A força econômica do Folclore
Sebastião Breguez
O mês de agosto é
comemorado no mundo inteiro como o mês do Folclore, das tradições populares e
das culturas regionais. A UNESCO, organização da ONU para assuntos de Educação
e Cultura, situada em Paris, instituiu esta comemoração para impedir a
destruição de culturas locais pelo processo de expansão industrial do mundo
desenvolvido.
Mas nem só de comemorações vive a cultura popular: o Folclore
tem se transformado em importante item de fonte de lucro e renda para as
comunidades regionais, provocando impacto nas pequenas economias das cidades
onde existem manifestações importantes. A festa do Boi-Bumbá, em Parintins (AM)
é o exemplo mais importante: ela movimenta cerca de R$10 milhões nos seis a
oito dias de festejos, entre junho e julho de cada ano. A festa do peão
boiadeiro de Barretos (SP) tem investimentos de R$8 milhões para um lucro de
R$15 milhões.
Se pensarmos que existem, em todo o País, 1,3 mil festas
cadastradas pelos órgãos de turismo, o lucro estimado delas é calculado em US$3
bilhões. Estes dados já nos mostram a força econômica do Folclore que reanima
as pequenas economias de localidades sem atividade econômica de peso tanto na
indústria quanto no comércio. Quando se fala de investimento econômico na área
da cultura no Brasil, pensa-se logo no Carnaval que sozinho já movimenta cerca
de R$2 bilhões por ano, sendo que metade desta cifra fica no Rio de Janeiro.
Mas o crescimento de atividades econômicas intimamente às
manifestações culturais populares também se deve ao crescimento urbano, a migração
para as grandes cidades e a importância da mídia na vida das pessoas. Isto
mostra o impacto que a tv como mídia teve na transformação das pessoas nos
últimos anos, criando novos valores de consumo e mudando o comportamento das
pessoas com relação a cultura.
É interessante observar que, no Brasil, a globalização não
destruiu as culturas regionais. Mas, ao contrário, provocou um fenômeno inverso
de revitalização do tradicional, da busca da natureza, das festas do interior e
do consumo de manifestações populares antes desprezadas. Bem entendido com o
apoio da mídia televisiva e o patrocínio de grandes empresas. O que fez com
que, por exemplo, a Coca-Cola, uma empresa multinacional, compra-se a ideia da
festa do Boi-Bumbá, de Parintins (AM) e associa-se sua marca à festa. As duas
agremiações de bois, a do Caprichoso e do Garantido, recebem patrocínio de
R$800 mil cada para incrementar o duelo.
Assim, cada apresentação destes grupos tem custo de R$3
milhões, o que é uma cifra importante se olharmos a renda da população de
Parintins fora da época da festa. O guaraná Kuat, da Coca-Cola teve sua imagem
fortalecida e associada à festa de Parintins, para ser consumido como produto
original da Amazônia Também tem patrocinado a festa outras empresas como o
Banco Bradesco, a Amazônia Celular, a Souza Cruz e outras. Dessa forma, a festa
movimenta o pequeno comércio, a área de alimentação, hotelaria, artesanato,
construção civil, agências de viagens e turismo. A cidade mudou em função da
manifestação folclórica local. Ganhou celebridade nacional e até mesmo
internacional, pois, há grande afluxo de turistas de outros países que querem
conhecer mais a Amazônia e seus atrativos.
Isto vem mostrar que o Folclore não é somente o tradicional e
o resíduo do ultrapassado que ainda sobrevive na sociedade moderna em função da
transição forte do rural ao urbano dos países do Terceiro Mundo. Há uma forte
busca de consumo de valores rurais, produtos da roça, comidas típicas e a vida
mais natural. Isto se transforma em valores de consumo que mudam o ritmo da
vida interiorana, aquecendo as economias e as culturas locais.
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