quarta-feira, 22 de março de 2017

FOLKCOMUNICAÇÃO DO VIAGRA

FOLKCOMUNICAÇÃO DO VIAGRA

A Revolução do aparecimento do Viagra no imaginário popular brasileiro.

Prof. Dr. Sebastião Breguez




A Folkcomunicação é uma teoria criada, na década de 1960, pelo pernambucano Luiz Beltrão, criador das Ciências da Comunicação, no Brasil, para designar os estudos dos processos comunicacionais populares nas sociedades em processo de desenvolvimento. Ela engloba duas ciências, a Comunicação e a Antropologia. Ela estuda como se dá esta comunicação entre o popular, o erudito e a comunicação de massa. A repercussão do lançamento do viagra, estimulador do desejo sexual masculino, foi tanta, que provocou no seio do povo uma série de manifestações comunicacionais de toda sorte: piadas, estórias, lendas e cordéis. Faz parte do imaginário popular do brasileiro. 


Despertar e aumentar o desejo sexual com uma ajudazinha externa sempre foi uma obsessão humana. Uma das primeiras menções aos afrodisíacos (batizados em homenagem a Afrodite, deusa grega do amor) está na Bíblia, quando Léa e Raquel, mulheres de Jacó, fazem um preparado com raiz de mandrágora. Desde então, plantas e alimentos foram usados para melhorar o sexo, mas só no século 20 a ciência conseguiu chegar perto dos efeitos desejados com a descoberta do famoso Viagra.




A milagrosa pílula azul surgiu por acaso, quando a empresa americana Pfizer pesquisava um novo medicamento para tratar a angina, uma doença cardíaca. Durante os testes da droga, em 1994, os pesquisadores Nicholas Terrett e Peter Ellis, funcionários da Pfizer, descobriam que um de seus efeitos colaterais era o aumento da irrigação sanguínea no pênis, a partir da potencialização do óxido nítrico. Os ingleses Peter Dunn e Albert Wood conseguiram sintetizar o composto numa pílula, aprovada pelo FDA (o órgão que regulamenta medicação nos EUA), em 1998, como o primeiro remédio contra a impotência. No mesmo ano, os americanos Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad dividiram o Nobel de medicina por seu trabalho com o óxido nítrico, sem o qual seria impossível a criação do Viagra.

Há pouco mais de quinze anos, os sonhos de cerca de 30 milhões de homens nos Estados Unidos (segundo dados do laboratório Pfizer) e 10 milhões no Brasil (número estimado pela pesquisadora Carmita Abdo) pareciam se tornar realidade mediante a simples apresentação de uma receita médica e o desembolso do equivalente a cerca de R$ 300 em uma farmácia qualquer.

O citrato de sildenafila, batizado pelo laboratório Pfizer de Viagra, chegava às prateleiras norte-americanas em abril de 1998. Em junho do mesmo ano, já era vendido no Brasil. De lá até agora, a "pílula mágica" mostrou que talvez não fosse tão mágica assim, mas colocou o sexo na ordem do dia --e fez com que homens e mulheres revissem suas expectativas quando ao desejo e a qualidade de vida ligada ao sexo. 

Descoberto quase acidentalmente, durante uma pesquisa para o tratamento de angina, o Viagra revolucionou de imediato não só a realidade sexual dos homens com algum grau de disfunção erétil, público-alvo do medicamento, mas também a maneira como se via o sexo em geral.

"O Viagra transformou a sexualidade em tema de conversa, fez com que fosse possível novamente ter relações sexuais. E, com isso, fez com que as pessoas precisassem optar por tê-las ou não", resume a doutora Pepper Schwartz, professora de Sociologia na Universidade de Washington, EUA, e autora de "The Normal Bar: The Surprising Secrets of Extremely Happy Couples" (Random House, ainda sem edição no Brasil; "O Padrão Normal: Os Surpreendentes Segredos de Casais Extremamente Felizes", em tradução literal).

Para eles, era um sonho realizado. "Lembro do pai de um colega que, aos 80 anos na época do lançamento, costumava brincar: 'o homem foi à Lua e isso não mudou nada na minha vida. Mas essa pilulazinha…'", conta Maria Helena Vilela, educadora sexual e diretora do Instituo Kaplan - Centro de Estudos da Sexualidade Humana.

Os homens pareciam extremamente satisfeitos com o medicamento, mas alguns efeitos colaterais apareceram. Não somente para quem tomava a droga sem prescrição, mas nas relações afetivas dos casais. "O Viagra não foi uma unanimidade entre as mulheres como foi com os homens", diz Vilela.
Tal como a pílula anticoncepcional (anos 1960), o Viagra, outra pílula, veio revolucionar o mundo dos anos 1990.  Nenhum medicamento ficou tão conhecido popularmente no mercado como o Viagra, um medicamento usado no tratamento da disfunção erétil dos homens. Na origem o medicamento original chama-se Citrato de sildenafila. No comércio é vendido sob os nomes de Viagra (usado no tratamento da disfunção eréctil no homem – impotência sexual) e Revatio (usado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar). No caso do viagra, tem a apresentação de um diamante na cor azul niágara. Medicamento pioneiro na moderna terapêutica da disfunção eréctil masculina, foi sintetizado originalmente pelo Laboratório Farmacêutico Pfizer. Seus principais concorrentes no mercado de medicamentos para o tratamento da disfunção erétil são a tadalafila (Cialis) e a vardenafila (Levitra, Vivanza).

Disfunção erétil (DE) é a incapacidade de obter e manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória. Estima-se que essa condição atinja cerca de 150 milhões de homens em todo o mundo. No Brasil, calcula-se que metade dos homens acima de 40 anos tenha problemas de ereção, o que representa um universo de 11 milhões de pessoas. Desses, apenas cerca de 10 por cento procuram ajuda médica. O mercado de DE começou a se desenvolver no Brasil com o lançamento do Viagra pelo laboratório Pfizer, em 1998.

O Brasil foi o segundo país do mundo a comercializar essa droga, apenas dois meses após seu lançamento nos Estados Unidos. Assim, Viagra transformou-se em nome forte e sinônimo da categoria. A pílula para a DE modernizou a imagem da Pfizer e dobrou o valor da empresa já no ano de seu lançamento. Em maio de 2003, dois novos medicamentos começaram a entrar no mercado: o Cialis, do laboratório Lilly, e o Levitra, da Bayer, comercializado em parceria com a GlaxoSmithKline (GSK).

Esses novos e fortes concorrentes entraram com campanhas de marketing agressivas, anunciando uma ‘tecnologia’ mais moderna e eficiente, com menos contraindicações e efeitos colaterais. A comunicação do Viagra havia tido uma missão de catequese: havia transposto barreiras e tabus, instruindo o público e desmitificando o problema. O Cialis e o Levitra já partiram de outro estágio, mostrando os benefícios do uso do produto. Passaram a abordar o tratamento da DE por meio de lifestyle drugs (drogas recreativas) ou usando um grande enfoque emocional que fazia referência à autoestima e ao prazer.

Vale assinalar que, por se tratar de medicamento prescrito, a comunicação tem uma série de limitações: não pode mostrar o produto ou citar a marca; não pode mostrar ou ‘induzir’ o consumo; não pode expressar os benefícios funcionais. Os anúncios devem ter um caráter de ‘saúde pública’. Assim, os fabricantes criaram ícones nas campanhas para facilitar a identificação das marcas: Viagra — diamante azul; Cialis — 36 horas; Levitra — chama. E os canais de comunicação e informação com o consumidor mais importantes acabam sendo os médicos e os farmacêuticos.

O Cialis, de cor bege, tem como principal diferença o tempo de duração, de 24 a 36 horas, contra cerca de 8 horas de seus concorrentes. Os fabricantes do Levitra, alaranjado, alegam que o remédio tem baixa incidência de efeitos colaterais e começa a agir em pouco tempo, de 15 a 25 minutos após ser ingerido. Além disso, não sofre alterações se for consumido com comida ou álcool. Já o Viagra tem a seu favor o fato de ter sido o pioneiro nesse mercado.

Acredita-se que aproximadamente 85 por cento do consumo desse tipo de medicamento ocorra sem prescrição médica e que muitos compradores o usem de maneira ‘recreativa’, ou seja, não apresentam o problema e usam a droga por diversão, por insegurança ou para potencializar seu desempenho. Pesquisas apontam que esses usuários se sentem ‘pressionados e inseguros’ em relação à mulher moderna, que é exigente, independente, avalia o desempenho sexual do parceiro e o comenta com as amigas. A partir de 2004 começaram a aparecer uma série de notícias e ações que arranhavam a imagem da Pfizer e do Viagra. Nesse mesmo ano a empresa decidiu empreender ações legais contra a venda pela Internet de falsificações do Viagra. Quase na mesma época, teve de negar a informação do resultado de uma pesquisa da Queen’s University, de Belfast, de que o Viagra poderia reduzir a fertilidade masculina.

Em maio de 2005, a agência reguladora dos Estados Unidos para os setores de alimentos e medicamentos, a Food and Drug Administration, divulgou que tinha recebido reclamações de que o Viagra teria causado um tipo de cegueira nos usuários. Informou também que o Cialis e o Levitra haviam recebido queixas, mas em quantidade bem menor. Outra notícia envolvendo o nome Viagra, nessa mesma época, foi o escândalo de que o Medicaid, um programa de assistência médica a pessoas de poucos recursos, nos Estados Unidos, estava liberando o medicamento para agressores sexuais condenados.


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