terça-feira, 25 de abril de 2017

Comunicação, Folclore e Globalização

Instituto Gutenberg

Comunicação, folclore e globalização

Os meios de comunicação de massa estão destruindo o folclore ou a sociedade está sendo formada por uma só cultura?1


Sebastião Breguez
A evolução gradativa e posteriormente acelerada do modo de produção capitalista a partir da Revolução Industrial provocou sérias mudanças no contexto global do século XX. De uma sociedade onde a organização social e político-econômico era artesanal, agrícola e feudal, passamos a uma sociedade cuja economia e instituições radicam essencialmente na indústria e na produção em grande escala. Essa mudança de infra-estrutura provoca, por sua vez, mudanças na super-estrutura, pois ambas estão em ampla interação, modificando toda ideologia, valores, modos de pensar, agir e sentir, modos de ver as coisas, sem falar do próprio ambiente ecológico. Foi o surgimento da Sociedade de Consumo. A Revolução Industrial iniciada na Europa e exportada para vários outros países do Mundo foi constituindo, na medida de seu desenvolvimento, fases avançadas processo industrial onde, por exemplo, hoje o mundo inteiro se integra progressivamente num mercado de consumo internacional, buscando cada vez mais enormes gamas de bens. A sociedade de consumo deu primazia ao homem consumidor e todas as classes sociais foram chamadas a consumir.
Os produtos são baratos, pois são feitos em larga escala, atendendo a uma enorme variedade de consumidores com diversos “status” e poder aquisitivo. Paredes de propaganda, anúncio de jornais, rádios, televisões, cinemas, tudo a fazer a apresentação da cultura de massa e de seus produtos. Os anúncios, as relações públicas, a doutrinação, o obsoletismo planejado não são mais custos improdutivos e sim elementos básicos da produção. Essa sociedade tecnológica se caracteriza, ainda, pela automação progressiva do aparato material e intelectual que regula a produção, a distribuição e o consumo. Um aparato que se estende também às esferas tanto particulares e públicas mas suas esferas políticas, econômicas e culturais. O aparato tecnológico (no qual as ciências se converteram em fatores necessários para o processo de produção e consumo, principalmente a matemática e também a psicologia e a sociologia) alcança um grau de produtividade no trabalho que torna possível o aumento do nível de vida a uma larga escala da população que antes se considerava “não privilegiado”. Nascida nessa época, como fruto da infra-estrutura capitalista, a Cultura de Massas, reúne culturas diferentes e serve de elo de ligação entre essas culturas numa constante interação, englobando a um só golpe a cultura popular (ou folclore) e a cultura erudita.2
A Cultura popular pertence estruturalmente a uma classe social definida dentro do sistema de produção capitalista, que é o povo, com seus modos de pensar, agir e sentir e comunicar seu universo cultural. Aqueles que apenas tem acesso aos modos de produção capitalista e não posição de mando ou de influência.3
A cultura erudita, dos letrados, dos burgueses, pertence a uma classe social, também definida e caracterizada pelo modo de produção capitalista que são os proprietários dos meios de produção. Aqueles que apenas têm posição de mando e determinam os próximos rumos culturais, políticos e sociais, que por serem determinados pela infra-estrutura econômica estão sujeitos à ela4. A evolução histórica do homem sempre deu destaque a dois tipos principais de conteúdos culturais. A popular ou folclórica alicerçada num processo empírico e iletrado de acumulação de experiência e inovações transmitidas de pai a filho, de irmão a irmão, cuja transmissão é pela vivência, é oral e se baseia na proximidade. A cultura erudita, ao contrário, é alicerçada com bases letrada, em normas científicas, em relação de causa e efeito.5 Até a época de Gutenberg o patrimônio cultural da humanidade era transmitido e difundido em esferas muito estreitas e distantes uns dos outros. A cultura erudita era iniciada somente aos filhos da aristocracia e os poucos que conseguiam ter proximidade ao círculo hermético da elite. A cultura popular, ao contrário, era transmitida e era consumida pela grande maioria da população que constituíam as classes subalternas. Ao lado da medicina clássica, dos proprietários dos meios de produção, (os servos, os camponeses, os escravos, os trabalhadores braçais, etc). Ao lado do teatro erudito existia o teatro popular. Ao lado das manifestações literárias da elite estavam as manifestações escritas do povo. Assim por diante.6 Com a inovação da Imprensa, capitalistas interessados em ampliar sua acumulação, o modo de produção daquela época foi transformando, também, a produção cultural tendo como ideologia formar um consumidor geral sem distinção de classes. A produção em massa começou a iniciar-se também no setor de utilidades não imediatas. A cultura de massa, então foi formando subsídios para seu progresso cada vez mais espantoso. Uma cultura que reúne os símbolos, normas, valores, mitos, imagens, etc., de um universo popular e um universo erudito. Até, então esses universos culturais mantinham uma posição inter-comunicativa mas distante um do outro. Um exercia influência e pequenas mutações no patrimônio genético - cultural do outro sem que houvessem mudanças estruturais e/ou morfológicas radicais. Acontecia que fatos da vida popular eram inseridos através de obras artísticas da cultura erudita através da pesquisa, contatos e ás vezes vivência mesmo. E isso vemos em várias obras literárias de escritores antigos, músicos, pintores e escultores. Por outro lado, o simbolismo dos letrados era incorporado ao simbolismo do povo pelas influências de domínio, mando, imposição, doutrinação (o caso dos missionários cristãos ilustra bem esse exemplo).
Os exemplos são muitos, mas bastaria caracterizar, neste trabalho, por exemplo, o fandango, que é uma dança dramática encontrada no Brasil, em Alagoas, e que é uma variante de velhos costumes musicados portugueses. Mesmo a literatura de cordel, que um crítico literário norte-americano disse que Jorge Amado usou para seus romances, é um tipo de comunicação escrita do povo, elaborada e adaptada de formas poéticas de portugueses e espanhóis (atualmente é muito difundido no mundo inteiro, e existe inúmeros estudos a respeito). Roger Pinon, Professor belga licenciado em filosofia germânica pela Universidade de Liége, tem uma série de trabalhos a respeito. Veja por exemplo. “El Cuento Folkórico”, Editorial Universitária de Buenos Aires, 1965. No Brasil, a região mais rica em manifestações do folclore literário é o nordeste.7
Atualmente, o processo de intercomunicação da cultura de massa não permite distinção entre cultura popular e cultura erudita. O folclore foi perdendo suas características de “vivant” assim como também a tendência é a de formação de uma sociedade unicultural. Estamos assistindo a uma aculturação do folclore e da cultura burguesa.8
O rádio, a televisão, o cinema, o jornal, as revistas, as publicações em geral, estão matando o folclore na medida em que as camadas populares têm acesso aos meios de comunicação. Na medida em que uma sociedade subdesenvolvida vai passando pelo processo de desenvolvimento e industrialização, onde as condições pré-capitalistas de existência, as estruturas sociais arcaicas, o analfabetismo, o pauperismo, a sub-higiene, a fraca alimentação, vão sendo substituídas por condições mais compatíveis com a dignidade humana.9 Por isso, diz Édison Carneiro que as manifestações coletivas do folclore são encontradas em regiões brasileiras, como por exemplo o litoral paraense, o interior da Paraíba, o Recôncavo Baiano, zonas de notório atraso econômico, de pobreza crônica do povo, de condições pré-capitalistas de existência.10
Roger Bastide 11 diz que o folclore está morrendo justamente no momento em que se tornou ciência no Ocidente. O folclore está morrendo após as transformações econômicas fundadas no modo de produção capitalista. Na França, por exemplo, o Professor Varagnac conseguiu demonstrar que o folclore foi destruído após a introdução do maquinismo na agricultura e não conforme se pensava que fosse somente o serviço militar, a escola primária, e o desenvolvimento das redes de estradas em 1850. O Folclore, então, tende a reduzir-se a grupos esparsos da população urbana como os grupos infantis e as subpopulações urbanas de favelados.12
A introdução da máquina na agricultura, a aculturação dos “mass-media”, cujo principal amigo do “folk” é o radinho de pilha, destroem a harmonia existente e impede a continuidade das manifestações populares como por exemplo, ritos como o mutirão, o boi-bumbá, as cangadas, os reisados, a medicina rústica, as advinhas, os provérbios, as crendices e superstições, a literatura de cordel, etc.
Com a introdução do maquinismo no campo, novas relações de produção passam a caracterizar as estruturas sociais e econômicas e isso impõe novas ideologias. Como o folclore está situado na superestrutura da sociedade, mudando a infra-estrutura econômica, mudanças também se efetuarão na superestrutura. O trabalhador rural marginalizado pela máquina, no campo, emigra, para grandes centros urbanos onde espera e anseia por melhores condições de vida. No centro urbano, a mão-de-obra especializada caracteriza o mercado de trabalho e o homem tem que ter uma formação técnica, mínima que seja (como pintos, pedreiro, marceneiro, etc.), dentro de uma especialidade para se manter. Na medida que o trabalhador rural se insere nas novas relações de produção, vai interiorizando comportamentos “dos civilizados” e vai abandonando suas formas rústicas de pensar, agir e sentir, vai se “civilizando” embora isso demande tempo.13
Desde 1957, McLuhan se referia a um folclore de laboratório. Para ele, a nossa cultura é totalmente uma cultura de laboratório. É programada por técnicos da publicidade, do rádio, da televisão, do cinema, do jornal, da universidade, dos departamentos de psicologia social. Após elaborada, a cultura de massa é posta ao consumo, a circulação (observando que ela é elaborada em função de infra-estrutura capitalista) para as camadas sociais que existem na estrutura que lhe serviu de ventre. A cultura de massa, então, para se firmar, se serve de mecanismos diversos de controle social seja na padronização dos gostos seja na produção em série de produtos baratos que são impostos à compra pelo consumidor ideal. Portanto, para McLuhan, o folclore atual, assim como toda cultura, é fruto de laboratório, e não aquela forma “vivant” de que nos fala Albert Marinus, folclorista belga,14 que caracterizava as comunidades aldeãs antes de Gutenberg.
A indústria do disco promoveu a massificação das obras de Beethoven, Chopin, Wagner, Mozart, Straus ou Schubert, para não citar outros. A indústria do livro promoveu a produção em massa de Homero, Dante, Shakespeare, Voltaire, Dumas, Eça de Queiroz, Machado de Assis, Jorge Amado e outros. A “ofsett” permite a produção em milhares de exemplares de quadros de Dali, Picasso, Da Vinci, Monet, Casanova, Renoir e outros. A televisão pega isso tudo e revoluciona ainda mais: Obras artísticas, musicais e teatrais estão diariamente pelos programas de televisão e cinema.15
O folclore está se fundindo na cultura de massa? A sociedade está sendo formada por uma só cultura? Ou será que o folclore é fruto da estratificação social e da desigualdade na difusão das conquistas culturais da humanidade?
O folclore tem uma função social e é questão muito importante saber porque o povo faz o folclore e por que se realiza nele. Acredito que aí chegaremos ao ponto em que se fundamenta, se estrutura as diferenças sociais, econômicas e políticas que dividem os homens.
Sebastião Geraldo Breguêz é professor da UNIVALE

(1) O conceito de cultura que adotamos neste trabalho é o mesmo que consta no “Dicionário Filosófico Abreviado, de M. Rosental e P. Iudin, Ediciones Pueblos Unidos, Montevidéu, 1950, que diz o seguinte: “Cultura - Conjunto dos valores materiais e espirituais criados pela humanidade, no curso de sua história. A cultura é um fenômeno social que representa o nível alcançado pela sociedade em determinada etapa histórica: progresso, técnica, experiências de produção e de trabalho, instrução, educação, ciência, literatura e arte, e instituições que lhes correspondem. Em um sentido restrito, compreende-se sob o termo cultura, o conjunto de formas da vida espiritual da sociedade que nascem e se desenvolvem à base do modo de produção dos bens materiais historicamente determinado. Assim, entende-se por cultura, o nível de desenvolvimento alcançado pela sociedade na instrução, na ciência, na literatura, na arte, na filosofia, na moral, etc., e as instituições correspondentes. Entre os índices mais importantes do nível cultural, e em determinada etapa histórica, é preciso notar o grau de utilização dos aperfeiçoamentos técnicos e dos desenvolvimentos científicos na produção social, o nível cultural e técnico dos produtores dos bens materiais, assim como o grau de difusão da instrução da literatura e das artes entre a população” (pág. 104). Segundo Édison Carneiro, (em Dinâmica do Folclore, Editora Civilização Brasileira, 1965) por folclore entende-se um conjunto de modos de sentir, pensar e agir peculiares às camadas populares das sociedades civilizadas e que alguns folcloristas estendem o campo do folclore a todas as sociedades, até mesmo as primitivas. Diz ainda que a existência de graus diversos da mesma cultura é necessária para caracterizar o fenômeno.(2) José Marques de Melo num artigo publicado na rev. VOZES (outubro de 1969, ano 63, nº 10) diz que a cultura de massas atua como veículo de interação entre a cultura clássica e a cultura popular estimulando o intercâmbio simbólico entre elas, e, ao mesmo tempo, extraindo de ambas códigos e elementos místicos que incorpora ao seu próprio acervo e os retribui sob a forma de novas influências”. A evolução histórica do homem sempre deu destaque a dois pólos distintos de estágios culturais numa mesma sociedade cuja natureza de organização e estratificação e cuja determinação está no modo de produção determinado historicamente.
(3) O folclore pertence a superestrutura da sociedade (para maiores detalhes vide livro de Édison Carneiro — “A Dinâmica do Folclore”), já citado, página 81 cuja determinação está na infra-estrutura que estabelece relações produtivas entre os homens. “Na produção social dos homens, estes estabelecem entre si determinadas relações, indispensáveis e independentes de sua vontade; estas relações de produção correspondem a um estágio de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade daquelas relações de produção constituiu a estrutura econômica da sociedade — verdadeira base. Sobre ela, ergue-se a superestrutura legal e política, à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O modo de produção da vida material determina o caráter geral dos processos sociais, políticos e espirituais da vida” (Karl Marx, Prefácio de “CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DE ECONOMIA POLÍTICA”, in Marx-Engels, OBRAS ESCOLHIDAS, Sigla XXI).
(4) Antônio Gramsci (“Os Intelectuais e formação da Cultura”, Editora Civilização Brasileira, 1968) diz: “Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, de um modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político: o empresário capitalista cria consigo e técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, de um novo direito, etc. Deve-se notar o fato de que o empresário representa uma elaboração social superior, já caracterizada por uma certa capacidade dirigente a técnica...”
(5) “Sociologicamente, a cultura clássica e a cultura popular situam-se em pólos extremos. A primeira é uma cultura própria das elites, dos grupos privilegiados que detêm o poder uma sociedade, ou melhor as classes dominantes. A segunda é uma cultura peculiar à grande massa populacional que constitui o pólo dos dominadores na estrutura da organização social” (José Marques de Melo, “Comunicação, Cultura de Massas, Cultura Popular” in Revista VOZES, já citado. Édison Carneiro, em “Sabedoria Popular do Brasil” diz que o campo do folclore se estende a todas as manifestações da vida popular como o traje, a comida, a habitação, as artes domésticas, as crendices, os jogos, as danças, as representações, a poesia anônima, o linguajar, revela a Existência de todo um sistema de sentir, pensar e agir, que difere essencialmente do sistema erudito, oficial, predominante nas sociedades de tipo ocidental”. E tal sistema reflete as diferenças de classes sociais (de educação, e de cultura) que divide os homens. (6) Existia e ainda existe. Ainda existe o teatro popular com suas danças dramáticas como o Bumba-Meu-Boi, o reisado, etc. Ainda existe a medicina dos excretos. Ainda existe a literatura de cordel. Ainda existem as diferenças de classes...
(7) A literatura de cordel é encontrada em feiras. Em Governador Valadares, cidade que sempre recebe imigrantes nordestinos e baianos a procura de melhores condições de vida, encontramos inúmeros exposições de literatura de cordel nas praças, ruas e principalmente no Mercado Municipal. Os livretos de cordel vinham pendurados em cordas. O nome cordel é derivado de corda. É através das cordas que são feitas as suas exposições. São publicações em prosa e verso num português arcaico onde o povo transmite as suas dores e os seus risos. A literatura de cordel tem sido alvo de inúmeras depredações, principalmente de editores paulistas. Eles se apossam da forma e do conteúdo da prosa popular e publicam os livretos com o português civilizado”. “Prostituem” a riqueza do povo.
(8) Essa idéia de sociedade unicultural vai de encontro com a própria organização e estruturação da sociedade, que é estratificada. Edgar Morin partindo da idéia de cultura como “complexo de símbolos, normas e imagens” encontra inúmeras culturas que penetram no indivíduo em sua vida diária. Existe, para Morin, uma cultura religiosa, uma cultura nacional, uma cultura clássica, uma cultura popular, uma cultura de massas.
9) O tradicional em folclore recebe, com o “mass-media”, uma série de impactos. E vai interiorizando formas novas, secularizadas embora o conteúdo permaneça. O folclore como tradição está morrendo, porque está se remodelando.
(10) As manifestações coletivas do folclore tendem a morrer. O que caracteriza um rito como o mutirão, por exemplo, é a coesão do grupo, do povo que se utiliza dele. Na medida que as condições capitalistas de existência, ou para ser mais exato, o modo de produção capitalista é introduzido numa sociedade “folk” desagrada a coesão grupal por que estabelece novos tipos de relacionamento entre os elementos dessa comunidade.
(11) Prefácio de “Arte, Folclore e subdesenvolvimento”, Souza Barros, Editora Paralelo / MEC.
(12) Édison Carneiro critica essa posição de André Varagnac. Diz ele que Varagnac se negou a analisar a questão de permanência dos modos de sentir, pensar e agir que constituem o folclore. Vide observação 10.
(13) Vide notas 10 e 12. Aqui em Belo Horizonte, encontramos, para nossa surpresa, em muitas favelas, comportamentos de “folk” que estão ainda bem vivos. Numa favela na Nova Suíça, por exemplo, encontramos inúmeras famílias que faziam aborto com mentrasto. A mulher, na época em que tem certeza da gravidez, toma inúmeras vezes ao dia chá de mentrasto e usa essa planta para colocar no ventre — o que muitas vezes causa uma ferida e morte da paciente. Essa mesma família tinha resquícios de comportamento indígena. Após a gravidez, o marido se sente na obrigação de ficar oito dias acamado, junto com a criança. Se não fizer isso, ele fica com uma insuportável dor de dente. Pesquisando outras favelas, encontramos o mesmo comportamento. Essas famílias são oriundas do interior de Minas Gerais e muitas delas do meio rural onde trabalhavam como meeiras com proprietários de terras que lhe cediam o terreno para que ele cultivassem.
(14) É claro que as observações de McLuhan foram realizadas num país altamente industrializado onde o “mass-media” é mais influente porque o poder aquisitivo da população permite uma série consumo de produtos culturais. Muito do folclore que está aparecendo como secularização do tradicional é fruto da influência do mass-media. Entretanto, cabe observar como Édison Carneiro, que a cultura popular se nutre de desejos de bem-estar econômico e social e constitui uma forma de reivindicação social e é expressão das aspirações populares e suas expectativas frente à realidade social. Povo não é passivo frente aos meios de comunicação de massa que seriam ativos para McLuhan.
(15) Cabe aqui observar que a televisão apresenta obras artísticas. Entretanto, ela as apresenta destituídas de seu valor estético original, porque esvazia totalmente a obra de arte. Mas apresenta... embora ôca.
©Instituto Gutenberg
Boletim Nº 28 Série eletrônica
Setembro-Outubro, 1999

BARRIGADAS DO JORNALISMO

JORNAL DA FLIP-ONG INTERNACIONAL DE JORNALISTAS - JAN-FEV 2005



BARRIGADAS DO JORNALISMO

Por Sebastião Breguez
Jornalista e Professor 

Escrever é função principal do jornalismo profissional. Principalmente escrever bem. O que significa ter zelo pela gramática, pela ortografia e, sobretudo, saber usar palavras e expressões que tenham sentido e possam comunicar sem deixar dúvidas. Depois de passar quatro anos em Curso de Jornalismo em uma faculdade, muitos focas, iniciantes na profissão, cometem gafes imperdoáveis. 

Mesmo com os MANUAIS DE REDAÇÃO dos jornais, que gastam páginas e páginas com recomendações aos seus profissionais. No final, a súplica: "Tenham pena do leitor. Releiam os textos." No entanto, muitos profissionais não ligam para isso. Na pressa, soltam a matéria sem revisão. Resultado: os jornais estão cheinhos de "pérolas". Os leitores atentos, anotam-nas. Vejam só algumas delas. Divirtam-se ou chorem!


   "Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério para a satisfação dos habitantes." (Eles, os mortos,  deviam estar com muita sede, coitados...) 

   "A nova terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a cada ano." (Viva a ressurreição!) 

   "Apesar da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente." (Não pagaram os direitos do El Niño. Olha no que deu...) 

   "Os sete artistas compõem um trio de talento." (Alguém aí tem uma calculadora?) 

  "A vítima foi estrangulada a golpes de facão." (Que horror...) 

   "No corredor do hospital psiquiátrico, os doentes corriam como loucos." (É mesmo?! Que coisa impressionante!!!) 

  "Ela contraiu a doença na época em que ainda estava viva." (Que azar, coitada!) 

"O aumento do desemprego foi de 0% em novembro." (Onde vamos parar desse jeito?) 

  "O presidente de honra é um jovem septuagenário de 81 anos." (Quanta confusão!) 

  "Parece que ela foi morta pelo seu assassino." (Como conseguiram desvendar o mistério?) 

  "A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço." (É, todo mundo já sabia que eram defeituosas...) 

  "O acidente foi no tristemente célebre Retângulo das Bermudas." (Não era Triângulo das Bermudas?) 

  "Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um incêndio." (Achei que fosse uma churrascada!) 

"O velho reformado, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte, se suicidou." (A volta dos mortos-vivos) 

  "À chegada da polícia, o cadáver se encontrava rigorosamente imóvel." (Viu como ele é disciplinado?)


sábado, 22 de abril de 2017

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS FRANÇA 2017

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA FRANÇA 2017

Um duro embate entre a direita e o centro, deixa claro que os franceses não aprovaram muito o governo socialista de François Hollande que não conseguiu acabar com o desemprego e o terrorismo.  A décima-primeira eleição presidencial da Quinta República Francesa em 2017 será realizada no primeiro turno em 23 de abril e a 7 de maio em um eventual segundo turno. O presidente eleito recebe um mandato de cinco anos, sucedendo François Hollande.


Marine le Pen, da extrema direita e Emmanuel Macron, centrista

Neste domingo, amanhã, dia 23 de abril, 47 milhões de eleitores franceses vão às urnas para o primeiro turno das eleições presidenciais, dois dias após um ataque extremista em Paris - o terceiro neste ano. Uma eleição marcada pela incerteza de boa parte do eleitorado francês em função da crise econômica, o desemprego, a questão das migrações e o aumento do terrorismo. É a décima-primeira eleição presidencial da Quinta República Francesa. O primeiro turno acontece em 23 de abril e um eventual segundo turno será em 7 de maio. O presidente eleito recebe um mandato de cinco anos, sucedendo François Hollande. Estas eleições serão cruciais para o futuro da UE-união Européia.
Os dois candidatos favoritos são: o centrista Macron lidera com 24% e Marine Le Pen, de ultra-direita, tem 22% das intenções de voto. Pesquisa mostra que 31% ainda estão indecisos. Com o último atendado terrorista, pode ser que os 31% de eleitores indecisos caminhem para voto à direita. Às vésperas da eleição, radicais da esquerda e da direita somam quase metade das intenções de voto ma França.
A última pesquisa divulgada na sexta-feira dia 21 último, destaca o alto nível de indecisão entre os eleitores que afirmam estar seguros de comparecer às urnas, 31% dos quais asseguram que ainda podem mudar de candidato.
Os mais convencidos a esse respeito são os eleitores da candidata da Frente Nacional (FN), que se declaram 85% seguros de votar nela, seguidos pelos eleitores potenciais de Fillon (83%), os de Macron (73%) e os de Mélenchon (67%).
Somente 51% dos que declaram sua intenção de votar em Hamon consideram sua decisão definitiva, uma queda de dez pontos em relação à pesquisa anterior elaborada pela Ipsos.
A pesquisa estima a participação de 73%, a mais baixa durante o primeiro turno das eleições presidenciais desde as realizadas em 2002.
Não está claro se o ataque influenciará a votação. Para a maioria de jornalistas políticos franceses, seria fácil presumir que a candidata da extrema-direta Marine Le Pen poderia se beneficiar nas urnas, já que os principais temas de sua campanha eram segurança, imigração e fundamentalismo islâmico.
Mas os jornalistas opinam que os eleitores mais preocupados com a segurança poderiam tender a votar no experiente político conservador e ex-primeiro-ministro François Fillon.
Até agora, a corrida está bastante apertada. Quatro dos onze candidatos aparecem quase que empatados no topo das pesquisas de intenção de votos: François Fillion, Marine Le Pen, o candidato de extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon, e o centrista Emmanuel Macron.


A maioria dos afirmam que Macron e Mélenchon podem perder votos por não serem vistos como pesos-pesados nas áreas de política de segurança e imigração.



terça-feira, 18 de abril de 2017

AS MARCHINHAS DE CARNAVAL COMO EXPRESSÃO FOLKCOMUNICACIONAL

Prof. Dr. Sebastião Breguez



Folkcomunicação é uma teoria criada, na década de 1960, pelo pernambucano Luiz Beltrão, criador das Ciências da Comunicação, no Brasil, para designar os estudos dos processos comunicacionais populares nas sociedades em processo de desenvolvimento. Ela engloba duas ciências, a Comunicação e a Antropologia. Ela estuda como se dá esta comunicação entre o popular, o erudito e a comunicação de massa. Na verdade, a Folkcomunicação é a primeira teoria brasileira da Comunicação que mostra que os processos reais (verdadeiros) da comunicação popular no Brasil não se articulam na Mídia (jornal, revista, rádio, TV). As marchinhas de Carnaval são verdadeiras pérolas do processo folkcomunicacional do povo brasileiro. Elas representam a crítica social e o protesto popular contra o sistema político-econômico vigente no País. Criticam as instituições e personagens do mundo político, econômico, esportivo, enfim, da vida pública nacional. Nada escapa ao julgamento popular na forma de deboche, riso, brincadeira e sátira.



Marchinha de Carnaval é um gênero de música popular que predomina no carnaval brasileiro desde o final do século XIX. A primeira marcha foi a composição de 1899 de Chiquinha Gonzaga, intitulada Ó Abre Alas, feita para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro. Elas fazem parte fundamental do carnaval brasileiro. Elas fazem parte do jeitinho brasileiro de comunicação e expressão que denominados Folkcomunicação. Ali está presente a crítica social e política, informalidade, a criatividade, a malícia, a gozação, a sensualidade, a safadeza e irreverencia que são traços característicos da comunicação popular. Na marchinha a crítica social é exercida de maneira clara e ostensiva.

O Carnaval, festa do riso e do deboche, é época em que as pessoas ampliam sua capacidade de comunicação e expressão para interagir o máximo nos três dias de folia. Mudam-se as identidades e papéis sociais da vida cotidiana. O povo debocha e ri de tudo. Fantasia a realidade do dia-a-dia. Mostra que o jeitinho brasileiro de comunicar é muito criativo e cheio de riqueza ímpar na imaginação popular. Através das marchinhas populares, é o momento em que o povo exerce a sua função de Juiz, e julga e faz sua crítica social à sua maneira bem peculiar. Sempre há um personagem impopular para ser julgado.

Nos dois últimos carnavais (2016-17), o deboche e a crítica social se concentrou na classe política. Esta marca se manifesta nas músicas de Carnaval ou sambas enredo ou marchinhas carnavalescas. O deboche e a crítica social deste ano se concentrou nos políticos. Lula (PT) ganhou uma marchinha este ano – Papa Luís 51. No ano passado teve marchinha do Aécio Neves (PSDB) com o Helicoca. Vejamos o cardápio de 2016: “Como Dilma soca soca”, “Alcunha”, “Prefeito libera o cooler”, “Adeus em ritmo de lavajato”, “Continha na Suiça”, “Eles tão metendo a mão”, “Marchinha do Pixuleco”, “O japonês da Federal”, “Quem tem Cunha tem medo”, “Mandioca pra presidenta” e outras. Isto é o espírito típico do jeitinho brasileiro de comunicar, que se baseia no riso, no deboche, na crítica social, uso de imaginação e fantasia sem limite.

Em 2016, por exemplo, Eduardo Cunha foi um dos mais presentes nas máscaras e nos bonecos de Judas. Este ano a figura de Michel Temer lidera as manifestações. Mas tem outros e muitos. Basta acompanhar a divulgação das listas de Fachin, Janot ou da planilha da Oderbrecht. Os jornais mostram no noticiário a bandidagem que aparece, com lugar para presidentes, governadores, senadores, deputados, dirigentes de estatais, empresários poderosos e tantos e tantos outros. Provavelmente na História do Brasil nunca tenha existido uma quantidade tão grande de celebridades impopulares à disponibilidade para a execração popular.

Em 2017, o tom das marchinhas de carnaval focou Temer, Dória e Lava Jato. Políticos mais uma vez não escapam das canetas afiadas dos compositores da folia. Por sua aparência, Temer é personagem da marchinha “Presidento Transilvânia”, que se mudou para “uma capital onde o terreno é fértil para o mal”. O tema é iniciado com a marcha fúnebre e a letra diz que ele buscou no cemitério os integrantes de seu ministério. Na marchinha, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) é colocada como “vítima inocente”. “Difícil não temer, o terror está no ar”, “vai buscar alho”, recomenda.

Se formos ver os sambas enredo do passado, encontramos muitas marchinhas que se adaptam à realidade social brasileira. Vejamos, por exemplo: “Máscara Negra” ( Tanto riso, tanto alegria, mais de mil palhaços no salão)não ficaria bem na voz do povo brasileiro. E os milhares áulicos sempre elogiando e enredando os poderosos não poderiam cantar em uníssono, o “Cordão dos Puxa Sacos” ( dando vivas aos seus maiorais. A “Aurora” (Se você fosse sincera) teria na presidente uma intérprete maravilhosa enquanto a turma que está nas tetas do governo estaria muito bem representada no “Mamãe, eu quero “ (Mamãe, eu quero mamar, me da a chupeta) num autêntico “mamanoduto”. Os trabalhadores, estes, coitados, teriam que cantar o “Falta um zero no meu ordenado” ( Trabalho como um louco, mas ganho muito pouco, por isso eu vivo sempre atrapalhado). 
 
A turma da Lava Jato,o ex-presidente Lula e outros possuem a sua marchinha-hino, ´”A água lava tudo”( A água lava lava tudo, a água só na lava a língua desta gente”.. Será que a “Máscara da Face” (...deixou cair a máscara da face)não caberia bem na voz do ex-líder do governo no Senado, Delcídio Amaral”. Claro que os mensaleiros e e os engajados nas propinas da Petrobrás também poderiam cantar o velha “Me dá um dinheiro aí” ( ...não vai dar, não vai dar, você vai ver a grande confusão) E põe confusão nisso, quase acabaram com a Petrobrás”. Ainda para Dilma e sobrando mais ainda para Eduardo Cunha a eterna “Daqui não saio “ ( ...daqui ninguém me tira...) 

Para os “delatores” a eterna “Se a lua contasse” ( Se a lua contasse tudo que vê de mim e de você muito teria o que contar). O presidente do Senado, Renan Calheiros cantaria bem o “Nega Maluca” (Tava jogando sinuca, uma nega maluca me apareceu, trazendo um filho no colo, dizendo que o filho era meu) enquanto o ex-presidente Lula seria um bom intérprete para “Laranja Madura” (Você diz que me dá cama e comida, boa vida e dinheiro prá gastar. O que que há, tanta maldade faz até desconficar). Senadores e deputados citados ou por citar na Lava Jato poderiam formar um coro e cantar a “Fica quem Pode” (Quero ver quem fica, quero ver quem sai, quero ver quem fica, quero ver quem cai). Ainda tem outras e a lista poderia ter sido maior.





FOLKCOMUNICAÇÃO POLITICA DO CARNAVAL 2016

http://www.olindahoje.com.br/2016/02/11/folkcomunicacao-politica-no-carnaval-2016/ 

FOLKCOMUNICAÇÃO POLÍTICA NO CARNAVAL 2016

Sebastião Breguez – Jornalista. Doutor em Comunicação
O Carnaval, festa do riso e do deboche, é época em que as pessoas ampliam sua capacidade de comunicação e expressão para interagir o máximo nos três dias de folia. Mudam-se as identidades e papéis sociais da vida cotidiana. O povo debocha e ri de tudo. Fantasia a realidade do dia-a-dia. Mostra que o jeitinho brasileiro de comunicar é muito criativo e cheio de riqueza ímpar na imaginação popular.
pfNo Carnaval 2016 o deboche e a crítica social se concentrou na classe política. Esta marca se manifesta nas músicas de Carnaval ou sambas enredo ou marchinhas carnavalescas. O deboche e a critica social deste ano se concentrou nos políticos. Lula (PT) ganhou uma marchinha este ano – Papa Luís 51.
No ano passado teve marchinha do Aécio Neves (PSDB) com o Helicoca. Vejamos o cardápio de 2016: “Como Dilma soca soca”, “Alcunha”, “Prefeito libera o cooler”, “Adeus em ritmo de lavajato”, “Continha na Suiça”, “Eles tão metendo a mão”, “Marchinha do Pixuleco”, “O japonês da Federal”, “Quem tem Cunha tem medo”, “Mandioca pra presidenta” e outras. Isto é o espírito típico do jeitinho brasileiro de comunicar, que se baseia no riso, no deboche, na crítica social, uso de imaginação e fantasia sem limite.
O Carnaval 2016 também surpreendeu os pesquisadores porque voltou para manifestações de rua como em Belo Horizonte (MG) com a explosão de blocos caricatos. Os mineiros mostraram que não são a TFP Família Tradicional Mineira que fica no sofá da sala de estar vendo o Carnaval pela TV. Foram para a rua, criaram dezenas de blocos com temperos diferentes. Teve de tudo: de rock a música indiana, axé, brega e até jazz. A mistura mais sui generis foi do bloco Pena de Pavão de Krishna com ijexá, MPB e mantras.
Historicamente, o Carnaval de rua perdeu força na ditadura militar (1964-1984) quando o povo trocou as ruas pelo conforto do sofá com TV, com medo da repressão. Mas ressuscitou agora com a crise que impediu muita gente de viajar para locais tradicionalmente animados como Bahia, Pernambuco ou Rio de Janeiro. O Carnaval de rua tomou força em Belo Horizonte este ano. É uma nova realidade do Carnaval brasileiro. Minas passa a ter o seu espaço próprio no universo carnavalesco mineiro.
Se formos ver os sambas enredo do passado, encontramos muitas marchinhas que se adaptam à realidade social brasileira. Vejamos, por exemplo: “Máscara Negra” (Tanto riso, tanto alegria, mais de mil palhaços no salão) não ficaria bem na voz do povo brasileiro. E os milhares áulicos sempre elogiando e enredando os poderosos não poderiam cantar em uníssono, o “Cordão dos Puxa Sacos” dando vivas aos seus maiorais. A “Aurora” (Se você fosse sincera) teria na presidente uma intérprete maravilhosa enquanto a turma que está nas tetas do governo estaria muito bem representada no “Mamãe, eu quero” (Mamãe eu quero; Mamãe eu quero;  Mamães eu quero mamar; me dá a chupeta) num autêntico “mamanoduto”.
Os trabalhadores, estes, coitados, teriam que cantar o “Falta um zero no meu ordenado” (Trabalho como um louco, mas ganho muito pouco, por isso eu vivo sempre atrapalhado). A turma da Lava Jato, o ex-presidente Lula e outros possuem a sua marchinha-hino, “A água lava tudo” (A água lava lava tudo, a água só não lava a língua desta gente)… Será que a “Máscara da Face” (…deixou cair a máscara da face) não caberia bem na voz do ex-líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT).
Claro que os mensaleiros e os engajados nas propinas da Petrobrás também poderiam cantar o velha “Me dá um dinheiro aí” (…não vai dar, não vai dar, você vai ver a grande confusão). E põe confusão nisso, quase acabaram com a Petrobrás. Ainda para Dilma e sobrando mais ainda para Eduardo Cunha a eterna “Daqui não saio “ (…daqui ninguém me tira…). Para os “delatores” a eterna “Se a Lua contasse” (Se a lua contasse tudo que vê de mim e de você muito teria o que contar).
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) cantaria bem o “Nega Maluca” (Tava jogando sinuca, uma nega maluca me apareceu, trazendo um filho no colo, dizendo que o filho era meu) enquanto o ex-presidente Lula seria um bom intérprete para “Laranja Madura” (Você diz que me dá cama e comida, boa vida e dinheiro prá gastar. O que é que há, tanta maldade faz até desconfiar). Senadores e deputados citados ou por citar na Lava Jato poderiam formar um coro e cantar a “Fica quem Pode” (Quero ver quem fica, quero ver quem sai, quero ver quem fica, quero ver quem cai).
Ainda tem outras e a lista poderia ter sido maior.

CULINÁRIA MINEIRA DO CAFÉ

CULINÁRIA MINEIRA DO CAFÉ. Por Sebastião Breguez. Capítulo do livro CAUSOS, CAFÉ E COMPANHIA, SINPRO-MG, BELO HORIZONTE,2006.

CULINÁRIA MINEIRA DO CAFÉ
QUANDO O MINEIRO TOMA CAFÉ, UAI !
Por Sebastião Breguez

Tomar café é um hábito cultural de todo o brasileiro. Afinal somos o maior produtor e exportador do grão para todo o mundo. Este costume já tem mais de três séculos e é bastante conhecido aqui e nos quatros cantos do mundo. Em Minas Gerais, a tradição tem seu próprio ritual. É um hábito que é sinal de sociabilidade, mineiridade e brasilidade. Quando um brasileiro vai ao exterior, todo mundo exclama: Brasil, Pelé, Café, Futebol, Carnaval!!!
Embora ao café não seja originário do Brasil, pois foi trazido da Etiópia (País da África), aqui se desenvolveu. Foi descoberto pelos jesuítas que observaram que as cabras que comiam o grão da fruta café ficavam mais espertas e vistosas. Daí passaram a fazer infusão do café para dar aos escravos que passavam a trabalhar com melhor disposição.
A partir daí, o café foi descoberto como produto fundamental para começar o dia com mais energia e bem estar. O seu cultivo foi introduzido na agricultura com intensidade e ganhou renome. Passou a ser produzido em massa para consumo nacional e exportação. Chegou a ser o principal item de nossa exportação. Fazendas e fazendas do café surgiram e tornaram ricos e prósperos inúmeros proprietários, principalmente, na fase do Brasil República. Ali os barões do café dominavam a cena política e a economia. Tudo girava em torno do precioso grão. Muitos presidentes da República foram eleitos ou depostos pelos barões do café que eternizaram a cena política com a fase da política Café com Leite. Não só os barões como também os coronéis.
A tradição contaminou outros países como a França, onde os Cafés e as Cafeterias tornaram-se ponto de encontro para paqueras, conversas, negócios, artes e centros de decisões políticas e empresariais. Tomar um cafezinho era uma palavra de ordem para discutir, avaliar e decidir alguma coisa. O Brasil herdou da França esta idéia dos cafés e introduziu no Rio Janeiro (então capital do Brasil) as primeiras cafeterias. Elas se transformaram em centros de decisão da história nacional.
O mineiro toma café várias vezes ao dia. Pela manhã, após levantar-se do leito e fazer as primeiras higienes, vamos para a mesa. Ali o café é completo e ricamente preparado e ornamentado. Acompanha leite, frutas, doces, geléias, manteiga, presuntos, queijos, requeijões e uma variedade de pães (pão francês, pão doce, pão de batata, pão de queijo, pão de milho), bolos, broas e biscoitos.
Depois quando chega ao trabalho, há sempre um cafezinho à espera. Lá pelas 9horas, outro intervalo para tomar café e comer alguns biscoitos. No trabalho há sempre um espaço social para este lanche em que o café é item essencial. Quando chega alguém, serve-se de novo o cafezinho. Assim, tomam-se quantos cafés foram necessários para agradar ou receber alguém, iniciar uma conversa de negócio ou amizade. Até mesmo iniciar um namoro ou sedução.
Depois do almoço, sempre há um bom café para tomar. Pois segundo a tradição, o café serve ‘para ajudar na digestão’. Hoje a tradição do café expresso, tipo italiano, já está sendo introduzido no Brasil, principalmente, pelas pessoas que tiveram oportunidade de viajar ao exterior ou morar fora do Brasil por alguns anos. O café expresso torna-se um vício.
Lá pela tardinha, três ou quatro horas da tarde, é hora do encontro do café. Um encontro mais demorado, mais descontraído, mais recheado de guloseimas também. Pois ai vem o pão de queijo, o queijo do Serro ou frescal, manteiga, requeijão, biscoitos, bolos e doces. O intervalo para o cafezinho faz parte do ritual diário do brasileiro seja em casa seja na empresa.
Mais tarde, em vez do jantar, vamos sentar-se à mesa para mais um café requintado. No meio da noite ou antes de dormir, o café requintado acompanhado de guloseimas, é mais uma vez servido como última refeição do dia do mineiro e do brasileiro.
Aqui em Belo Horizonte, a gente tinha um ponto de encontro na Praça Sete, no centro da cidade, nas esquinas das avenidas Amazonas e Afonso Pena. Era o Café Pérola. Ali se encontravam pessoas diversas das mais variadas idades e posições sociais para tomar um cafezinho e prosear um pouco. O ponto de encontro serviu também para as campanhas políticas de vereador, deputado e presidente da República. Todos os candidatos, de Collor a Lula, pararam ali para tomar um cafezinho e cumprimentar as pessoas. Ali o cardápio tem dois itens: um cafezinho e boa prosa. Nada mais, mas já é o bastante para dar resultado.
ALGUMAS ESTÓRIAS/HISTÓRIAS
Vou relacionar aqui alguns causos do café aqui em Minas e também no mundo, nos lugares onde passei em minhas andanças como repórter.

1
Em campanha política, com alguns candidatos, a gente percorria vários pontos da cidade, bairros pobres e bairros ricos. O candidato quando anda pelas ruas e é chamado a entrar em uma casa, recebe logo um cafezinho. ‘Vem cá doutor tomar um cafezinho’. O político não pode negar, tem que aceitar. Ai há vários tipos de cafés: quente, morno, sem doce, amargo, fraco, forte! Tomar o café é sinal de simpatia e adesão ao candidato. Às vezes o café vem com pó, ou está sem doce, o sorriso tem que ser igual senão atrapalha o encontro. Já vi candidatos passarem apertado com a quantidade de café e a qualidade do mesmo. .O café é forte e gostoso nos bairros ricos e fraco e amargo nas favelas.
2
Cada região e cada povo têm sua própria forma de tomar café. O mineiro toma um cafezinho depressa, engole rápido, até queima a língua, conversa e vai embora. O francês toma lentamente o cafezinho, deixa esfriar, e em torno de uma xícara, conversa mais de uma hora. Em Portugal, toma-se uma Bica de Café, é o nome do cafezinho. Em São Paulo, o paulista gosta da média de café (café com leite servido em xícara ou copo grande). No Rio, o carioca, gosta do pingado, o café com leite que pode ser grande ou pequeno. Na Bahia, toma-se café saboreando um acarajé ou comendo um cassetinho (pão de sal). No Nordeste brasileiro, toma-se café com cuscus ou tapioca. Já o grego faz o café e deixa o pó na xícara. Come um pão de bisnaga só com uma xícara. O inglês prefere o chá preto (da Índia), mas toma café em alguns momentos. O irlandês já prefere o café frio, com chantilly e uísque, e demora em tomar, aproveitando para conversar. O hindu toma café com leite e alguns lugares da Índia, como o Cachemira, usa-se o sal e não o açúcar (por causa da altitude, o sal não deixa a pressão cair). O italiano é quem criou o café expresso, uma receita que conquistou o mundo. Usa-se boa quantidade de pó para fazer apenas uma pequena xícara de café. A bebida, assim, fica mais forte.
3
Uma vez em viagem nos Estados Unidos, na Flórida, com minha esposa, ficamos em um hotel em Miami. No primeiro dia o café veio como um primeiro almoço: café, leite, omelete, frutas, sucos, presuntos, salsichas, torradas, croisants, bolos, biscoitos, pães, queijos. No segundo dia, minha esposa quis mudar e pediu um café tropical. O garçom serviu uma xícara de café com leite, uma croissant, um pão com manteiga. Só. Ela tomou um grande susto, pois, pensou que café tropical seria com maior variedade de frutas e sucos de frutas tropicais.
4
A primeira vez que fui à Rússia, em Moscou, ficamos em hotel categoria internacional. O garçom, pela manhã, serviu na mesa o café russo. No cardápio café, leite, pão, omelete, queijo, presunto, salsicha, ovos mexidos, repolho, batata cozida, sucos e frutas diversas. Um verdadeiro almoço. O que chamou a atenção foram a batata cozida e o repolho fatiado e bem temperado. Dá para sustentar bem!
5
Num congresso de Comunicação, em Belo Horizonte, no Hotel Mercure, os congressistas recebem convite para um Café Mineiro às 19hs, em lugar do famoso coquetel de abertura. Todo mundo estranhou. Foi todo mundo em vestido, terno e gravata, para o local do evento. Foi uma surpresa. Na entrada da sala, degustação de cachaça mineira, com torresmo, lingüiça, mandioca frita. Numa mesa, os caldos mineiros: dobradinha, caldo de feijão, caldo de mandioca, canjiquinha, caldo verde. Noutra mesa, bolos, biscoitos, queijos, doces. Noutra feijão tropeiro, costelinha de porco com mandioca, pão de queijo, pastel de angu. Nada de café.
6
Uma vez fomos a Portugal, chegamos a Lisboa e de lá para a casa de amigos. No outro dia, fomos a Sintra, cidade termal perto de Lisboa, onde os reis tinham o palácio de verão. Lá entramos na cafeteria mais conhecida para tomar um cafezinho. Na mesa, escrevemos um cartão postal para enviar a amigos e parentes de Minas Gerais com os seguintes dizeres: “Chegamos a Portugal. Enfrentamos a bicha. Entramos no comboio. Chegamos a Sintra. Entramos na periquita da mulher. Tomamos uma bica e comemos um travesseiro”. Tradução: Chegamos a Portugal, onde tinha fila imensa. Pegamos o trem até Sintra. Fomos tomar café (biquinha de café) no bar Periquita, de conhecida portuguesa. Comemos um pão folhado de amêndoas conhecido como travesseiro. A tradição de tomar cafezinho em Portugal chegou com os brasileiros. Os primeiros expressos em Portugal foram vendidos no café A Brasileira, em Lisboa. Muitos clientes acharam o gosto do produto um tanto amargo. Para contornar o problema, a direção da cafeteria criou um slogan para atrair os clientes: Beba Isso Com Açúcar. A campanha deu certo e a frase ficou tão marcada que o uso das iniciais de cada palavra - bica - passou a ser sinônimo de cafezinho no país.
7
Existem muitas curiosidades mundiais do café. Pois, o café é, ao lado da cerveja, a bebida mais popular do planeta. Apesar da preferência, as suas formas de consumo são tão diversas, que podem fazer com que o consumidor mais desavisado tenha grandes surpresas. Isto se reflete nas variadas receitas de café que encontramos no Brasil e em Minas Gerais em função da variedade da influência cultural. Veja como o café é consumido em alguns lugares do mundo. Na França, ele é bebido juntamente com chicória. Na Áustria, pode-se beber o produto juntamente com figo secos, sendo que em Viena, a capital, é uma tradição o oferecimento de bolos e doces para acompanhar o café com chantilly. Na África e Oriente Médico, acentua-se o sabor do café com algumas especiarias como canela, cardomomo, alho ou gengibre. Na Bélgica, o café é servido com um pequeno pedaço de chocolate, colocado na xícara, que logo se derrete dando outro sabor ao café. Na Itália, a preferência é pelo café expresso servido em xícaras pequenas. Na Grécia, ele é acompanhado por um copo de água gelada. Em Cuba, o café doce e tomado de um só gole. No Sul da Índia, o café é misturado com açúcar e leite e servido com doces. Na Alemanha, em algumas regiões é servido com leite condensado ou chantilly. Na Suíça, adiciona-se ao café um licor, o "kirsch". No México, em muitos lugares, o café é oferecido gratuitamente e pode ser consumido em grandes quantidades. O chamado café americano, como é conhecido no México, é o mais consumido e é uma cópia do que se bebia até poucos anos nos Estados Unidos: aguado e com pouco sabor
8
Minha avó materna tinha poderes de fazer previsões e dizia que se podia ver o futuro nas borras de café do coador. É uma santa arte divinatória praticada em Minas Gerais, e conhecida pelo folclore. A leitura da borra é chamada de cafeomancia. Para que esta leitura seja feita, deve-se observar a figura que se formou no fundo da xícara. Hoje, este costume tem uma difusão forte entre alguns grupos isolados, como os ciganos, por exemplo e nas classes populares. No entanto, relatos apontam que a cafeomancia já foi muito mais forte e responsável, inclusive, por algumas decisões de grande vulto na história. Para se iniciar a consulta, deve se esperar que o café esfrie um pouco. O consultante deve começar a tomar lentamente e concentrar-se no que deseja saber. Assim que tiver terminado, a xícara deve ser coberta com um pires e virada de cabeça para baixo com um movimento rápido. Depois, usando a intuição deve-se observar as formas que irão aparecer. Os manuais de cafeomancia dispõem que uma boa leitura depende de dois fatores: o conhecimento do significado das figuras e o local em que elas aparecem na xícara. Se as imagens se formarem à esquerda da asa é sinal de que está sofrendo influência do passado. À direita, significa que está sob influência de fatos futuros; próxima da asa ou da borda, indica que o resultado da sua leitura aparecerá mais rápido; nas laterais, os acontecimentos serão mais para o futuro.
RECEITAS MINEIRAS
BISCOITO MENTIRA
Uma vez, a Comissão Mineira de Folclore resolveu fazer uma reunião, um encontro em forma de confraternização, em cada do folclorista e jornalista Carlos Felipe. Cada um levou um tipo de coisa: biscoitos, bolos, pães diversos, quitandas. O Frei Xico, franciscano holandês, pesquisador de folclore, levou uma novidade: Mentira, um tipo de biscoito, em forma de farrapos (formato irregular), mas muito saboroso. Foi um sucesso. Eis a receita:
INGREDIENTES
- 2 xícaras de chá de açúcar
- 1 xícara de farinha de trigo
- 2 ovos
MODO DE PREPARO
Bater os ovos como para pão de ló, juntando aos poucos o açúcar e a farinha. Pingar numa assadeira untada e polvilhada. Assar em forno quente.
CAFÉ TEMPERADO
Nos dias quentes de verão, nas fazendas mineiras, costuma-se tomar um café diferente à tardinha. Em algumas de minhas andanças aprendi a receita abaixo conhecida como Café Temperado.
INGREDIENTES
-3 xícaras (chá) de café solúvel de boa qualidade, quente e forte, feito com sete colheres (chá)
-2 favas de baunilha abertas ao meio
-4 cravos da Índia
-folhas de hortelã
-4 colheres (sopa) de creme de leite fresco
-gelo moído
-Açúcar a gosto
MODO DE PREPARO
Coloque o café quente sobre a baunilha e os cravos da Índia e deixe descansar por uma hora. Coe o café e adicione o creme de leite. Adoce a gosto. Coloque o gelo moído nos copos altos, acrescente a mistura e sirva com canudos. Decore com folhas de hortelã.
CACHAFÉ
Mineiro, que é da gema mesmo, usa cachaça para dar gosto ao café. É o Cachafé. Usa-me muito nas noites frias das montanhas de Minas. Ajuda a esquentar e passar o frio.
INGREDIENTES
-2 colheres (sopa) de gelo moído
-100 ml de cachaça de boa qualidade
-100 ml de licor de creme
-100 ml de café de boa qualidade, forte e gelado
MODO DE PREPARO
Coloque o gelo em um copo alto e acrescente a cachaça, o licor e o café. Se preferir, acrescente açúcar a gosto e mexa. Sirva com canudo e decore o copo como você preferir.
BOLO DE BANANA COM CAFÉ E CASTANHA PICADA
Cada vovó tem suas receitas que guarda em caderno com muito carinho. Quando quer fazer uma coisa diferente, vai lá no baú, tira o caderno e prepara a receita. Vai ai uma receita diferente de bolo do fundo do baú da mineiridade.
INGREDIENTES
-7 bananas
-3 xícaras de farinha de rosca
-3 xícaras de açúcar
-5 ovos
-uma xícara de óleo
-uma colher de sopa de café solúvel de boa qualidade
-uma colher (sopa) de fermento
-100g de castanha picada
MODO DE PREPARO
Bata no liquidificador as bananas, os ovos e o óleo. Misture com os demais ingredientes, acrescentando por último o fermento e castanha picada. Leve ao forno (temperatura média) para assar em uma forma untada com manteiga e farinha de rosca por 40 minutos.
JIRAMISSÚ
Variedade e criatividade na cozinha. Este é um traço fundamental da culinária mineira. Ela reflete a influência cultural de vários povos, além do branco português, do negro africano e o índio. Pois aqui em Minas recebemos libaneses, sírios, turcos e outros povos árabes, franceses, espanhóis, alemães, italianos, holandeses, japoneses, chineses, gregos e muito mais. Portanto a nossa cultura é uma mistura de tudo isto. Segue ai uma receita de Jiramissú para saborear no calor do verão.
INGREDIENTES
-6 gemas
-1/2 xícara de chá de açúcar
-1 pitada de sal
-450g de requeijão firme
-2 xícaras de chá de café de boa qualidade, frio e forte
-30 biscoitos champagne com açúcar fino
-1 colher de chá de baunilha
-2 colheres de sopa de licor de cacau
-100g de chocolate meio amargo raspado
MODO DE PREPARO
Bata por 5 minutos as gemas, o açúcar, sal e a baunilha na batedeira. Acrescente o requeijão e bata até ficar cremoso e firme. Reserve. Em um prato fundo coloque o café e o licor, molhando rapidamente parte dos biscoitos nessa mistura. Forre o fundo e as laterais de seis xícaras de chá com biscoitos. Despeje a mistura de queijo e o chocolate ralado. Molhe os biscoitos restantes, arranje-os em pé nas laterais das xícaras e coloque o restante da mistura para firmá-los. Por cima coloque o restante do chocolate. Gele por 4 horas antes de servir.