domingo, 13 de julho de 2014

FATO FOLCLÓRICO E FOLKCOMUNICAÇÃO



FATO FOLCLÓRICO E FOLKCOMUNICAÇÃO

Prof. Dr. Sebastião Breguez



Fato folclórico é toda manifestação cultural das classes populares que tem como base estrutural de sustentação a oralidade, a tradição e o anonimato. É tudo aquilo que está abrangido pelo folclore. Luiz Beltrão, ao estudar o folclore, viu nele não somente uma manifestação cultural, como os antropólogos, mas uma forma de expressão comunicacional. Daí ele cunhou a expressão Folkcomunicação para designar as formas de comunicação do folclore, o estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de idéias.

A palavra folclore foi usada pela primeira vez em 22 de agosto de 1848 pelo arqueólogo inglês Willian John Thoms, em carta enviada à revista The Atheneun para designar antiguidades populares. Ou seja, narrativas ou registros dos cantos, dos costumes e usos dos tempos antigos. Para isto, Thoms usou de duas velhas raízes saxônicas: folk, que significa povo e lore, que significa conhecimento, saber, cultura. Assim, folk-lore seria a designação do conjunto dos fatos folclóricos ou sabedoria ou cultura popular. Com o tempo, as duas palavras foram escritas em o hífen, formando uma só: folklore. E, assim, foi usada no Brasil até que a letra k foi substituída pela letra c, com a reforma ortográfica, originando a palavra folclore.

O fato folclórico pode ser representado pelo conjunto das manifestações culturais envolvidas pelo folclore como o traje e as vestimentas regionais, a gastronomia, a habitação, as artes domésticas, o artesanato, as crendices, os jogos, as danças, as músicas, a poesia anônima, o conto popular, a literatura de cordel, o congado, o bumba-meu-boi, a queima de Judas, o linguajar, a medicina rústica, a religiosidade e as festas populares. Ou seja, todo um sistema de pensar, sentir e agir que caracterizam a cultura das classes populares.

Mas todo este conjunto cultural abrangido pelo fato folclórico tem uma característica: ele se comunica, expressa idéias, sentimentos e opiniões. É nesta leitura que se fundamentam os estudos da Folkcomunicação. Entender o sentido das mensagens passadas pelas manifestações culturais do povo brasileiro. O fato folclórico se fundamenta na oralidade, na tradição e no anonimato.

A oralidade é uma das características básicas do fato folclórico. O folclore é transmitido de pais a filhos, através de gerações a gerações pelo processo da comunicação oral. Não existe nada escrito, tudo é passado pelo processo de boca a ouvido através do tempo. Na oralidade, o processo de comunicação é informal e dinâmico, articulado pela proximidade e presença do emissor e do receptor das mensagens.

A tradição é outra característica do folclore. O fato folclórico não nasce hoje, mas existe e co-existe na sociedade através de décadas. É tradicional, mas atualiza-se e incorpora novos elementos de informação e expressão. A antiguidade dá o conteúdo básico, mas a forma incorpora elementos novos de acordo com a evolução da sociedade.

O anonimato é também uma característica básica. Ninguém sabe quem foi o criador do fato folclórico, a sua autoria é ignorada. Muitas expressões, até mesmo músicas são cantadas pelo povo há séculos sem que se saiba a autoria das mesmas. Elas são absorvidas e aceitas pelas classes populares que se perde o elemento de criação individual. Muitas vezes, entretanto, encontramos fatos folclóricos que não são anônimos como os ex-votos, autos-de-fé, abecês e desafios.

A estas características deve se acrescentar a espontaneidade, a informalidade, a plasticidade, a atualidade, a vontade de comunicar alguma mensagem através de código, símbolo, cor ou som.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

BELTRÃO, Luiz - Comunicação e Folclore, SP, Melhoramentos, 1971.
BELTRÃO, Luiz – Folkcomunicação, Porto Alegre, EDIPURS, 2001.
BREGUEZ, Sebastião – Folkcomunicação: resistência cultural na sociedade globalizada. SP. Intercom. 2004.
CASCUDO, Luis da Câmara. BH. Itatiaia. 1980.

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