PADRE VIEIRA E O JUMENTO - Comunicação e Folclore
Prof. Dr. Sebastião Breguez
breguez@uai.com.br
O
jumento, um animal bíblico que desde a Antiguidade, tem servido de transporte
de cargas e passageiro, estava prestes a desaparecer do Brasil. Ele foi
exterminado maciçamente no Nordeste brasileiro – uma região desértica e de muita pobreza – pelos grandes frigoríficos
que utilizam sua carne para fazer
salsicha e enlatados. Mas um trabalho inteligente de Comunicação, feito pelo
padre Antônio Vieira, de Fortaleza, capital do estado do Ceará, evitou que o
animal foi extinto no país. O padre organizou um movimento de defesa do
animal, lançou o livro O JUMENTO, NOSSO
IRMÃO para chamar a atenção das autoridades. O livro foi até traduzido para o
inglês e publicado em Nova
Iorque, com o título The
Donkey, our Brother, tradução de Willian Teasdale, presidente de uma ong
internacional que luta contra as crueldades contra os animais.
O jumento esteve
presente, por três vezes, na vida Jesus: no nascimento,
na mangedora, na fuga para o Egito, na entrada triunfal em Jerusalém, no
domingo de Ramos, conforme nos conta a Bíblia. A figura do jumento tambem esta
presente no Alcorão, livro sagrado do Islamismo: entre os animais que Maomé
leva para o ceu esta uma jumenta. No Brasil, o jumento foi meio de transporte
importante para o redescobrimento do pais
pelos bandeirantes, forçando Portugal e Espanha a romper com o Tratado de
Tordesilhas. Também foi elemento importante para o fim da Escravatura, pois,
substituiu a forca de trabalho escrava a partir de meados do século XIX. E, por
fim, o animal assumiu importância fundamental no Nordeste do Brasil como meio
de transporte, como alimento e transporte de cargas pesadas.
A
idade de vida de um jumento no Brasil é de 15 anos, pois é utilizado em
trabalhos penosos, com excesso de carga, que esgotam suas energias vitais,
enquanto que, em outros países como a Espanha, a Itália e o Egito, o jerico
chega a viver de 30 a
40 anos. Além de usado de maneira inadequada, com excesso de peso e jornada de
trabalho muita longa, sem a devida alimentação, o animal agora é vítima do
apetite voraz de grandes frigoríficos que o matam em centenas para ter
matéria-prima para seus produtos.
O jumento hoje é mais respeitado pelo homem
nordestino e ganhou até legislação trabalhista. Ele é talvez o único animal
do mundo a ter horário de trabalho
definido por lei. No Nordeste brasileiro, em geral, o jegue não pode carregar
cargas depois das 18 horas, ou seja, é proibido utilizar o animal para
trabalhos noturnos. Também não pode trabalhar aos sábados depois do meio-dia, a
ele é assegurado o repouso de fim-de-semana para recuperar as energias gastas.
Se o proprietário do animal infringe a lei, toma multa e pode ser até preso. E
o animal tem até aposentadoria...
Afinal, o jumento é um dos símbolos
fundamentais da cultura nordestina. Muito contribuiu para a economia como meio
de transporte doméstico, para carregar cargas e também na alimentação do homem
desta região. O jumento é para o nordestino o mesmo que o camelo é para o árabe
ou o beduíno do deserto. E foi salvo pela estratégia de Comunicação usada pelo
padre Vieira para chamar a atenção da Opinião Pública para o problema.
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