentrasto e usa essa planta para colocar no ventre — o que muitas vezes causa uma ferida e morte da paciente. Essa mesma família tinha resquícios de comportamento indígena. Após a gravidez, o marido se sente na obrigação de ficar oito dias acamado, junto com a criança. Se não fizer isso, ele fica com uma insuportável dor de dente. Pesquisando outras favelas, encontramos o mesmo comportamento. Essas famílias são oriundas do interior de Minas Gerais e muitas delas do meio rural onde trabalhavam como meeiras com proprietários de terras que lhe cediam o terreno para que ele cultivassem.
(14) É claro que as observações de McLuhan foram realizadas num país altamente industrializado onde o “mass-media” é mais influente porque o poder aquisitivo da população permite uma série consumo de produtos culturais. Muito do folclore que está aparecendo como secularização do tradicional é fruto da influência do mass-media. Entretanto, cabe observar como Édison Carneiro, que a cultura popular se nutre de desejos de bem-estar econômico e social e constitui uma forma de reivindicação social e é expressão das aspirações populares e suas expectativas frente à realidade social. Povo não é passivo frente aos meios de comunicação de massa que seriam ativos para McLuhan.
(15) Cabe aqui observar que a televisão apresenta obras artísticas. Entretanto, ela as apresenta destituídas de seu valor estético original, porque esvazia totalmente a obra de arte. Mas apresenta... embora ôca. |
©Instituto Gutenberg Boletim Nº 28 Série eletrônica Setembro-Outubro, 1999 |
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