FOLIA DE REIS, UM ESTUDO
FOLKCOMUNICACIONAL
PROF.
DR. SEBASTIÃO BREGUEZ
breguez@uai.com.br
Cresce, a cada dia, o interesse
acadêmico pela cultura popular e suas centenas de manifestações de fundo
cultural e religioso, fortalecendo o debate sobre a globalização midiática e
sua influência nas culturas locais e regionais. A UNESCO, organização das
Nações Unidas para a área de Educação e Cultura já desde sua criação, na década
de 1940, vem fomentando estudos e pesquisas para conhecer, divulgar e
fortalecer a identidade cultural dos povos no mundo inteiro.
Um exemplo disto é o estudo de
Taciana Granato, formanda em Comunicação Social/Jornalismo da UMESP, sob a
orientação da Profa. Maria Érika - FOLIA DE REIS, Livro Reportagem, UMESP, SP. Taciana interessou-se logo pelo folclore e
viu na Folia de Reis o objeto de sua pesquisa de término de curso, realizando o
estudo em forma de livro-reportagem. Assim, ela procurou pesquisar a fundo o
tema, visitou e acompanhou manifestações de Folia de Reis, fotografou,
documentou e o resultado está agora publicado neste livro. Sua pesquisa está
dividida em oito capítulos e em cada um, ela apresenta e analisa as etapas e
símbolos da Folia de Reis numa linguagem narrativa, típica do texto
jornalístico.
É uma tendência nova na área de
Comunicação e Jornalismo escrever reportagens mais longas, mais elaboradas e
detalhadas e publicar em formato de livro. É o gênero que chamamos Ensaios Jornalísticos. Os antigos
jornalistas, em nossa história, já faziam isto como, por exemplo, Euclides da
Cunha, autor de Os Sertões, um
clássico da literatura brasileira. E mesmo porque o jornalismo impresso, para
vencer a concorrência dos meios audiovisuais, tem fugir do formato superficial
das reportagens relâmpago do dia-a-dia.
O tema que Taciana Granato
apresenta, a Folia de Reis, é uma das manifestações mais ricas do ciclo
natalino, principalmente, em Minas Gerais, mas também em outros estados e
regiões do Brasil onde há variações locais. Também chamada de Reisado, a Folia
de Reis começa no dia 24 de dezembro nas festas do chamado Ciclo Natalino. São
grupos de homens que saem à noite, na véspera de Natal, percorrem as casas da
cidade e zona rural, representando a peregrinação dos Reis Magos. Eles levam a
mensagem do nascimento do Cristo. Dançam e cantam acompanhados de instrumentos
como viola, violão, rabeca, caixa, etc.
Quando os grupos se encontram,
cantam desafios e fazem coreografia. Os personagens também variam de cada
cidade ou região, mas, em geral, temos o Mestre, os foliões, o Alferes (que
carrega a bandeira), os três Reis Magos e os palhaços que lembram os soldados
de Herodes e nunca entram nas casas na hora das orações.A fé popular acredita
que são portadores de bênçãos e, por isto, são recebidos com reza, alegria e
comida farta.
O Ciclo do Natal começa no dia 24 de dezembro
e vai até o dia 6 de janeiro. Grupos de cantadores e instrumentistas saem pelas
ruas, à meia-noite, como se estivessem procurando o Menino Jesus. Cantam nas
casas onde haja um presépio. “Senhori dono da casa, abre a porta, eu quero intrá.
Nóis viemos de Belém pra adorá Minino Jesus”. Se o dono não abre, eles vão
embora. Se abre, eles entram, cantam versos sobre o nascimento de Cristo, sobre
a Virgem Maria e outros. Depois, os três Reis Magos (que são figurantes da
folia ) ajoelham e adoram o Menino Jesus e fazem graça ao dono da casa,
dançando e cantando ao ritmo de ‘lundu’.
A partir do dia 6 de janeiro, a Folia de Reis
se transforma em Folia de São Sebastião, cantando a vida e morte do Santo
mártir. Eles usam as mesmas roupagens da Folia e acrescentam um figurante, que
representa São Sebastião, em seus trajes de soldado romano. Estas manifestações
representam a influência do branco português em nossa cultura. Pois, a cultura
brasileira é formada pela interpenetração de três raças e culturas: o branco
português, o índio nativo do país tropical e o negro africano, que veio
forçadamente inserir-se nas relações de trabalho como escravo. Além, é claro,
da presença de dezenas de etnias e raças como o italiano, o alemão, o polonês,
o francês, o espanhol, o japonês, o chinês, os árabes etc. Cada um deixou
traços inconfundíveis em nossa maneira de sentir, pensar e agir.
O que importa, para nós, pesquisadores da
Comunicação, é estudar estas manifestações como estratégias comunicacionais das
classes populares e ver nelas as mensagens que querem nos passar. É isto que
levou o jornalista e pesquisador pernambucano a cunhar a expressão Folkcomunicação
como o estudo dos agentes e meios populares de fatos e expressão de idéias. O
interesse por esta disciplina tem crescido muito nos meios acadêmicos das
Ciências da Comunicação, fomentando e suscitando pesquisas sobre diversos
aspectos da cultura popular. Como este que ora faço a apresentação.
Este trabalho de Taciana Granato representa,
entretanto, uma primeira incursão na linha de pesquisa da Folkcomunicação.
Penso que ela poderá continuar, no Mestrado e/ou também no Doutorado, continuar
e aprofundar sua pesquisa, enriquecendo a noviça área da Folkcomunicação.
Trazendo sangue novo ao debate interdisciplinar da Folkcomunicação e a área de
Comunicação Social.
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