quarta-feira, 25 de março de 2015

CRISE NA IMPRENSA MINEIRA - A AGONIA DO 'ESTADO DE MINAS'


CRISE NA IMPRENSA MINEIRA
A AGONIA DO JORNAL'ESTADO DE MINAS'

ihttp://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed843_a_crise_na_soleira_do_estado_de_minas
 

 

IMPRENSA MINEIRA

A crise na soleira do ‘Estado de Minas’

Por Sebastião Breguez em 24/03/2015 na edição 843
 
 

O tradicional jornal mineiro Estado de Minas, carro-chefe dos Diários Associados, antigo império da imprensa de Assis Chateaubriand, está à beira da falência. Os rumores de sua crise financeira são antigos. Já se falava, há alguns anos, que o jornal estava à venda, procurando um grupo empresarial para tocar a empresa. Mas nenhum comprador apareceu até agora. Hoje, no cume de sua agonia, colocou sua sede à venda e já começou processo de demissões de jornalistas e funcionários administrativos. O jornal completou 87 anos de circulação no último dia 7 de março em meio à maior crise que já enfrentou em sua história. O diário começou a circular em 7 de março de 1928.
 
Nas últimas eleições, o jornal deixou de lado a sua neutralidade – característica do seu perfil tradicional e conservador, que é a base da ética mineira – para apoiar abertamente Aécio Neves à Presidência da República. Publicou reportagens com grandes manchetes na primeira página sobre o envolvimento do PT na corrupção, em geral, e em especial na Petrobras. Naturalmente, com o resultado das eleições, sua opção comercial não contribuiu para sua sobrevivência empresarial. Pois o PT, que foi atacado, venceu para o governo de Minas e para a Presidência da República. Assim, o jornal ficou fora do loteamento da verba publicitária governamental em nível estadual e federal.

Mas isso não é só a causa principal de sua falência empresarial. As empresas mineiras enfrentam problemas com a crise nacional e internacional, e diminuíram as inserções de anúncios na mídia em geral. A Fiat, a VS Tubos, a Gerdau-Açominas, a Usiminas e outras estão em crise e dando férias coletivas a seus funcionários. Também estão demitindo. O que contribui para a diminuição do volume da publicidade para a imprensa em geral. Mas a crise do Estado de Minas não é de hoje, e sim resultado de décadas de erros e tentativas comerciais e editoriais mal pensadas.

Promiscuidade suspeita
 
Lembro-me que, há dez anos, levei meus alunos de jornalismo para uma visita ao Estado de Minas. O editor-geral, João Bosco Martins, foi o anfitrião. Em sua palestra no auditório do jornal, disse que estava difícil vender jornal impresso e que a publicidade estava em baixa. Já alertava os alunos e futuros profissionais do jornalismo sobre a crise da imprensa escrita e a retração do mercado de trabalho do setor. Também já trabalhei no jornal, no Segundo Caderno (Cultura), nos anos 1970, numa época que reinava sozinho e era o todo-poderoso diário das Gerais.

Mais antigo, tradicional e conservador jornal de Minas Gerais, o Estado de Minas é mais um exemplo da decadência da mídia impressa. Está procurando comprador para o edifício onde está instalada sua redação. Trata-se de um prédio na Avenida Getúlio Vargas, na Savassi, um dos pontos mais valorizados de Belo Horizonte. De acordo com fontes do mercado imobiliário local, o jornal dos Diários Associados estaria pedindo R$ 50 milhões, mas teria ofertas de, no máximo, R$ 30 milhões. (A sede original do jornal, na Rua Goiás, no centro da capital mineira, ainda pertence ao grupo.)

A venda da sede do Estado de Minas é mais um capítulo da crise da mídia impressa. O jornal enfrenta uma crise de credibilidade, custos crescentes, queda de circulação e diminuição da receita publicitária. A direção do grupo deve transferir a redação para a sede da TV Alterosa, retransmissora do SBT em Minas Gerais. Outros jornais mineiros, como o Hoje em Dia e O Tempo, também passaram por reestruturações empresariais, corte de pessoal e alteração do formato e estilo de redação na luta pela sobrevivência.

A crise financeira do Estado de Minas, entretanto, começou em 1987. O então governador Newton Cardoso, no início de seu mandato, resolveu mudar as regras de jogo da publicidade oficial de Minas Gerais. Não pagou adiantado, como fizeram seus antecessores, o valor anual da verba publicitária destinada aos Diários Associados (jornal Estado de Minas, Rádio Guarani e TV Alterosa). A tradição era o governo pagar adiantado o valor da publicidade anual em março-abril. Coube à Secretaria da Fazenda de Minas informar ao então presidente dos Diários Associados, Camilo Teixeira da Costa. Uma semana depois, começou a retaliação. O jornal fez a primeira reportagem de denúncia contra Newton Cardoso, mostrando uso de caminhões do DER-Departamento de Estradas de Rodagem para levar material a sua fazenda no Sul da Bahia.

A guerra Estado de Minas vs. Newton Cardoso começou e acabou virando caso de polícia e de baixaria. O jornal fez reportagens mostrando que Newton era truculento e estuprador. Newton retrucou com matérias pagas em outros jornais escancarando o processo de separação conjugal de Camilo Teixeira da Costa, por este ter sido encontrado por sua esposa em plena intimidade com funcionário em sua residência em Santa Luzia, na Grande BH.
 
Em paralelo, Newton Cardoso montou um império de comunicação em Minas Gerais para combater o Estado de Minas. Comprou as máquinas da antiga Última Hora, do Rio, e criou o diário Hoje em Dia. Montou ainda outra publicação: comprou a marca Diário de Minas e ressuscitou o velho jornal mineiro. O valor da verba publicitária, que era dada ao grupo Diários Associados, foi realocada para esses jornais e também para outros veículos, como Diário do Comércio, SBT e TV Globo. Mas não parou aí: equipou o jornal Minas Gerais, da Imprensa Oficial de MG, contratou os melhores jornalistas, com bons salários, e também atrações de vários veículos, como Jornal do Brasil.

Tive oportunidade de testemunhar isso porque trabalhei, na época, no jornal Minas Gerais, como editor, e no Diário de Minas, também como editor. O ano de 1987 foi uma revolução na mídia em Minas Gerais. Houve uma transformação brusca no formato jornal mineiro, em todos os sentidos. A mídia impressa ganhou cara nova com introdução de fotos coloridas, reportagens investigativas, e foi mudando o estilo de redação jornalística e a apresentação gráfica. O jornal Hoje em Dia revolucionou a estética jornalística mineira com fotos coloridas, menos texto e mais imagens.

O conservador e tradicional Estado de Minas, sem a gorda verba publicitária do governo, também teve que mudar. Passou a fazer reportagens investigativas sobre a corrupção no governo Newton Cardoso. Também mudou a apresentação gráfica e introduziu fotos coloridas. Começou a fazer mais jornalismo e não propaganda institucional do governo. Até 1987, era tradição em Minas de que o editor de Política do Estado de Minas fosse nomeado chefe da Assessoria de Imprensa do governo. O editor de Cultura era nomeado assessor de imprensa da Secretaria Estadual de Cultura. Enfim, os editores do jornal assumiam a comunicação governamental. Os releases que produziam para divulgação das ações governamentais eram publicados na íntegra no Estado de Minas.

Crise internacional

Se a briga entre o Estado de Minas e Newton Cardoso resultou na perda de arrecadação do jornal, outro conflito veio piorar ainda mais a situação do tradicional diário mineiro. Foi uma série de reportagens-denúncia contra o deputado Vittorio Medioli, dono da Sada, transportadora oficial da Fiat Automóveis e de outras empresas. Medioli resolveu criar um novo jornal – O Tempo. Prometeu, na época, acabar como império do Estado de Minas. Comprou máquinas modernas e instalou em Betim, na Grande BH, o seu jornal com modelo dinâmico e arrojado projeto editorial. Entrou na briga pelo mercado de leitores e de publicidade na tradicional Minas Gerais.

Nos dias atuais, como se viu nas últimas eleições, o Estado de Minas deixou sua neutralidade para apoiar abertamente o candidato Aécio Neves. Mas o PSDB, partido de Aécio, perdeu o governo de Minas e a Presidência da República. As reportagens que o jornal publicou no período das eleições eram contra a candidatura de Dilma Rousseff e procuravam associar a corrupção política ao PT. Foi uma estratégia errada, porque quem ganhou as eleições foi o PT. O Estado de Minas, mais uma vez, perdeu a participação dos anúncios do governo que sempre representaram uma forte fonte de renda do jornal.

A verba publicitária mineira se diluiu com a concorrência de jornais diários em Minas Gerais. A crise dos anos 1990, com a globalização, o surgimento da internet e das ferramentas da tecnologia digital, minaram mais ainda o cenário da imprensa mineira. A queda de leitura da informação impressa e a concorrência da informação digital colocaram mais pimenta no caldo.

Os jornais impressos estão passando por uma crise desde que explodiu a globalização nos anos 1990. Mas também em função das novas tecnologias da informação. Estamos no final da Civilização Gutenberg, que é a civilização da cultura impressa no papel. Ingressamos na Civilização Digital, no mundo cibernético em todos os sentidos. Há até um estudo da Future Exploration Network (EUA) que prevê o fim do jornal impresso no Brasil em 2027. Claro, o jornal impresso nunca deixará de existir. Ele está se adaptando em termos de formato, apresentação visual e técnica de redação.

A grande imprensa nacional também está em crise. A revista Veja e O Estado de S.Paulo estão em crise. O Estadão após “pesquisas qualitativas e entrevistas em profundidade com diversos setores da sociedade”, resolveu enxugar a publicação e acabar com vários cadernos. Com isso, o diário da família Mesquita demitiu dezenas de jornalistas. Assim, a crise não é só financeira, mas também de credibilidade, porque o número de assinantes e de venda em banca estão caindo vertiginosamente. Nos Estados Unidos, o Washington Post também colocou à venda a sua sede para superar a crise. Sem falar nas movimentações do Le Monde, na França, do El País, na Espanha, do Corriere della Sera, na Itália e outros. A crise não é só brasileira ou mineira: é internacional e tem seus agravantes regionais e locais.

Dispositivos móveis

Alguns jornais eliminaram as edições impressas, como o Jornal do Brasil, no Rio, o Diário da Tarde, em Belo Horizonte, e outros. Os demais jornais, além da edição impressa, mantêm uma edição digital em seus portais. Ali, as principais notícias são estampadas com destaque, com texto curto, ilustração e imagem chamativa. Com a explosão da informação online, jornais, rádios e TVs mantêm edições digitais. Há também grande crescimento de portais de informação, como UOL ou UAI, que apresentam as principais notícias do Brasil e do mundo, atualizadas várias vezes ao dia. Esta revolução da informação eletrônica enfraquece o modelo antigo e tradicional da notícia em papel, acentuando a crise da civilização impressa. O mercado da informação eletrônica está em alta, com grande competitividade e concorrência. Vence quem consegue ter mais acessos e, com isso, maior volume de publicidade.

Em Minas Gerais, os jornais Hoje em Dia eO Tempo mudaram de formato, do tamanho standard (cópia do modelo gráfico de jornais norte-americanos) para tabloide (característico dos jornais europeus e da América Latina). Também em Minas Gerais surgiram dois novos jornais tabloides de preço baixo (R$ 0,25) com notícias de apelo popular – Super e Aqui. Eles são sucesso de vendas em Belo Horizonte. Sua receita de jornalismo: formato tabloide, texto curto, notícias sensacionalistas de crime e paixão e foto de belas e sensuais mulheres seminuas na primeira página. Ambos também mantêm uma edição digital em seus sites.
 
De resto, esta é mais uma crise no mundo da mídia impressa no Brasil e no mundo. No Brasil, as razões que sustentam a perda do leitor da mídia impressa são o desenvolvimento tecnológico econômico, o crescimento urbano e a desigualdade socioeconômica. Há também outros fatores como a absorção da tecnologia, o desenvolvimento da banda larga, a penetração de smartphones e tablets, a receita de publicidade no jornal, o suporte para a mídia, censura e comportamento do consumidor.

O aparelho de celular incorporou as mídias tradicionais como jornal, rádio, TV e cinema, revolucionando a sociedade informacional. Na verdade, toda era de mudanças de paradigmas leva a previsões realistas e imaginárias. O jornal impresso deve se adaptar às novas mudanças tecnológicas e culturais para enfrentar a nova realidade do leitor do século 21. E sobreviver. 

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Sebastião Breguez é jornalista e professor universitário em Belo Horizonte.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

ENSAIOS JORNALÍSTICOS - UM ESTUDO SOBRE A REDAÇÃO JORNALÍSTICA

www.ufjf.br/facom/files/2013/03/R9_Breguez.
REVISTA LUMINA, FACOM/UFJF, Vol 5, Nº 2.
 
ENSAIOS JORNALÍSTICOS

Sebastião Breguez


 

>Análise das mudanças no estilo de redação dos jornais recentes. Conceituação do novo gênero jornalístico denominado pelo autor de ensaios jornalísticos. Como os estilos de redação se desenvolveram na história do jornalismo desde o final do século XIX. Os três estilos clássicos: informativo, interpretativo e opinativo. Balanço dos modelos de redação desenvolvidos no jornalismo contemporâneo.

Jornalismo – Estilos de Redação – História

 

>Analysis of changes occurred in writing styles of late years’ newspapers. The new journalistic gender named by the author as Journalistic Essays. How writing styles developed through the history of journalism since the end of the 19th century. The three classical styles: informative, interpretative and opinative. Account of writing models developed in contemporary journalism.

Journalism – Writting Styles – History

 

 

            O tema que abordo, neste artigo, está relacionando com as recentes mudanças no estilo jornalístico de redação de notícias e o apare­­cimento de um novo gênero que chamamos de Ensaios Jorna­lísticos e tentarei, nas próximas linhas, expor minhas ponderações teóricas sobre o assunto. Fiz breve pesquisa biblio­gráfica sobre o assunto em livros, revistas e também pela internet e não encontrei nenhuma referência nem em forma de artigo sobre o assunto e nem mesmo livro. Portanto, é tema novo nas recentes refle­xões sobre o jornalismo e, sobretudo, sobre o novo estilo jorna­lístico e o novo fazer-jornal. Dessa forma, vou tentar dar uma contri­­buição a esta recente preocupação dos teóricos sobre as mudanças que têm ocor­rido na formatação do jornal enquanto produto editorial com seus vários gêneros de informação, inter­pretação, opinião e entrete­ni­mento. Costumo dizer que hoje o marketing domina também a atividade editorial, procurando adequar o produto jornalístico às necessidades do mercado e do consumidor.

            Segundo o Novo Dicionário Aurélio, “é um estudo sobre deter­mi­nado assunto, porém, menos aprofundado e/ou menor que um tratado formal e acabado”.  Assim, ensaios jornalísticos seriam algo mais que a redação seca de uma notícia ou de uma reportagem. Seriam matérias jornalísticas mais literárias, mais profundas que as notícias de jornal, mas que iriam compor o jornal diário como forma de enri­quecer o produto jornalístico com variedade. Normalmente, os ensaios aparecem mais nos fins-de-semana como, por exemplo, no caderno MAIS da Folha de S. Paulo, no caderno PENSAR, do Estado de Minas ou mesmo em outros Cadernos de Cultura de outros jornais. No Brasil, quem inaugurou o Caderno de Cultura foi o Jornal do Brasil, no final da década de 60, o famoso CADERNO B, no qual se iniciou o gênero ensaios jornalísticos, explorando temas literários, mas também música, teatro, cinema ou artes plásticas.

            Estão também entre os ensaios jornalísticos, as páginas de OPINIÃO que hoje constituem uma grande atração dos jornais. Elas se dividem em duas partes: uma da Opinião do Leitor, que escreve para a redação sobre temas de seu interesse, contribuindo para participar também da confecção do jornal. E a Opinião de perso­­na­lidades expressivas da opinião pública nacional em seus variados setores: política, economia, direito, saúde, segurança, cultura, edu­cação etc. Estas celebridades estão sempre colaborando com os jornais, escrevendo ensaios sobre temas de interesse do momento.

            No jargão jornalístico, de origem inglesa, vem a expressão FEATURES, no sentido de Ensaios Jornalísticos. A palavra quer dizer, em tradução literal, “feição fisionômica”. Assim, feature é toda matéria sobre assuntos variados, cujo valor jornalístico necessariamente não está ligado ao dia de sua ocorrência. É uma matéria jornalística de maior durabilidade, ou então, menos perecível que uma notícia comum do cotidiano (como política ou economia). Pode ser guardada para publicação daqui a uma semana ou mais porque não perde a atualidade e o interesse. Quando sobrar espaço ou faltar matéria mais perecível, ai publica-se o feature. São as chamadas, aqui nas redações brasileiras, de matérias-frias ao contrário de matérias quentes. Na prática, são identificadas como features as notícias, notas, crônicas ou artigos de variedades publicadas pelo caderno de cultura dos jornais. Também se incluem ai as tiras de quadrinhos, colunas de passatempo, horóscopo, coluna social, conselhos médicos, decoração, culinária, xadrez, curiosi­dades, etc. Existem empresas jornalísticas que fornecem este tipo de informação especializada para os jornais (agências de features).

            Também existe a expressão do francês FAIT-DIVERS, fatos diversos, que se enquadra nesta categoria. Com esta denominação  se encontram as notícias que despertam interesse do leitor por impli­car rompimento insólito ou extraordinário do curso cotidiano dos acontecimentos. São matérias localizadas no caderno CIDADES ou no de COTIDIANO ou nas secções de POLÍCIA.  Muitos jornais ampliam o destaque destas matérias para criar sensa­cio­nalismo e vender jornal. Normalmente os jornais vesper­tinos, como o Diário da Tarde, de Belo Horizonte.  Assim, o crime passional, a briga de rua, o atropelamento, o assalto. O francês Roland Barthes, teórico das Ciências da Comunicação e da Semio­logia moderna, transformou o termo em conceito semiológico para explicar os fatos aberrantes da vida cotidiana: “matou a família e foi ao cinema”, “pai estupra filha”, “empregada faz ensopado de criancinha”, “médico mata moça com estetoscópio”, “vadio faz missa negra em igreja: bebe vinho do padre, come hóstia, urina e defeca no altar”, “moça embebeda o pai para ter relação sexual” ou “galo muda de sexo e bota ovo”.

            Todos sabemos que o jornalismo tem como função básica  informar seu público-leitor sobre fatos e acontecimentos da atua­lidade. Desde que o jornal apareceu como produto editorial e se aprimorou na busca de qualidade de atender a este objetivo, muitas modificações lhe foram impostas através dos séculos, seja através do surgimento e incorporação de inovações tecnológicas, seja através de mudanças no comportamento do consumidor (no caso, o leitor) ou mesmo concorrência entre veículos de informação. A concorrência com os meios audiovisuais tem forçado os jornais a uma busca constante de avaliação para e-feito de mudanças que atendam as novas necessidades e expectativas do leitor. Não podemos esquecer que vivemos na civilização da imagem e do conhecimento. Os meios impressos de informação, para sobreviver, têm que se adaptar e criar novas alter­nativas de consumo da informação.

            Embora o jornalismo impresso tenha sido considerado o quarto poder de Estado, hoje em dia está colocado em segundo plano em relação ao rádio e à televisão. Por isso, para estar em dia com o leitor e concorrer com os meios audiovisuais, teve que buscar inovações e criar novas alternativas editoriais. Assim, o jornalismo impresso moderno se assemelha ao praticado nos primeiros tempos da história desse meio de comunicação. Ou seja, o jornal hoje tem de oferecer ao leitor não somente informes, mas também variedades, interpretação dos fatos e opinião.

            O pesquisador espanhol José Luís Martinez Albertos já dizia que o jornalismo constitui, por si mesmo, estilo literário específico, regulado por três fatores:

            - a tradição - é o modo como os jornais apresentam as notícias desde o aparecimento da Imprensa;

            - as qualidades pessoais do repórter ou jornalista - que escreve e redige as notícias impondo a cada redação seu estilo pessoal;

            - a expectativa do leitor - em todos os jornais se escreve tendo em vista o leitor. A mensagens (notícias) devem ser entendidas de forma rápida e eficaz.

            O jornalista deve ter em mente os conselhos da escola de oratória de Cícero e Quintiliano, que afirmavam que o ponto culminante do estilo está na clareza, na beleza e justa proporção das palavras e frases. Ou seja, o jornalista é aquele que se dispõe a escrever de modo a tornar a leitura interessante e atrativa. O objetivo é captar o leitor, fazê-lo interessar-se pela leitura.

 

            Estilo e Gêneros

            Podemos distinguir três estilos dentro do jornalismo: o estilo infor­mativo, o de solicitação de opinião (opinativo) e o que chama­mos ensaios jornalísticos (mais literário e criativo). Cada qual é dividido em gêneros. Assim:

1. Estilo: Informativo

- gênero: informação, notícia,  reportagem,

2. Estilo: Opinativo

- gênero: artigo, comentário, editorial, crônica, reportagem investigativa.

3. Estilo: Ensaios Jornalísticos

-          gêneros literários não especificamente jornalísticos: novelas, contos, humor, ensaios, narração de costumes. Aqui se situam os ensaios jornalísticos sejam eles de literatura propriamente dita, de música, de teatro, cinema ou artes plásticas.

 

            O Aparecimento Histórico dos Gêneros

            Os gêneros jornalísticos, tais como aparecem hoje em dia, são resultado de lenta elaboração histórica que está intimamente rela­cionada com a evolução do próprio conceito de jornalismo.

            A história do jornalismo, a partir dos meados do século XIX, apresenta perfeita relação com o desenvolvimento total da sociedade. Podemos dividi-la em três fases: jornalismo ideológico, jornalismo informativo e jornalismo interpretativo.

            A primeira etapa (jornalismo ideológico) tem seu fim marcado pela I Grande Guerra. Jornalismo doutrinário e moralizador, é feito com ânimo proselitista a serviço de idéias políticas e lutas ideológicas. Trata-se de imprensa pouco informativa e cheia de comentários.

            A segunda etapa (jornalismo informativo) aparece até 1870 como fenômeno definido e coexiste durante algum tempo com o jornalismo ideológico. Entre 1870 e 1914 vai-se perfilando, primeiro na Ingla­terra e depois nos Estados Unidos, um novo estilo de jornalismo que se apóia de modo fundamental na narração ou relato de fatos e acontecimentos. O desenvolvimento progressivo da indús­tria e da técnica leva o estilo informativo a impor-se definitivamente a partir da década de 20 em todo o mundo.

            A terceira etapa (jornalismo interpretativo) aparece depois de 1945. O jornalismo se reveste de novo caráter: a profundidade. Diante da imprensa sensacionalista surge com vigorosa força, na década de 50, o jornalismo interpretativo. Tal gênero procura utilizar os ele­mentos tanto do estilo informativo quanto do comentário, para levar o leitor a se situar pe-rante os acontecimentos, conduzindo seu raciocínio e orientando sua análise da realidade.

 

            Informação

            O estilo informativo está em relação com o início do jornalismo desde o seu aparecimento. Por isto é considerado por alguns como se fosse o próprio estilo jornalístico. A razão de semelhante confusão reside no fato de alguns considerarem apenas o início da imprensa quando tinha somente a finalidade de informar. A imprensa progrediu e hoje, para fazer frente ao rádio e à televisão, o jornalismo impresso não pode contentar-se em ser apenas informativo, como era no início. A razão de existir hoje a linguagem jornalística deve-se à razão sentida por alguns escritores que tiveram de adaptar as formas de expressão literária de sua época ao principal objetivo de toda atividade profissional da imprensa: transmitir notícias com eficácia e economia de palavras. Surge, assim, o jornalismo estritamente informativo, o estilo que na verdade estabelece algumas bases diferenciais diante de outros afins (os chamados por Glória Toranzo Teleoremas estéticos - gêneros poéticos, épicos, líricos ou dramáticos - e teleoremas noéticos, muito próximos do jornalismo: his-tória, ensaio, oratória etc.). Para este propósito, geração após geração de jornalistas foram trabalhando e construindo as normas, o código lingüístico peculiar à imprensa. E este có-digo se concebeu, originariamente, para a elaboração de notícias e surgiu o estilo informativo. Sua força é tão poderosa que cria nova forma de expressão literária, com regras que acabam influindo no estilo opinativo. Este abandona seus esquemas anteriores, típicos do gênero literário denominado ensaio, e situa-se como características que o diferenciam dentro da linguagem jornalística.

            O estilo informativo teve, desde o início, três objetivos básicos em que buscava firmar-se: naturalidade de expressões, clareza e concisão. É fácil imaginar que o aprendizado coletivo das primeiras gerações de jornalistas em busca da maior clareza acabou crista­lizando-se nessa forma peculiar de expressão literária.

            Alguns autores, como Gonzalo Martin Vivaldi (3), enumeram as qualidades e requisitos do bom texto jornalístico. Os quesitos seriam: 1. clareza; 2. concisão; 3. densidade; 4. exatidão; 5. precisão; 6. simplicidade; 7. neutralidade; 8. originalidade; 9. brevidade; 10. variedade; 11. atração; 12. ritmo; 13. cor; 14. sonoridade; 15. detalhismo; 16. correção e propriedade.

            De maneira geral os estudiosos consideram pelo menos três dos requisitos citados acima como básicos para a redação jornalística: concisão, clareza e construção que capte a atenção. A. Concisão - A concisão, no estilo informativo, consegue-se com expressões objetivas e vigorosas. Resulta do uso de palavras indispensáveis, justas e significativas para expressar o que se deseja comunicar. As frases devem ser apoiadas ao núcleo nominal, pois a construção nominal permite elaborar estilo direto e objetivo. B. Clareza - A clareza nasce da frase curta que se apóia na construção sintética com predo­mínio verbal, especialmente a forma ativa dos verbos. O estilo infor­mativo caracteriza-se pela busca do mais alto nível de clareza expositiva. C. Construção que cative a atenção - A forma de estilo que cative a atenção do leitor tem como princípio a clareza. Tecnicamente deve-se escrever o mais importante na primeira linha, depois, na outra, o menos importante, e assim por diante. Esta forma de redação jornalística é o que se chama pirâmide invertida, em cujo parágrafo inicial - lead - o repórter oferece ao leitor um resumo completo dos elementos básicos que estão presentes naquilo que escreve - fato, fenômeno ou acontecimento. Para que a notícia conserve sua inte­gridade objetiva podemos recordar as perguntas que os criminalistas fazem quando trabalham em algum caso: o que, quando, onde, como, quem, por que são perguntas que o lead deve responder. E responder com o menor número de palavras possíveis. Outro fator que influi ou que torna o texto agradável, e intervém no interesse do leitor, é a forma de descrição que deve ser o mais real possível e viva, escrita com riqueza de vocabulário.

 

            Opinião (ou solicitação de opinião ou interpretação)

            O trabalho jornalístico - sabemos - consiste em reunir, classificar e dar forma às notícias de interesse público. Aqui se contêm as três tarefas específicas do fazer jornalístico, cada uma das quais dá origem a tipos humanos acentuadamente diferenciados: o repórter, o redator e o editor.

            A tarefa mais antiga e primordial é a busca de notícias. Quem a realiza é o repórter. O redator, por sua vez, organiza e ordena as notícias de que dispõe, seleciona e faz revisão do material que lhe chega às mãos e escolhe as que são mais importantes. Finalmente, a terceira tarefa é desempenhada pelo editor, o jornalista encarregado de dar forma e alcance à notícia. Os editores são aqueles que procuram apreciar exatamente o valor geral, político e cultural do acontecimento e interpretam segundo a linha editorial do jornal em que trabalham. O termo editor engloba a mesma denominação jorna­listas diferentes: são editores os que estritamente escrevem os edito­riais do jornal, os críticos, os comentaristas e os analistas polí­ticos. Na verdade, em resumo, os editores são aqueles que interpretam as notícias (acontecimentos) em função da linha de orientação ideológica do jornal. É obrigação dos editores pensar e escrever como se fossem a consciência do jornal, pois, na verdade, têm a incum­bência de ajudar o público a entender a importância de uma imprensa livre e responsável.

            Atualmente, a técnica de editar matérias jornalísticas mais em uso é chamada jornalismo interpretativo. O jornal se esforça por proporcionar ao leitor todos os elementos para o melhor enten­dimento e conhecimento do tema. Orienta-lhe o julgamento para as conclusões que o jornal aponta levemente, sem querer converter-se em dono da verdade. Esta forma goza de crédito na imprensa liberal do Ocidente e aparece vinculada a uma espécie de reportagem de profundidade.

            O estilo editorial, segundo os teóricos, não está e não deve estar sujeito a nenhum condicionamento estilístico. A página editorial sofre poucas restrições porque as matérias opinativas variam muito tanto em estilo como em organização. Assim, seria perda de tempo tentar estabelecer um modelo típico de editorial.

            Apesar de tudo, é evidente que o editorial enfrenta algumas limitações. O editorialista tem que considerar o público a que se destina o jornal, e o efeito que busca produzir nesse público. Pode­ríamos considerar, ainda, três limitações:

            - preocupação com o início e o fim do editorial;

            - submissão às regras de redação adotadas pelo jornal;

            - respeito à liberdade de resposta do leitor.

 

            Ensaios jornalísticos

     Aqui se situam os ENSAIOS JORNALÍSTICOS. Chamamos também de folhetinismo, ou estilo de folhetim. Tem como finalidade entreter o leitor com ensaios sobre temas culturais (literatura, música, teatro, cinema, artes plásticas etc), além de oferecer novelas, cartuns, charges, contos, enfim matérias jornalísticas que ofereçam lazer. Pela necessidade de atrair o leitor, o jornal de hoje não pode deixar de manter seções literárias, artísticas, desenhos, etc. De qualquer forma, a natureza do jornal e sua postura política impõem também a manu­tenção de seções de amenidades que lhe servem, com freqüência, para expressar seus pontos de vista culturais, literários, políticos e filosóficos. Mais que um estilo propriamente dito, as amenidades exigem uma atitude jornalística que vê e descreve as particularidades e contingências do cotidiano de maneira pessoal e humana, o que se torna de extrema necessidade na imprensa contem­porânea. Na verdade, os Ensaios Jornalísticos e o Folhetinismo são um gênero menor, situado na metade do caminho entre a literatura e o jornalismo propriamente dito. Desta forma, a estrutura da matéria folhetinista apoia-se em três elementos:

            - coisas secundárias, azares, contingências da vida dos homens, costumes, acontecimentos artístico-culturais e objetos interessantes;

            - essas coisas de menor importância são contempladas com agu­deza, concisão e acerto, em busca do essencial;

            - busca-se o caráter simbólico e alegórico, para passar de anedota a categoria.

            De forma resumida o estilo ameno corresponde a textos literários variados com enfoques mais ou menos aprofundados sobre temas culturais, além de novelas, contos, correspondência de leitores e informações práticas: programas de espetáculos, de rádio, de TV, cotações da bolsa de valores e de mercado de capitais, metereologia, horóscopo, história em quadrinhos e semelhantes.

 

Referências

ALBERTOS, José Luiz Martinez. Redacción Periodística. Madrid: Ate, 1990.

BREGUEZ, Sebastião Geraldo. Redação e estilo. Belo Horizonte: Ed. do autor, 2000.

 

CRESSOT, Marcel. Le  Style et ses Techniques. Paris: Puf, 1990.

SODRÉ, Muniz e FERRARI, Maria Helena. Técnica de Redação - o texto nos meios de informação. São Paulo: Ática, 2000.

Manual de redação de O GLOBO. Porto alegre: editora globo, 2000.

Manual de redação de O ESTADO DE S. PAULO. São Paulo: Moderna, 2001.

Manual da redação da FOLHA DE S. PAULO. São Paulo: Publifolha, 2001.

VIVALDI, Martin. Curso de redacción. Madrid: Paraninfo, 1990.