FATO FOLCLÓRICO E FOLKCOMUNICAÇÃO
Prof. Dr. Sebastião Breguez
E-MAIL: breguez@uai.com.br
Fato folclórico é toda
manifestação cultural das classes populares que tem como base estrutural de
sustentação a oralidade, a tradição e o anonimato. É tudo aquilo que está
abrangido pelo folclore. Luiz Beltrão, ao estudar o folclore, viu nele não
somente uma manifestação cultural, como os antropólogos, mas uma forma de
expressão comunicacional. Daí ele cunhou a expressão Folkcomunicação para designar
as formas de comunicação do folclore, o estudo dos agentes e dos meios
populares de informação de fatos e expressão de idéias.
A palavra folclore foi usada pela
primeira vez em 22 de agosto de 1848 pelo arqueólogo inglês Willian John Thoms,
em carta enviada à revista The Atheneun
para designar antiguidades populares. Ou seja, narrativas ou registros dos
cantos, dos costumes e usos dos tempos antigos. Para isto, Thoms usou de duas
velhas raízes saxônicas: folk, que
significa povo e lore, que significa
conhecimento, saber, cultura. Assim, folk-lore seria a designação do conjunto
dos fatos folclóricos ou sabedoria ou cultura popular. Com o tempo, as duas
palavras foram escritas em o hífen, formando uma só: folklore. E, assim, foi usada
no Brasil até que a letra k foi
substituída pela letra c, com a
reforma ortográfica, originando a palavra folclore.
O fato folclórico pode ser
representado pelo conjunto das manifestações culturais envolvidas pelo folclore
como o traje e as vestimentas regionais, a gastronomia, a habitação, as artes
domésticas, o artesanato, as crendices, os jogos, as danças, as músicas, a
poesia anônima, o conto popular, a literatura de cordel, o congado, o
bumba-meu-boi, a queima de Judas, o linguajar, a medicina rústica, a
religiosidade e as festas populares. Ou seja, todo um sistema de pensar, sentir
e agir que caracterizam a cultura das classes populares.
Mas todo este conjunto cultural
abrangido pelo fato folclórico tem uma característica: ele se comunica, expressa
idéias, sentimentos e opiniões. É nesta leitura que se fundamentam os estudos
da Folkcomunicação. Entender o sentido das mensagens passadas pelas
manifestações culturais do povo brasileiro. O fato folclórico se fundamenta na
oralidade, na tradição e no anonimato.
A oralidade é uma das
características básicas do fato folclórico. O folclore é transmitido de pais a
filhos, através de gerações a gerações pelo processo da comunicação oral. Não
existe nada escrito, tudo é passado pelo processo de boca a ouvido através do
tempo. Na oralidade, o processo de comunicação é informal e dinâmico,
articulado pela proximidade e presença do emissor e do receptor das mensagens.
A tradição é outra característica
do folclore. O fato folclórico não nasce hoje, mas existe e co-existe na
sociedade através de décadas. É tradicional, mas atualiza-se e incorpora novos
elementos de informação e expressão. A antiguidade dá o conteúdo básico, mas a
forma incorpora elementos novos de acordo com a evolução da sociedade.
O anonimato é também uma
característica básica. Ninguém sabe quem foi o criador do fato folclórico, a
sua autoria é ignorada. Muitas expressões, até mesmo músicas são cantadas pelo
povo há séculos sem que se saiba a autoria das mesmas. Elas são absorvidas e
aceitas pelas classes populares que se perde o elemento de criação individual.
Muitas vezes, entretanto, encontramos fatos folclóricos que não são anônimos
como os ex-votos, autos-de-fé, abecês e desafios.
A estas características deve se
acrescentar a espontaneidade, a informalidade, a plasticidade, a atualidade, a
vontade de comunicar alguma mensagem através de código, símbolo, cor ou som.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
BELTRÃO, Luiz - Comunicação e Folclore, SP,
Melhoramentos, 1971.
BELTRÃO, Luiz – Folkcomunicação, Porto Alegre, EDIPURS,
2001.
BREGUEZ, Sebastião –
Folkcomunicação: resistência cultural na sociedade globalizada. SP. Intercom.
2004.
CASCUDO, Luis da Câmara. BH.
Itatiaia. 1980.
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