quinta-feira, 4 de maio de 2017

FESTAS JUNINAS, UM NOVO CARNAVAL

CARNAVAL JUNINO AGITA O BRASIL

PROF. DR. SEBASTIÃO BREGUEZ,



O Brasil vive três estações de festas populares, que marcam os ciclos festivos de fundo folclórico do país:
o Carnaval em fevereiro/março;as festas juninas ou Carnaval Junino em junho/julho, e o Natal, em dezembro.
Designa-se Carnaval Junino o espetáculo do conjunto das festas juninas com as quadrilhas, as fogueiras, as superstições, as brincadeiras,a gastronomia e as competições dos grupos quadrilheiros em busca da melhor premiação e visibilidade na mídia.

O Brasil vive no mês de junho a agitação das festas juninas em homenagem aos três santos mais populares do Brasil: Santo Antônio, santo dos namorados (aqueles que querem se casar), São João Batista, santo dos casados e São Pedro, santo dos viúvos. Estas festas são importantes no calendário folclórico do país.
A quadrilha, a fogueira e o festival de gastronomia típica são os ícones mais visíveis das festas. Mas a dança, com sua indumentária cada vez mais sofisticada, criativa, atraente e colorida atrai centenas de pessoas para as competições que acontecem não nos sambódromos, mas nos palcos ou junibódromos.. A competição pelo primeiro lugar é tão forte como no carnaval.
Existem dezenas de práticas religiosas e superstições em torno dos três santos comemorados nas festas juninas. Fazem-se compadres, saltando tições de mãos dadas. Caminha-se de pés descalços sobre os brasileiros da fogueira. Moças e rapazes tiram sortes e interpretam sinais recolhidos sob formas de processos ritualísticos na noite de 23, véspera de São João. Diz a lenda que São João dorme enquanto é comemorado. O mundo acaba, caso acorde nessa noite.
Na gastronomia não pode faltar amendoim, canjica, pipoca, batata assada, quentão ou jenjibirra, caldos de mandioca, feijão ou canjiquinha e outros, além de doces diversos. É um festival gastronômico de comidas salgadas, doces, fritas ou assadas. Cada região há predominância dos pratos típicos do lugar.
As festas juninas, entretanto, estão impondo no Brasil um novo calendário festivo ao lado do Carnaval e do Natal. Atraem centenas de pessoas e é um fenômeno que está presente em todos os estados do país, mantendo suas expressões locais e regionais de indumentárias e de gastronomia.
A quadrilha é uma das manifestações das Festas Juninas que são muito importantes no calendário folclórico do Brasil. Elas acontecem no mês de junho em homenagem aos três santos mais populares do povo; Santo Antônio, santo dos namorados ou daqueles que querem se casar; São João Batista, santo dos casados, e São Pedro, santo dos viúvos.
Estas festas têm origem na Antiguidade e acontecem quando há os solstícios de inverno (24 de junho) e de dezembro (24 de dezembro) quando há respectivamente o nascimento de João Batista e de Jesus Cristo. Estas datas correspodem às estações de inverno e de verão. Desde os povos nórticos (eslavos, por exemplo), os gregos e os romanos festejam nestas datas os seus deuses pagãos com fogueiras, danças e devoções diversas.
Para nós, as festas juninas foram introduzidas pelos portugueses no Brasil Colônia e foram incorporadas à cultura brasileira. São uma contribuição do branco ao folclore nacional. As festas juninas sempre foram importantes no nordeste brasileiro. Mas elas existem em todo o Brasil. O que está mudando são a indumentária e as vestimentas que estão cada vez mais requintadas.
Pode-se dizer que Minas Gerais tenham a maior quantidade de quadrilhas do Brasil. Em seus 853 municípios existem escolas municipais, estaduais e particulares. Em cada escola há representação de quadrilhas nos meses de junho e julho. Portanto, é uma quantidade significativa e mostra que as festas juninas, as quadrilhas, a fogueira e a culinária típica é uma das maiores do Brasil.
Mas de onde vem a quadrilha? Não há dúvida alguma que ela chegou ao Brasil através da França. Mário de Andrade a define como "dança de salão, aos pares, de origem francesa, e que no Brasil passou a ser dançada também ao ar livre, nas festas do mês de junho, em louvor a São João, Santo Antônio e São Pedro. Os participantes obedecem às marcas ditadas por um organizador de dança. O acompanhante tradicional é a sanfona". Os estudiosos e pesquisadores musicais dizem que ela foi introduzida no Brasil no século de 19, com a vinda da Corte Real Portuguesa e com as várias missões culturais francesas que estiveram no país na mesma época. E a quadrilha chegou, a São João, Santo Antônio e São Pedro. Para não mais deixar.
Existem duas explicações para o termo festa junina. A primeira explica que surgiu em função das festividades ocorrem durante o mês de junho. Outra versão diz que está festa tem origem em países católicos da Europa e, portanto, seriam em homenagem a São João. No princípio, a festa era chamada de Joanina. De acordo com historiadores, esta festividade foi trazida para o Brasil pelos portugueses, ainda durante o período colonial (época em que o Brasil foi colonizado e governado por Portugal).
Nesta época, havia uma grande influência de elementos culturais portugueses, chineses, espanhóis e franceses. Da França veio a dança marcada, característica típica das danças nobres e que, no Brasil, influenciou muito as típicas quadrilhas. Já a tradição de soltar fogos de artifício veio da China, região de onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Da península Ibérica teria vindo a dança de fitas, muito comum em Portugal e na Espanha.
Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas.
Festas Juninas no Nordeste
Embora sejam comemoradas nos quatro cantos do Brasil, na região Nordeste, as festas ganham uma grande expressão. O mês de junho é o momento de se fazer homenagens aos três santos católicos: São João, São Pedro e Santo Antônio. Como é uma região onde a seca é um problema grave, os nordestinos aproveitam as festividades para agradecer as chuvas raras na região, que servem para manter a agricultura.
Além de alegrar o povo da região, as festas representam um importante momento econômico, pois muitos turistas visitam cidades nordestinas para acompanhar os festejos. Hotéis, comércios e clubes aumentam os lucros e geram empregos nestas cidades. Embora a maioria dos visitantes seja de brasileiros, é cada vez mais comum encontrarmos turistas europeus, asiáticos e norte-americanos que chegam ao Brasil para acompanhar de perto estas festas.
Comidas típicas
Como o mês de junho é a época da colheita do milho, grande parte dos doces, bolos e salgados, relacionados às festividades, são feitos deste alimento. Pamonha, cural, milho cozido, canjica, cuzcuz, pipoca, bolo de milho são apenas alguns exemplos. Além das receitas com milho, também fazem parte do cardápio desta época: arroz doce, bolo de amendoim, bolo de pinhão, bombocado, broa de fubá, cocada, pé-de-moleque, quentão, vinho quente, batata doce e muito mais.
Tradições
As tradições fazem parte das comemorações. O mês de junho é marcado pelas fogueiras, que servem como centro para a famosa dança de quadrilhas. Os balões também compõem este cenário, embora cada vez mais raros em função das leis que proíbem esta prática, em função dos riscos de incêndio que representam.
No Nordeste, ainda é muito comum a formação dos grupos festeiros. Estes grupos ficam andando e cantando pelas ruas das cidades. Vão passando pelas casas, onde os moradores deixam nas janelas e portas uma grande quantidade de comidas e bebidas para serem degustadas pelos festeiros.
Já na região Sudeste são tradicionais a realização de quermesses. Estas festas populares são realizadas por igrejas, colégios, sindicatos e empresas. Possuem barraquinhas com comidas típicas e jogos para animar os visitantes. A dança da quadrilha, geralmente ocorre durante toda a quermesse.
Como Santo Antônio é considerado o santo casamenteiro, são comuns as simpatias para mulheres solteiras que querem se casar. No dia 13 de junho, as igrejas católicas distribuem o “pãozinho de Santo Antônio”. Diz a tradição que o pão bento deve ser colocado junto aos outros mantimentos da casa, para que nunca ocorra a falta. As mulheres que querem se casar, diz a tradição, devem comer deste pão.
Hoje já se sabe que a quadrilha, apesar de sua difusão francesa, tem origens um pouco diferentes. Estudos comparativos, realizados, principalmente por pesquisadores musicais, colocam o nascimento da quadrilha na Inglaterra. Foi naquele país, por volta dos séculos 13 e 14, que teria surgido uma dança popular, executada pelos que trabalhavam no campo.
Era uma dança camponesa, uma dança roceira, uma dança rural. E o que é campo, roça,rural em inglês? A resposta é "country" e a dança executada pelos camponeses era uma"country dance" que nós poderíamos traduzir, ao pé da letra, em português do Brasil, como sendo uma dança roceira, uma dança rural, uma dança caipira.
Para nós, a quadrilha veio da Áustria, com a guarda de honra da princesa imperial, esposa de Pedro I. Veio no conjunto de outras danças de salão, dentre as quais sobressai o "galope". Os jornais do Recife, Rio e São Paulo, do século XIX, trazem programas de festas, carnavalescas inclusive, onde tais danças estavam programadas.
A confusão é por conta da língua em que era "gritada" a marcação da quadrilha, o francês ("En avant toutes..."). Na época o idioma francês era falado por toda nobreza europeia e por boa parte da oficialidade egressa das academias militares de todos os países (Áustria, inclusive e até a distante Rússia). No Brasil, também: lembra da frase de Pedro I ao embarcar a imperatriz ("Madame, priez d'atencion! Vous êtes sans cullote!).
Aqueles soldados levaram a dança para os cabarés do Rio de Janeiro... pronto. Começou a dinâmica, que deu no que deu!
Hoje, a televisão incentiva o surgimento de um folguedo "novo", com forte tendência para o pornográfico no entrecho dramático (o casamento matuto) e coreografias que imitam danças europeias de marcação rigorosa (para os homens) e o quase único passo feminino, que somente se restringe a levantar as saias. É a chamada "quadrilha extilizada", isso mesmo, "extilizada", que é espetacularesca mas está muito longe de ser carnavalesca (pelo menos do padrão carnavalesco que se "brinca" no Recife, Salvador e Rio de Janeiro) seja porque o povão dela não faz parte, seja porque os conjuntos são sempre padronizados (parece que os brincantes estão fardados: você vendo uma fantasia, viu todas).
O professor Paulo de Carvalho-Neto chamava a isso de "folclore in statu nasciendi", agora com uma dinâmica "forçada" pela rede Globo no Nordeste. À medida que foi se popularizando, principalmente no Brasil e em Portugual, o nome "quadrilha" foi começando a ser usado, seguindo, aliás, uma terminologia utilizada na Espanha e na Itália, onde identificava a contradança, dançada por quatro pessoas. Desta "quadrilha de quatro" derivou a "quadrilha geral".
É PRECISO CASAR
O casamento na roça, uma teatralização que, quase sempre, acompanha e integra uma festa junina, não possui, necessariamente, um modelo único. Apesar desta variação, há personagens que quase sempre nunca faltam. Claro, o "noivo e a noiva" não podem faltar. Os pais da noiva, principalmente o pai, armado com uma espingarda daquelas de carregar pela boca, para forçar o noivo a "cumprir o dever". Os pais do noivo, uma namorada também do noivo, que tenta, na última hora, não deixá-lo casar, amigos e amigas do casal, estão sempre presentes. E o padre, evidentemente. Como se pode ter casamento na roça sem o seu vigário? Um padre Bonachão que se transforma na figura mais importante da festa, contando, para isso, com a importante contribuição de uma viúva beata. O casamento termina em quadrilha.
É HORA DA QUADRILHA!
A quadrilha é o momento mais esperado da festa. Depois de casar os noivos, começa o arrasta-pé.
1. Vamos entrando!
Os pares entram de braços dados no arraial, as damas à esquerda dos cavalheiros. Os noivos ficam na frente da fila. Depois, damas e cavalheiros
se separam, formando uma fila de cada lado.
2 - Cavalheiros cumprimentam as damas!
Com os braços atrás das costas, os cavalheiros se aproximam de suas damas e as cumprimentam tirando os chapéus.
Depois, voltam de costas para os seus lugares.
3 - Damas cumprimentam cavalheiros!
Agora é a vez das damas irem até os cavalheiros para cumprimentá-los. Elas também voltam de costas para os seu lugares.
4 - Balancê!
As duas filas se aproximam e os pares requebram frente a frente.
5 - Tour!
Os pares dançam juntos, girando sem sair do lugar.
6 - Começa o passeio!
De braços dados, os casais saem andando até formarem um círculo.
7 - A grande roda!
Todos formam uma roda e giram para a direita.
8 - Damas ao centro!
As damas passam para dentro do círculo formando uma roda.
As damas giram para a direita e os cavalheiros para a esquerda.
9 - Cavalheiros procuram suas damas!
As damas param e os cavalheiros continuam rodando até alcançarem suas companheiras. Eles param à direita delas.
10 - Coroar!
De mãos dadas, os cavalheiros levantam os braços, passando-os por cima da cabeça das damas. Depois, damas e cavalheiros giram para a direita.
11 - Cavalheiros ao centro!
Todos formam a grande roda de novo. Depois, os cavalheiros passam para dentro do círculo e giram para a direita. As damas giram para a esquerda.
12 - Damas procuram seus cavalheiros!
Cavalheiros param e damas continuam rodando até alcançarem seus parceiros. Elas param à esquerda dos seus cavalheiros.
13 - Coroar!
De mãos dadas, as damas levantam os braços passando-os por cima da cabeça dos cavalheiros. Todos giram para a direita.
14 - O caracol!
Forma-se uma nova roda. Depois, o noivo solta a mão direita e vai puxando os outros para dentro da roda, formando um caracol. Chegando ao centro, ele faz o caminho de volta.
15 - Caminho da roça!
Os que forem saindo do caracol formam uma fila única. Todos saem dançando, sempre em fila.
16 - Olha a chuva!
Cobrindo a cabeça com as mãos, todos dão meia-volta e começam a andar para o outro lado.
17 - É mentira
Todos voltam dizendo "Aaahhh!".
18 - Olha a cobra!
Os dançarinos pulam, gritam e dão meia-volta.
19 - Já mataram!
Os participantes voltam dizendo "Aaahhh!"
20 - Continua o passeio!
Os pares continuam o passeio de braços dados, com os noivos na frente.
21 - Atenção! Preparar para o travessê!
Sem parar de dançar, os pares se dividem. Um casal vai para a direita e outro vai para a esquerda, formando duas filas.
22 - Travessê de damas!
Ao ritmo da música, as damas aproximam-se umas das outras, balançando as saias com as mãos, e então se cumprimentam.
23 - Agora é a vez dos cavalheiros!
Os cavalheiros se cumprimentam.
24 - Preparar o galope!
Os casais se abraçam como se fossem dançar.
25 - Começar!
O primeiro casal de uma fila (os noivos) e o último casal da outra fila trocam de lugar, dançando bem rápido.
E assim por diante até todos mudarem a fila. Quando terminarem, os dois outros casais seguintes trocam de lugar.
26 - Descruzar!
Da mesma maneira, os noivos recomeçam a troca e todos voltam aos seus lugares.
27 - Continua o grande passeio!
De braços dados, os casais formam uma fila só e passeiam em ziguezague.
28 - Olha o túnel!
Os noivos ficam frente a frente e, de mãos dadas, levantam os braços. O casal seguinte passa por baixo e, em seguida, também ajuda na formação do túnel e assim por diante.
continuam o passeio. Os outros fazem o mesmo. Quando o túnel estiver totalmente formado, os noivos o atravessam e
29 - Agora, a despedida!
Em fila, os pares vão se despedindo dos convidados. As damas acenam com as mãos e os cavalheiros com os chapéus.
NOTAS
1. Quadrilha quer dizer quatro, dois pares na dança, e tem sentido militar das ordens dos cavaleiros da Idade Média.
2. A linguagem da dança é francês mesmo.
3. É uma dança que mostra a influencia do branco europeu na construção do folclore brasileiro. Assim, ela aparece como expressão da cultura erudita da elite dominante. Depois migra para a cultura popular (folclore) das classes subalternas, folcloriza-se. E hoje é apropriada pela Cultura de Massa como espetáculo que dá audiência e atrai multidões. Faz parte da indústria cultural.
4. Em 2012, a TV Globo promoveu 'o maior São João do Brasil' em Minas Gerais, na cidade de Santa Luzia, a 25 Km de Belo Horizonte, na Fazenda Boa Esperança, patrimônio histórico do município. Fizeram chamadas para a festa durante uma semana e durante o jornal de maior audiência em Minas. Fizeram cobertura do evento no jornal da manhã, da tarde e da noite. Houve festival de quadrilhas que ostentavam vestimentas mais requintadas com júri que escolheu o melhor grupo com premiação. Também o festival de gastronomia típica. A fogueira também não faltou e com os fogos de artificio (OBS: a pólvora é chinesa!). O que chamou atenção foi o show de Elba Ramalho, Luan Santana, Michel Telo. Houve uma correira para compra dos ingressos. Foi um sucesso de bilheteria e de público. Também o ARRAIA DE BELO, promoção da Belotur (empresa da Prefeitura de BH para o turismo) é sucesso. Ele é promovido pela diretoria de marketing que faz o evento nos principais bairros populares de Beagá.
5. Com todo este movimento, os dançarinos de quadrilha estão buscando a profissionalização. Criaram sindicatos, associações, federações, confederações para ter representatividade na sociedade civil. Buscam o reconhecimento da profissão e fazem lobby junto aos deputados para criar a PROFISSÃO DE QUADRILHEIRO. Eles tem sede, oferecem oficinas para ensinar danças, músicas, gastronomia ou curso de costura de roupas para quadrilha. Fazem apresentações pagas em diversos ponto do país e exterior. Acabam promovendo - como o carnaval - a festa junina temporão, fora de época.
6. É neste quadro que escrevi o artigo.
7. A quadrilha é exemplo importante para os estudiosos da Folkcomunicação porque ela circulou nas três culturas: erudita ->popular->de massa=industria cultural.





Um comentário:

  1. ótimo post e como abordaram, queremos aplicar um projeto assim na escola zona norte sp nossos alunos vão amar, gostei demais das dicas nesse post

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