domingo, 13 de julho de 2014

FOLIA DE REIS, UM ESTUDO FOLKCOMUNICACIONAL



FOLIA DE REIS, UM ESTUDO FOLKCOMUNICACIONAL

PROF. DR. SEBASTIÃO BREGUEZ
breguez@uai.com.br



Cresce, a cada dia, o interesse acadêmico pela cultura popular e suas centenas de manifestações de fundo cultural e religioso, fortalecendo o debate sobre a globalização midiática e sua influência nas culturas locais e regionais. A UNESCO, organização das Nações Unidas para a área de Educação e Cultura já desde sua criação, na década de 1940, vem fomentando estudos e pesquisas para conhecer, divulgar e fortalecer a identidade cultural dos povos no mundo inteiro.

Um exemplo disto é o estudo de Taciana Granato, formanda em Comunicação Social/Jornalismo da UMESP, sob a orientação da Profa. Maria Érika - FOLIA DE REIS, Livro Reportagem, UMESP, SP. Taciana interessou-se logo pelo folclore e viu na Folia de Reis o objeto de sua pesquisa de término de curso, realizando o estudo em forma de livro-reportagem. Assim, ela procurou pesquisar a fundo o tema, visitou e acompanhou manifestações de Folia de Reis, fotografou, documentou e o resultado está agora publicado neste livro. Sua pesquisa está dividida em oito capítulos e em cada um, ela apresenta e analisa as etapas e símbolos da Folia de Reis numa linguagem narrativa, típica do texto jornalístico.

É uma tendência nova na área de Comunicação e Jornalismo escrever reportagens mais longas, mais elaboradas e detalhadas e publicar em formato de livro. É o gênero que chamamos Ensaios Jornalísticos. Os antigos jornalistas, em nossa história, já faziam isto como, por exemplo, Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, um clássico da literatura brasileira. E mesmo porque o jornalismo impresso, para vencer a concorrência dos meios audiovisuais, tem fugir do formato superficial das reportagens relâmpago do dia-a-dia.

O tema que Taciana Granato apresenta, a Folia de Reis, é uma das manifestações mais ricas do ciclo natalino, principalmente, em Minas Gerais, mas também em outros estados e regiões do Brasil onde há variações locais. Também chamada de Reisado, a Folia de Reis começa no dia 24 de dezembro nas festas do chamado Ciclo Natalino. São grupos de homens que saem à noite, na véspera de Natal, percorrem as casas da cidade e zona rural, representando a peregrinação dos Reis Magos. Eles levam a mensagem do nascimento do Cristo. Dançam e cantam acompanhados de instrumentos como viola, violão, rabeca, caixa, etc.

Quando os grupos se encontram, cantam desafios e fazem coreografia. Os personagens também variam de cada cidade ou região, mas, em geral, temos o Mestre, os foliões, o Alferes (que carrega a bandeira), os três Reis Magos e os palhaços que lembram os soldados de Herodes e nunca entram nas casas na hora das orações.A fé popular acredita que são portadores de bênçãos e, por isto, são recebidos com reza, alegria e comida farta.

O Ciclo do Natal começa no dia 24 de dezembro e vai até o dia 6 de janeiro. Grupos de cantadores e instrumentistas saem pelas ruas, à meia-noite, como se estivessem procurando o Menino Jesus. Cantam nas casas onde haja um presépio. “Senhori dono da casa, abre a porta, eu quero intrá. Nóis viemos de Belém pra adorá Minino Jesus”. Se o dono não abre, eles vão embora. Se abre, eles entram, cantam versos sobre o nascimento de Cristo, sobre a Virgem Maria e outros. Depois, os três Reis Magos (que são figurantes da folia ) ajoelham e adoram o Menino Jesus e fazem graça ao dono da casa, dançando e cantando ao ritmo de ‘lundu’.

A partir do dia 6 de janeiro, a Folia de Reis se transforma em Folia de São Sebastião, cantando a vida e morte do Santo mártir. Eles usam as mesmas roupagens da Folia e acrescentam um figurante, que representa São Sebastião, em seus trajes de soldado romano. Estas manifestações representam a influência do branco português em nossa cultura. Pois, a cultura brasileira é formada pela interpenetração de três raças e culturas: o branco português, o índio nativo do país tropical e o negro africano, que veio forçadamente inserir-se nas relações de trabalho como escravo. Além, é claro, da presença de dezenas de etnias e raças como o italiano, o alemão, o polonês, o francês, o espanhol, o japonês, o chinês, os árabes etc. Cada um deixou traços inconfundíveis em nossa maneira de sentir, pensar e agir.

O que importa, para nós, pesquisadores da Comunicação, é estudar estas manifestações como estratégias comunicacionais das classes populares e ver nelas as mensagens que querem nos passar. É isto que levou o jornalista e pesquisador pernambucano a cunhar a expressão Folkcomunicação como o estudo dos agentes e meios populares de fatos e expressão de idéias. O interesse por esta disciplina tem crescido muito nos meios acadêmicos das Ciências da Comunicação, fomentando e suscitando pesquisas sobre diversos aspectos da cultura popular. Como este que ora faço a apresentação.

Este trabalho de Taciana Granato representa, entretanto, uma primeira incursão na linha de pesquisa da Folkcomunicação. Penso que ela poderá continuar, no Mestrado e/ou também no Doutorado, continuar e aprofundar sua pesquisa, enriquecendo a noviça área da Folkcomunicação. Trazendo sangue novo ao debate interdisciplinar da Folkcomunicação e a área de Comunicação Social.






Nenhum comentário:

Postar um comentário