terça-feira, 6 de dezembro de 2016

FIDEL CASTRO, UM DOS FENOMENOS DO SÉCULO XX

Fidel Castro e Che Guevara


Este artigo tem o objetivo de relatar a importância de Fidel Castro e Revolução Cubana para a geração 1968, da qual faço parte. As figuras de Fidel e Che Guevara, suas ideias e até mesmo seu visual, como a barba, foram ícones e signos importantes para a juventude brasileira dos anos 1968.

O líder da Revolução que desafiou os Estados Unidos e sacudiu a América Latina foi enterrado neste domingo após uma semana de grandes homenagens. Os restos mortais de um dos protagonistas do último século, que governou com mão-de-ferro por quase 50 anos, já repousam no cemitério Santa Ifigênia, em Santiago de Cuba. A urna com as cinzas foi colocada dentro de uma pedra oval com uma placa de mármore verde-escura com a palavra "Fidel" inscrita em alto relevo. "Não houve discurso, foi muito sóbrio, só as cinzas foram enterradas ante a família, membros do governo e funcionários", disse à imprensa a número três do governo francês, a ministra do Meio Ambiente Segolene Royal, uma das convidadas estrangeiras. Ele foi enterrado ao lado do mausoléu de José Marti, líder independentista cubano. Assim, terminou uma semana de grandes tributos ao ex-guerrilheiro barbudo que montou um regime comunista a menos de 200 km dos Estados Unidos e foi implacável com os opositores.

Fidel Castro (Birán, 13 de agosto de 1926-Havana, 25 de novembro 2016) morreu, mas deixou saudades. Ele foi líder de uma revolução social e política que se transformou um dos principais mitos do século XX. Transformou a ilha de Cuba em um modelo de qualidade de vida, de alfabetização e educação, além de um sistema de saúde exemplar. Com a morte de Fidel, Cuba entrou para o Pós-Fidel e com várias incertezas sobre o seu futuro.

A Revolução Cubana foi um mito para muitas gerações de jovens dos anos pós 1960. Uma admiração sem igual dos ideais sociais, políticos e econômicos de de Fidel e Che Guevara tocaram a minha geração. Uma geração que viveu os anos rebeldes de 1968, com a Revolução Jovem, desafiando os valores, a moral e a ética da época. Jovens igual eu que devoravam os livros marxistas, inclusive, os livros de Che Guevara, que chegavam ao Brasil clandestinamente. O uso da barba e calças jeans foram adotados pelos jovens de minha geração. Uma forma de protesto que se institucionalizou como modelo visual. O ideal de Fidel e Che Guevara entusiasmou a geração 1968 no Brasil e no mundo. Muitos jovens partiram para a guerrilha para tentar fazer o mesmo aqui. Particularmente, não entrei para a guerrilha, mas participei intensamente do movimento estudantil, agitando a massa para lutar por transformações sociais.

De um simples movimento para derrubar um ditador, a Revolução Cubana se transformou em ideal para todos que desejam uma sociedade mais justa e saudável para todos. O movimento revolucionário cubano tinha objetivo de derrubar o ditador Batista. Fidel Castro e os revolucionários não eram marxistas e nem tinham apoio de Moscou. Só se alinharam com a União Soviética e o comunismo depois que os Estados Unidos negaram apoio aos revolucionários e começaram com represálias.

Mas o que transformou Cuba em um mito do século XX é o fato de que estávamos em plena Guerra Fria. O mundo se dividia, ideologicamente, em dois polos: países liderados pelos EUA e países liderados pela União Soviética.  A pequena ilha de Cuba, encostada nos EUA, foi uma pedra no nariz do país chefe do capitalismo. O grande país, o Estado com maior potencial militar do mundo, ficou impotente e sem ação diante do fenômeno Cuba. Tinham medo de atacar Cuba e serem alvo de misseis nucleares soviéticos. Tinham medo de uma guerra nuclear que poderia destruir bastante o planeta Terra e afetar a sobrevivência de todos os povos.

O episódio Cuba foi como a façanha de David: um pequeno vence o gigante Golias com uso da inteligência e sabedoria. Os EUA foram humilhados pela a ilha de Cuba e nunca engoliram isto. Talvez seja isto a razão do assassinato de Kennedy, em 1963. Porque ele não soube resolver isto com a força do maior país do mundo. O que deve ter afetado a ‘moral’ norte-americana em plena Guerra Fria.

Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991), um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência. É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".

Em 1961, uma força militar treinada e financiada pelo governo de John F. Kennedy, composta por exilados cubanos, tenta invadir o país através da baía dos Porcos. No ano seguinte, Cuba foi expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA) graças à influência dos Estados Unidos, só sendo readmitida 47 anos depois. No mesmo ano, o governo norte-americano impôs um embargo econômico que perdura até os dias de hoje. Os graves conflitos de interesse entre Cuba e Estados Unidos acabaram forçando a aproximação do governo cubano com a União Soviética.


Em 1962, Cuba permitiu a instalação, em seu território, de mísseis nucleares soviéticos. Kennedy reagiu duramente à estratégia militar soviética, considerando-a uma perigosa ameaça à segurança nacional americana. Ocorreu então o episódio que ficaria conhecido como crise dos mísseis cubanos. Numa verdadeira mobilização de guerra, os Estados Unidos impuseram um poderoso bloqueio naval à ilha de Cuba, forçando os soviéticos a desistirem dos planos de instalação dos mísseis no continente americano. A crise dos mísseis é reconhecida como um dos momentos mais dramáticos da Guerra Fria.


Após quase cinquenta e três anos de governo de Castro, Cuba exibe seus melhores êxitos no campo social, tendo conseguido eliminar o analfabetismo, implementar um sistema de saúde pública universal, diminuir significativamente as taxas de mortalidade infantil e reduzir o índice de desemprego. No campo político, no entanto, Cuba segue com um sistema de partido único, o Partido Comunista Cubano, apontado como um sistema ditatorial, apesar de que, no país, são realizados dois tipos de eleições, as parciais, a cada dois anos e meio, para eleger delegados, e as gerais, a cada cinco, para eleger os deputados nacionais e integrantes das assembleias provinciais. Até o final da década de 1960, todos os jornais de oposição haviam sido fechados, e toda informação foi posta sob rígido controle estatal, o que se segue até os dias de hoje. Num único ano, cerca de 20 mil dissidentes políticos foram presos. Estimativas indicam que cerca de 15 a 17 mil cubanos tenham sido executados durante o regime. Homossexuais, religiosos, e outros grupos foram mandados para campos de trabalhos forçados, onde foram submetidos a "re-educação" segundo o que o Estado considera correto.


Apesar do sucesso nas áreas de saúde, igualdade social, educação e pesquisa científica, houve fracasso no campo das liberdades individuais, além disso, o governo de Castro também foi um fracasso no campo econômico. Não conseguiu diversificar a agricultura do país e tampouco estimular a industrialização. A economia segue dependente da exportação de açúcar e de fumo. Às deficiências do regime, soma-se o embargo imposto pelos Estados Unidos, que utilizam sua influência política para impedir que países e empresas mantenham negócios com Cuba.

Enfim, o que importa para a juventude 1968, é que o ideal de Fidel/Che Guevara nutriu e alimentou a vontade de transformar o Brasil em país de justiça social, de menos desigualdades sociais e melhor qualidade de vida para todos. Este ideal prevalece até hoje. Como um socialismo utópico.






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