sexta-feira, 23 de setembro de 2016

ABRAHAN MOLES E SUAS IDÉIAS COMUNICACIONAIS

ABRAHAN MOLES E SUAS IDÉIAS COMUNICACIONAIS 
UMA BREVE BIOGRAFIA DE ABRAHAM ANDRE MOLES
(Paris,1920-Estrasburgo, 1992)


 
 
POR SEBASTIÃO BREGUEZ
Ex-aluno de Moles no Instituto de Comunicação de Estrasburgo, França

Estudei com o professor Abraham Moles, no Instituto de Comunicação da Universidade  de Estrasburgo, na Alsácia, França no período de 1980-1983.  Já conhecia suas teorias na área de Comunicação Cultural. Seus livros tinham sido traduzidos no Brasil pela Editora Perspectiva, de São Paulo. Fui amigo pessoal dele e sua sua esposa, a jornalista Elizabeth Rohmer e frequentava sua casa. Fiz mestrado (com a tese sobre Comunicação e Animação Cultural) e doutorado (com a tese Ensaios sobre a Teoria dos Microacontecimentos).
 
Abraham André Moles era doutor em Filosofia e em Física ficou conhecido mundialmente ao criar a Teoria Informacional da Percepção nos anos 1950. Mais tarde foca suas pesquisas nas questões entre a cultura de massa e a comunicação. No final de sua vida cria a Micropsicologia e procura direcionar seus estudos para a teoria dos atos e a vida cotidiana. Sua antiga residência, em Estrasburgo, na Alsácia, França Germânica, hoje abriga a Associação Internacional de Micropsicologia, que é dirigida por sua esposa Elizabeth Rohmer. Antes de falecer, em 1992, estava preparando um livro sobre A Comunicação Através de Redes e Cabos. Seu último livro publicado foi sobre A TEORIA ESTRUTURAL DA COMUNICAÇÃO. 

 Foi o primeiro a aplicar a cibernética aos saberes humanos e sociais, tendo lecionado sobre o assunto na Hochschule jür Gestaltung de Ulm e em várias universidades americanas e alemãs. Autor de mais de 200 publicações científicas e livros. Entre eles: Struture Physique du Signal Musical et Phonétique, (1952), sua tese para a Sorbonne, onde se diplomou, Physique et Technique du Bruit, (1952), La Création Scientifique, (1957), Théorie de 1'nformation et Perception Esthétique, (1958), Communications et Langages, (1963), em colaboração com Bernard Vallancient), e Sociodynamique de la Culture, (1967). Entre os últimos L’Image Communication Fonctionnelle (1981), Théorie Structurale de la Communication et Societé (1995), Théorie des Actes (1985), Psychologie de l’espace (1998).

Dirigiu um grupo de Metodologia Prospectiva na École d'Organisation Scientifique du Travail e foi Diretor do Instituto de Psicologia Social das Comunicações da Universidade de Estrasburgo. Nas suas várias obras, Moles procura pesquisar quais são as condições de existência do homem em relação ao saber e à sociedade. Daí sua preocupação com a teoria dos objetos, da qual é um dos grandes impulsionadores. A influencia de femenologia (cuja base é Husserl) é notável e dá novas dimensões à sua aplicação da cibernética aos saberes humanos.
 
Moles procura tomar consciência do papel do artista e do intelectual na sociedade contemporânea. Afirma a necessidade dos indivíduos dilatarem sua esfera pessoal com objetos e atos que pertençam à esfera do outro, da natureza e da sociedade. Para isto se deve dar em troca o seu trabalho ou sua criação (enquanto o homem econômico do século passado procurava obter o máximo possível de seu semelhante em troca do mínimo possível de si mesmo). Em nossa época, trata-se do consumidor. Então, o homem contemporâneo procura-se um novo domínio de valores: a beleza. A sociedade de consumo banaliza as obras de arte: um monumento fotografado perde a unicidade e a aura (influencia de Walter Benjamin).
 
Se o artista não se quiser trair: lº — tem que criar "novas artes" ao invés de fazer "novas obras" em artes já existentes: é a metacriação; 2º — pode fazer obras para si próprio (a "Estética dos deuses" de que tanto fala Max Bense); 3º — tem que criar programas cibernéticos que possam estender bastante sua capacidade de realização (como em certas modalidade do chamado "poema concreto") .
 
Entende ainda Moles que sob a influência do bem-estar as velhas estruturas de classe social, baseadas no acesso à riqueza, dissolvem-se progressivamente. E que o intelectual consegue sobreviver nesta nova estrutura isolando-se num gueto. Suas criações são "traduzidas" numa linguagem mais acessível ao consumo pelo terceiro homem, que fará a "ópera para quem não gosta de ópera" ou a quadrinização dos clássicos. Posto diante da sociedade dominada pelos tecnocratas só há criação para o intelectual quando ele se opuser a isto.
 
Só que o intelectual também quer ter acesso às conquistas materiais desta civilização para a qual contribui com sua negatividade ("Es ist nicht só, es ist ganz anders") . A solução de Moles é que se deve "procurar nos interstícios dos blocos da lei e encontrar nestes labirintos uma fonte de liberdade". Para isto será necessário uma criatividade (Moreno), um estilo de vida no cotidiano (Lefèbvre) e uma força revolucionária (Nietzsche).
 
Já na perspectiva de uma teoria da cultura , Moles afirma a possibilidade de uma ciência experimental sobre o homem, pois todo indivíduo humano pode ter seu comportamento quase plenamente determinado pela soma de 1) um capital hereditário edificando a estrutura geral de seu programa; 2) os acontecimentos de sua história pessoal, inscritos por seus reflexos condicionados e por sua memória neste organismo e definindo sua "personalidade" (cultura pessoal); 3) seu meio atual ao qual este organismo reage" . Se se conhecem os fatores acima "todas as modalidades do comportamento presente e futuro deste indivíduo podem ser enunciados com a mesma exatidão da descrição de um sistema físico-químico".
 
Daí a noção de uma sociedade fechada: "Mostramos que a cada canal da cultura, escrita ou falada, pintura, cinema ou música, textos impressos, publicações científicas, correspondia um circuito diferente com caracteres diferentes: em participar o atraso da reação do meio sobre os indivíduos que aí estão imersos e a intensidade desta reação são, em cada caso, elementos característicos do circuito particular encarado. Á sociedade em seu conjunto nos oferece, então, uma imensa rede de circuitos culturais, todos diferentes e entrelaçados, mas observando, contudo, algumas leis gerais que pusemos em evidência nas conclusões.
 
Desta noção fundamental de um ciclo de reação entre produtor e consumidor da cultura, que faz a última se assemelhar a uma dessas mercadorias que são ob-jeto da economia política, salientam-se regras de ação que deveriam permitir agir sobre as constantes características deste ciclo e, através disto, agir sobre a própria cultura de um conjunto social considerado como um sistema mais ou menos fechado. Esta ação possível é fundamental no devir humano na medida mesmo em que o homem está integrado em sua cultura" .

Sociedade fechada e criação estão em processo de reação dialética. Esta seria a tese fundamental da obra de Moles em relação à teoria da cultura.


BIBLIOGRAFIA DE ABRAHAM MOLES

Physique et technique du bruit, Paris, Dunod, 1952
La Création scientifique, Genève, Kister, 1957
Musiques expérimentales, Zurich, Cercle d'art, 1961
Communications et langages, (en collaboration avec B. Vallancien), Paris, Gauthier-Villars, 1963
Phonétique et phonation, (en collaboration avec B. Vallancien) Paris, Masson, 1966
L'affiche dans la société urbaine, Paris, Dunod, 1969
Créativité et méthodes d'innovation, Paris, Fayard, 1970
Arte e computador (1990), Portugal: Ed. Afrontamento, Coleção Grande Angular 3 / Art et ordinateur, Paris, Casterman, 1971
Teoria dos objetos (1981), Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, Coleção Biblioteca do Tempo Universitário / Théorie des objets, Paris, Ed. Universitaires, 1972
Psychologie de l'espace, (En collaboration avec Élisabeth Rohmer), Paris, Casterman, 1972
Teoria da informação e percepção estética (1978), Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, Coleção Biblioteca Tempo Universitário; Brasília, Ed. UNB / Théorie de l'information et perception esthétique, Paris, Denoël, 1973
Sociodinâmica da cultura, Ed. Perspetciva, Coleção Estudos, volume 15 / Sociodynamique de la culture, Paris, Mouton, 1973
La Communication, Paris, Marabout, 1973
Micropsychologie et vie quotidienne, (En collaboration avec Élisabeth Rohmer), Paris, Denoël, 1976
O kitsch (1998), Ed. Perspectiva, Coleção Debates, volume 68, Tradução Sergio Miceli / Psychologie du kitsch, Paris, Ed. Denoël, 1977
Théorie des actes, (En collaboration avec Élisabeth Rohmer), Paris, Casterman, 1977
L'image, communication fonctionnelle, Paris, Casterman, 1981
Labyrinthes du vécu, Paris, Klincksieck, 1982
Théorie structurale de la communication et société, Paris, Masson, 1986
As ciências do impreciso (1995), Ed. Civilização Brasileira / Les sciences de l'imprécis, (En collaboration avec Élisabeth Rohmer), Paris, Ed. Seuil, 1990
Psychosociologie de l'espace, (En collaboration avec Élisabeth Rohmer), textes rassemblés, mis en forme et présentés par Victor Schwach, Paris, L'Harmattan, 1998