FIDEL
CASTRO, UM DOS FENOMENOS DO SÉCULO XX
Fidel Castro e Che Guevara
Este
artigo tem o objetivo de relatar a importância de Fidel Castro e Revolução
Cubana para a geração 1968, da qual faço parte. As figuras de Fidel e Che Guevara, suas ideias e até mesmo seu visual, como a barba, foram ícones e signos
importantes para a juventude brasileira dos anos 1968.
O líder da Revolução que desafiou os Estados Unidos
e sacudiu a América Latina foi enterrado neste domingo após uma semana de
grandes homenagens. Os restos mortais de um dos protagonistas do último
século, que governou com mão-de-ferro por quase 50 anos, já repousam no
cemitério Santa Ifigênia, em Santiago de Cuba. A urna com as cinzas foi
colocada dentro de uma pedra oval com uma placa de mármore verde-escura com a
palavra "Fidel" inscrita em alto relevo. "Não houve discurso,
foi muito sóbrio, só as cinzas foram enterradas ante a família, membros do
governo e funcionários", disse à imprensa a número três do governo
francês, a ministra do Meio Ambiente Segolene Royal, uma das convidadas
estrangeiras. Ele foi enterrado ao lado do mausoléu de José Marti, líder independentista
cubano. Assim, terminou uma
semana de grandes tributos ao ex-guerrilheiro barbudo que montou um regime
comunista a menos de 200 km dos Estados Unidos e foi implacável com os
opositores.
Fidel Castro (Birán, 13 de
agosto de 1926-Havana, 25 de novembro 2016) morreu, mas deixou saudades. Ele
foi líder de uma revolução social e política que se transformou um dos
principais mitos do século XX. Transformou a ilha de Cuba em um modelo de qualidade
de vida, de alfabetização e educação, além de um sistema de saúde exemplar. Com
a morte de Fidel, Cuba entrou para o Pós-Fidel e com várias incertezas sobre o
seu futuro.
A Revolução Cubana foi um mito
para muitas gerações de jovens dos anos pós 1960. Uma admiração sem igual dos
ideais sociais, políticos e econômicos de de Fidel e Che Guevara tocaram a
minha geração. Uma geração que viveu os anos rebeldes de 1968, com a Revolução
Jovem, desafiando os valores, a moral e a ética da época. Jovens igual eu que
devoravam os livros marxistas, inclusive, os livros de Che Guevara, que
chegavam ao Brasil clandestinamente. O uso da barba e calças jeans foram
adotados pelos jovens de minha geração. Uma forma de protesto que se institucionalizou
como modelo visual. O ideal de Fidel e Che Guevara
entusiasmou a geração 1968 no Brasil e no mundo. Muitos jovens partiram para a
guerrilha para tentar fazer o mesmo aqui. Particularmente, não entrei para a
guerrilha, mas participei intensamente do movimento estudantil, agitando a
massa para lutar por transformações sociais.
De um simples movimento para
derrubar um ditador, a Revolução Cubana se transformou em ideal para todos que
desejam uma sociedade mais justa e saudável para todos. O movimento
revolucionário cubano tinha objetivo de derrubar o ditador Batista. Fidel
Castro e os revolucionários não eram marxistas e nem tinham apoio de Moscou. Só
se alinharam com a União Soviética e o comunismo depois que os Estados Unidos
negaram apoio aos revolucionários e começaram com represálias.
Mas o que transformou Cuba em
um mito do século XX é o fato de que estávamos em plena Guerra Fria. O mundo se
dividia, ideologicamente, em dois polos: países liderados pelos EUA e países
liderados pela União Soviética. A
pequena ilha de Cuba, encostada nos EUA, foi uma pedra no nariz do país chefe
do capitalismo. O grande país, o Estado com maior potencial militar do mundo,
ficou impotente e sem ação diante do fenômeno Cuba. Tinham medo de atacar Cuba
e serem alvo de misseis nucleares soviéticos. Tinham medo de uma guerra nuclear
que poderia destruir bastante o planeta Terra e afetar a sobrevivência de todos
os povos.
O episódio Cuba foi como a
façanha de David: um pequeno vence o gigante Golias com uso da inteligência e
sabedoria. Os EUA foram humilhados pela a ilha de Cuba e nunca engoliram isto.
Talvez seja isto a razão do assassinato de Kennedy, em 1963. Porque ele não
soube resolver isto com a força do maior país do mundo. O que deve ter afetado
a ‘moral’ norte-americana em plena Guerra Fria.
Guerra Fria é
a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e
conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo
o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União
Soviética (1991), um conflito de ordem política, militar, tecnológica,
econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.
É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as duas
superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. A
corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares
foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria,
estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos
anos 1980 com o projeto do presidente dos Estados
Unidos Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".
Em 1961, uma força militar treinada e financiada
pelo governo de John F. Kennedy, composta por exilados cubanos, tenta invadir o
país através da baía dos Porcos. No ano seguinte, Cuba foi expulsa da Organização
dos Estados Americanos (OEA) graças à influência dos Estados Unidos, só sendo
readmitida 47 anos depois. No mesmo ano, o governo norte-americano impôs um
embargo econômico que perdura até os dias de hoje. Os graves conflitos de
interesse entre Cuba e Estados Unidos acabaram forçando a aproximação do
governo cubano com a União Soviética.
Em 1962, Cuba permitiu a instalação, em seu
território, de mísseis nucleares soviéticos. Kennedy reagiu duramente à
estratégia militar soviética, considerando-a uma perigosa ameaça à segurança
nacional americana. Ocorreu então o episódio que ficaria conhecido como crise
dos mísseis cubanos. Numa verdadeira mobilização de guerra, os Estados Unidos
impuseram um poderoso bloqueio naval à ilha de Cuba, forçando os soviéticos a
desistirem dos planos de instalação dos mísseis no continente americano. A
crise dos mísseis é reconhecida como um dos momentos mais dramáticos da Guerra
Fria.
Após quase cinquenta e três anos de governo de
Castro, Cuba exibe seus melhores êxitos no campo social, tendo conseguido
eliminar o analfabetismo, implementar um sistema de saúde pública universal,
diminuir significativamente as taxas de mortalidade infantil e reduzir o índice
de desemprego. No campo político, no entanto, Cuba segue com um sistema de
partido único, o Partido Comunista Cubano, apontado como um sistema ditatorial,
apesar de que, no país, são realizados dois tipos de eleições, as parciais, a
cada dois anos e meio, para eleger delegados, e as gerais, a cada cinco, para
eleger os deputados nacionais e integrantes das assembleias provinciais. Até o
final da década de 1960, todos os jornais de oposição haviam sido fechados, e
toda informação foi posta sob rígido controle estatal, o que se segue até os
dias de hoje. Num único ano, cerca de 20 mil dissidentes políticos foram
presos. Estimativas indicam que cerca de 15 a 17 mil cubanos tenham sido
executados durante o regime. Homossexuais, religiosos, e outros grupos foram
mandados para campos de trabalhos forçados, onde foram submetidos a
"re-educação" segundo o que o Estado considera correto.
Apesar do sucesso nas áreas de saúde, igualdade
social, educação e pesquisa científica, houve fracasso no campo das liberdades
individuais, além disso, o governo de Castro também foi um fracasso no campo
econômico. Não conseguiu diversificar a agricultura do país e tampouco
estimular a industrialização. A economia segue dependente da exportação de
açúcar e de fumo. Às deficiências do regime, soma-se o embargo imposto pelos
Estados Unidos, que utilizam sua influência política para impedir que países e
empresas mantenham negócios com Cuba.
Enfim, o que importa para a juventude 1968, é que o
ideal de Fidel/Che Guevara nutriu e alimentou a vontade de transformar o Brasil
em país de justiça social, de menos desigualdades sociais e melhor qualidade de
vida para todos. Este ideal prevalece até hoje. Como um socialismo utópico.
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