quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

FOLKCOMUNICAÇÃO DO CARNAVAL 2016

FOLKCOMUNICAÇÃO DO CARNAVAL 2016
POVO DEBOCHA DA CLASSE POLÍTICA

Por Sebastião Breguez


O Carnaval, festa do riso e do deboche, é época em que as pessoas ampliam sua capacidade de comunicação e expressão para interagir o máximo nos três dias de folia. Mudam-se as identidades e papéis sociais da vida cotidiana. As pessoas representam aquilo que não são ou não podem ser nos dias da rotina da vida cotidiana.  O povo debocha e ri de tudo. Fantasia a realidade do dia-a-dia. Mostra que o jeitinho brasileiro de comunicar é muito criativo e cheio de riqueza ímpar na imaginação popular. O antropólogo Roberto da Matta é autor de estudos sobre o caráter brasileiro da malandragem cuja expressão máxima está no carnaval.  Com base nos estudos dele, trabalho em pesquisas sobre o jeitinho brasileiro de comunicar desde os anos 2.000.
 
No Carnaval 2016 o deboche e a crítica social se concentrou na classe política . Esta marca se manifesta nas músicas de carnaval ou sambas enredo ou marchinhas carnavalescas. O deboche e a critica social desde ano se concentrou nos políticos. Lula ganhou uma marchinha este ano - Papa Luís 51, o papa da pinga 51 veja no link  https://youtu.be/leYnjqhOd8o . O ano passado teve marchinha do Aécio com o Helicoca, o helicóptero com dezenas de quilos de cocaína.
 
 
Mas vejamos o cardápio de 2016: “Como Dilma soca soca”, “Alcunha”, “Prefeito libera o cooler”, “Adeus em ritmo de lavajato”, “Continha na Suiça”, “Eles tão metendo a mão”, “Marchinha do Pixuleco”, “O japonês da Federal”, “Quem tem Cunha tem medo”, “Mandioca pra presidenta” e outras. Isto o espírito típico do jeitinho brasileiro de comunicar que se baseia no riso, no deboche, na crítica social, uso de imaginação e fantasia sem limite.
 
 
O carnaval 2016 também surpreendeu os pesquisadores porque voltou para manifestações de rua como em Belo Horizonte com a explosão de blocos caricatos. Os mineiros mostraram que não são a TFP Família Tradicional Mineira que fica no sofá da sala de estar vendo o carnaval pela TV. Foram para a rua, criaram dezenas de blocos com temperos diferentes. Teve de tudo: de rock a musica indiana, axé, brega e até jazz. A mistura mais sui generis foi do bloco Pena de Pavão de Krishna com ijexá, MPB e mantras. Foram mais de 80 blocos e uma multidão calculada em dois milhões de pessoas, segundo a Prefeitura de BH, que lotaram as ruas da capital mineira.
 

Historicamente, o carnaval de rua perdeu força na ditadura militar (1964-1984) quando o povo trocou as ruas pelo conforto do sofá com TV com medo da repressão. Mas ressuscitou agora com crise que impediu muita gente de viajar para locais tradicionalmente animados como Bahia, Pernambuco ou Rio de Janeiro. O carnaval de rua tomou força em Belo Horizonte este ano. É uma nova realidade do carnaval brasileiro. Minas passa a ter seu espaço próprio no universo carnavalesco nacional.
Se formos ver os sambas enredo do passado, encontramos muitas marchinhas que se adaptam à realidade social brasileira. Vejamos, por exemplo: “Máscara Negra” ( Tanto riso, tanto alegria, mais de mil palhaços no salão)não ficaria bem na voz do povo brasileiro. E os milhares áulicos sempre elogiando e enredando os poderosos não poderiam cantar em uníssono, o “Cordão dos Puxa Sacos” ( dando vivas aos seus maiorais. A “Aurora” (Se você fosse sincera) teria na presidente uma intérprete maravilhosa enquanto a turma que está nas tetas do governo estaria muito bem representada no “Mamãe, eu quero “ (Mamãe, eu quero mamar, me da a chupeta) num autêntico “mamanoduto”.
 
 
 
Os trabalhadores, estes, coitados, teriam que cantar o “Falta um zero no meu ordenado” ( Trabalho como um louco, mas ganho muito pouco, por isso eu vivo sempre atrapalhado). A turma da Lava Jato,o ex-presidente Lula e outros possuem a sua marchinha-hino, ´”A água lava tudo”( A água lava lava tudo, a água só na lava a língua desta gente”.. Será que a “Máscara da Face” (...deixou cair a máscara da face)não caberia bem na voz do ex-líder do governo no Senado, Delcídio Amaral”. Claro que os mensaleiros e e os engajados nas propinas da Petrobrás também poderiam cantar o velha “Me dá um dinheiro aí” ( ...não vai dar, não vai dar, você vai ver a grande confusão) E põe confusão nisso, quase acabaram com a Petrobrás”. Ainda para Dilma e sobrando mais ainda para Eduardo Cunha a eterna “Daqui não saio “ ( ...daqui ninguém me tira...)
 
Para os “delatores” a eterna “Se a lua contasse” ( Se a lua contasse tudo que vê de mim e de você muito teria o que contar). O presidente do Senado, Renan Calheiros cantaria bem o “Nega Maluca” (Tava jogando sinuca, uma nega maluca me apareceu, trazendo um filho no colo, dizendo que o filho era meu) enquanto o ex-presidente Lula seria um bom intérprete para “Laranja Madura” (Você diz que me dá cama e comida, boa vida e dinheiro prá gastar. O que que há, tanta maldade faz até desconficar). Senadores e deputados citados ou por citar na Lava Jato poderiam formar um coro e cantar a “Fica quem Pode” (Quero ver quem fica, quero ver quem sai, quero ver quem fica, quero ver quem cai). Ainda tem outras e a lista poderia ter sido maior.