quinta-feira, 4 de maio de 2017

A FORÇA ECONÔMICA DO FOLCLORE

A força econômica do Folclore

Sebastião Breguez




 O mês de agosto é comemorado no mundo inteiro como o mês do Folclore, das tradições populares e das culturas regionais. A UNESCO, organização da ONU para assuntos de Educação e Cultura, situada em Paris, instituiu esta comemoração para impedir a destruição de culturas locais pelo processo de expansão industrial do mundo desenvolvido.

Mas nem só de comemorações vive a cultura popular: o Folclore tem se transformado em importante item de fonte de lucro e renda para as comunidades regionais, provocando impacto nas pequenas economias das cidades onde existem manifestações importantes. A festa do Boi-Bumbá, em Parintins (AM) é o exemplo mais importante: ela movimenta cerca de R$10 milhões nos seis a oito dias de festejos, entre junho e julho de cada ano. A festa do peão boiadeiro de Barretos (SP) tem investimentos de R$8 milhões para um lucro de R$15 milhões.

Se pensarmos que existem, em todo o País, 1,3 mil festas cadastradas pelos órgãos de turismo, o lucro estimado delas é calculado em US$3 bilhões. Estes dados já nos mostram a força econômica do Folclore que reanima as pequenas economias de localidades sem atividade econômica de peso tanto na indústria quanto no comércio. Quando se fala de investimento econômico na área da cultura no Brasil, pensa-se logo no Carnaval que sozinho já movimenta cerca de R$2 bilhões por ano, sendo que metade desta cifra fica no Rio de Janeiro.

Mas o crescimento de atividades econômicas intimamente às manifestações culturais populares também se deve ao crescimento urbano, a migração para as grandes cidades e a importância da mídia na vida das pessoas. Isto mostra o impacto que a tv como mídia teve na transformação das pessoas nos últimos anos, criando novos valores de consumo e mudando o comportamento das pessoas com relação a cultura.

É interessante observar que, no Brasil, a globalização não destruiu as culturas regionais. Mas, ao contrário, provocou um fenômeno inverso de revitalização do tradicional, da busca da natureza, das festas do interior e do consumo de manifestações populares antes desprezadas. Bem entendido com o apoio da mídia televisiva e o patrocínio de grandes empresas. O que fez com que, por exemplo, a Coca-Cola, uma empresa multinacional, compra-se a ideia da festa do Boi-Bumbá, de Parintins (AM) e associa-se sua marca à festa. As duas agremiações de bois, a do Caprichoso e do Garantido, recebem patrocínio de R$800 mil cada para incrementar o duelo.

Assim, cada apresentação destes grupos tem custo de R$3 milhões, o que é uma cifra importante se olharmos a renda da população de Parintins fora da época da festa. O guaraná Kuat, da Coca-Cola teve sua imagem fortalecida e associada à festa de Parintins, para ser consumido como produto original da Amazônia Também tem patrocinado a festa outras empresas como o Banco Bradesco, a Amazônia Celular, a Souza Cruz e outras. Dessa forma, a festa movimenta o pequeno comércio, a área de alimentação, hotelaria, artesanato, construção civil, agências de viagens e turismo. A cidade mudou em função da manifestação folclórica local. Ganhou celebridade nacional e até mesmo internacional, pois, há grande afluxo de turistas de outros países que querem conhecer mais a Amazônia e seus atrativos.


Isto vem mostrar que o Folclore não é somente o tradicional e o resíduo do ultrapassado que ainda sobrevive na sociedade moderna em função da transição forte do rural ao urbano dos países do Terceiro Mundo. Há uma forte busca de consumo de valores rurais, produtos da roça, comidas típicas e a vida mais natural. Isto se transforma em valores de consumo que mudam o ritmo da vida interiorana, aquecendo as economias e as culturas locais.

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