quinta-feira, 23 de março de 2017

FOLKCOMUNICAÇÃO: O VIAGRA NA BOCA DO POVO

FOLKCOMUNICAÇÃO DO VIAGRA

FOLKCOMUNICAÇÃO DO VIAGRA

A Revolução do aparecimento do Viagra no imaginário popular brasileiro.

Prof. Dr. Sebastião Breguez




A Folkcomunicação é uma teoria criada, na década de 1960, pelo pernambucano Luiz Beltrão, criador das Ciências da Comunicação, no Brasil, para designar os estudos dos processos comunicacionais populares nas sociedades em processo de desenvolvimento. Ela engloba duas ciências, a Comunicação e a Antropologia. Ela estuda como se dá esta comunicação entre o popular, o erudito e a comunicação de massa. A repercussão do lançamento do viagra, estimulador do desejo sexual masculino, foi tanta, que provocou no seio do povo uma série de manifestações comunicacionais de toda sorte: piadas, estórias, lendas e cordéis. Faz parte do imaginário popular do brasileiro. 


Despertar e aumentar o desejo sexual com uma ajudazinha externa sempre foi uma obsessão humana. Uma das primeiras menções aos afrodisíacos (batizados em homenagem a Afrodite, deusa grega do amor) está na Bíblia, quando Léa e Raquel, mulheres de Jacó, fazem um preparado com raiz de mandrágora. Desde então, plantas e alimentos foram usados para melhorar o sexo, mas só no século 20 a ciência conseguiu chegar perto dos efeitos desejados com a descoberta do famoso Viagra.



O povo brasileiro em sua imaginação criou dezenas de estórias, de causos e piadas em torno do Viagra. Articula seu sistema  de comunicação, que chamamos de folkcomunicacional, na informalidade, na irreverência, no riso, no deboche, na malícia, na crítica e na oralidade. Como exemplo temos a publicação de vários cordéis e de piadas que circulam de boca a ouvido nas classes popúlares ou através das redes sociais. Veja algumas aqui:

PIADAS DO VIAGRA

1.    VIAGRA AFRICANO

Depois de ouvir falar do novo viagra africano, o Kártáu, um jornalista decide ir falar com o criador deste viagra:
- O que acontece quando dá Kártáu para as mulheres?
Diz o preto:
- Mulher fica contente, carinhosa e bondosa, beija e abraça o dia e noite inteira. Não dá descanso, chama você de amor, minha vida…
Diz o jornalista incrédulo:
- Esse produto parece fantástico!
- Garantidamente, nunca falha! – acrescenta o africano.
Pergunta o jornalista:
- E o nome do produto é “Kártáu”?
Responde o preto:
- Sim, sim! Kártáu de crédito…

2.    O VELHO E O VIAGRA

Um septuagenário veste o casaco e, ao preparar-se para sair de casa, a mulher pergunta-lhe:
- Onde é que vais?
- Vou ao médico – responde ele.
- Porquê? Estás doente? – pergunta a mulher.
Diz o velho:
- Não. Vou ver se ele me me receita Viagra...
A mulher, levanta-se da cadeira de baloiço, e vai também buscar o casaco. Ele pergunta-lhe:
- E tu onde é que vais?
Diz ela muito apressadamente:
- Vou também ao médico.
- Porquê? – pergunta o velho.
Explica a mulher:
- Se vais começar a usar uma coisa enferrujada, acho melhor ir vacinar-me contra o tétano…

3.    VIAGRA PARA DIARRÉIA

Na escola a professora pergunta aos alunos que medicamentos conhecem e para que são tomados.
- Conheço o melhoral, para as dores de cabeça! – Diz quase instantaneamente um aluno.
E logo a seguir diz outro:
- O ben-u-ron para as dores.
A professora felicíssima com o conhecimento geral da turma e, virando-se para o Joãozinho pergunta se conhece algum.
- o viagra para diarréia! – Responde o Joãozinho com sentimento de dever cumprido.
Intrigada diz a professora:
- O viagra para a diarreia?
Explica o Joãozinho:
- Sim senhora professora! Eu ouvi a minha mãe dizer ao meu pai toma viagra para endurecer essa merda…

4.    MARIDO TOMA VIAGRA

Entre amigas:
- O meu marido, está tomando Viagra! 
- Ah, sim?! E que tal?! – Pergunta interessada a amiga.
Diz a mulher:
- Que diferença! Agora é muito melhor! Só tem é uma coisa…
Pergunta a amiga:
- O quê?
Explica a mulher:
- Aquilo põe sua língua áspera demais.

5.    VIAGRA TIRA APETITE

Ainda na cama, a esposa pergunta ao marido:
- Queres que te prepare o café da manhã e que o traga aqui?
Responde o marido:
- Não obrigado. O Viagra me tirou o apetite!
Chega a hora do almoço e a esposa volta a propor:
- Queres que te prepare o teu prato favorito?
Responde o marido:
- Não amor. Aquele Viagra tirou-me o apetite!
Por alturas do jantar a esposa insiste:
- Posso preparar-te um lanche leve?
Volta a dizer o marido:
- Não me apetece nada, querida. Aquele Viagra tirou-me o apetite!
E diz a mulher:
- Então, pelo menos, deixe eu levantar da cama. Estou com fome. Não como nada desde ontem à noite.

6.    PAPAGAIO ENGOLE COMPRIMIDO DE VIAGRA

Um papagaio engoliu um comprimido de Viagra distraidamente deixado ao seu alcance pelo dono.  Este, preocupado com o efeito, mete o papagaio no congelador para o acalmar. Um hora mais tarde o dono abre a porta e vê o papagaio todo suado e pergunta:
- Que que isto!  Como é que  pode estar todo suado no congelador?
E o papagaio responde:
- Acha que é fácil abrir as pernas de uma galinha congelada?

7.    OUTRAS PIADAS

- O primeiro utilizador do Viagra foi o Pinóquio...
Snifava-o...!!!


-Você sabia  que existe o Viagra em gotas?
Para aqueles que comem com os olhos.


-Qual foi o primeiro homem a tomar Viagra?
Salazar, foi o homem que mais tempo teve a dita-dura.


-Sabes que vão fazer uma nova ponte sobre o  Rio Tejo?
Vão dar Viagra ao Cristo-Rei.


-O que quer dizer V.I.A.G.R.A.?
Vaginas insatisfeitas agradecem grande remédio americano.


-O que aconteceu ao homem que pisou um comprimido de Viagra na rua?
Chegou a casa e fodeu a mulher ao pontapé.


-Qual a diferença entre o Panadol e o Viagra?
Panadol é paracetamol e o Viagra é parapiçamole.


CORDEL:O EFEITO DO VIAGRA
Autor:  Luciano Carneiro. Crato.CE.

Correu aí um boato
de um remédio milagroso
que a ciência descobriu
mode fazer o idoso
ficar novo novamente
sei que a ciência num mente
mas eu acho duvidoso

duvido sim da ciência
e do boato do povo
que o home depois de véio
volte a ser novo de novo
eu tenho é plena certeza
que quem força a natureza
nunca tem dela o aprôvo

Seu Lulu do Pé da Serra
ainda tá um véião duro
cum sessenta e poucos anos
forte, corado e seguro
mas pra muié, meu rapaz,
tá cum bem dez ano ou mais
que o home tá sem futuro

E a pobe da muié dele 
que é mais nova um bocadão
dêrna que Lulu pifou
que é grande a sua aflição
tem respeito em alto estilo
mas quando pensa naquilo
fica suspensa do chão

E eu tive oportunidade
de conversar um pouquim
cum a muié de seu Lulu
e ela disse pra mim:
sabe moça que nem presta
a muié ser muito honesta
quando o marido é assim!

Eu disse mas tudo isso 
saiba que acabou agora
se assente e se aprepare
que eu vou falar pra senhoa
vou dizer toda a verdade
sobre a grande novidade
que rola de mundo a fora.

Vou lhe falar do Viagra
vei dos Estados Unido
viagra, que diabo é isso?
eu dixe é um cumprimido
que foi feito em alto esquema
pra resolver o pobrema
de seu Lulu, seu marido

Só que esse cumprimido
num mata fome nem cêde
mas pro home que se deita
e espanca a muié na rede
lhe achando feia e magra
se ele tomar um viagra
se atrepa até nas parede

A muié correu vexada 
e lá se vem pra meu lado
cum pedaço de papel
um lápis mal dispontado
quis chorar e quis sorrir
e dixe escreva aí, home
o nome desse danado

Aí então escrevi
e entreguei o nome a ela
e ela dixe obrigada 
por essa ajuda singela
Jesus abençoe a tu
se Deus quiser e Lulu
tá terminada a novela

No outro dia vendeu
um porco gordo que tinha
dois cabrito, três piru,
cinco pato, três galinha,
arrumou roupa e sapato
e impurrou Lulu pro Crato
mode comprar a meisenha

Quando ele chegou em casa
a muié deu-lhe um abraço
seu Lulu tomou um banho 
mode tirar o cansaço
e dixe pra sua esposa:
eu hoje faço uma cousa
que há muito tem nun faço.

Tomou de noite o remédio
foi se deitar sastifeito
a mulher também deitou 
ocupando o mesmo leito
ficaro então prozeando
os dois então esperando
que o bicho fizese efeito

Já era de madrugada
porém nada aconteceu
e por esse meio de tempo
seu Lulu adormeceu
a mulher disvanecida
desesperada da vida
queria até culpar eu.

Mais tar o véi se acordou
e cutucou a muié
e ela desanimada
lhe perguntou: o que é?
quer alguma coisa, vem!
só que falou cuma quem
já tinha perdido a fé.

Seu Lulu dixe:
tou cum vontade
tenho que dizer a tu
ela perguntou vexada:
vontade de que, Lulu?
diz logo por caridade!
Ele dixe a vontade
que eu tô é de dar o ...
nada não deixe pra lá!

A milagrosa pílula azul surgiu por acaso, quando a empresa americana Pfizer pesquisava um novo medicamento para tratar a angina, uma doença cardíaca. Durante os testes da droga, em 1994, os pesquisadores Nicholas Terrett e Peter Ellis, funcionários da Pfizer, descobriam que um de seus efeitos colaterais era o aumento da irrigação sanguínea no pênis, a partir da potencialização do óxido nítrico. Os ingleses Peter Dunn e Albert Wood conseguiram sintetizar o composto numa pílula, aprovada pelo FDA (o órgão que regulamenta medicação nos EUA), em 1998, como o primeiro remédio contra a impotência. No mesmo ano, os americanos Robert Furchgott, Louis Ignarro e Ferid Murad dividiram o Nobel de medicina por seu trabalho com o óxido nítrico, sem o qual seria impossível a criação do Viagra.

Há pouco mais de quinze anos, os sonhos de cerca de 30 milhões de homens nos Estados Unidos (segundo dados do laboratório Pfizer) e 10 milhões no Brasil (número estimado pela pesquisadora Carmita Abdo) pareciam se tornar realidade mediante a simples apresentação de uma receita médica e o desembolso do equivalente a cerca de R$ 300 em uma farmácia qualquer.

O citrato de sildenafila, batizado pelo laboratório Pfizer de Viagra, chegava às prateleiras norte-americanas em abril de 1998. Em junho do mesmo ano, já era vendido no Brasil. De lá até agora, a "pílula mágica" mostrou que talvez não fosse tão mágica assim, mas colocou o sexo na ordem do dia --e fez com que homens e mulheres revissem suas expectativas quando ao desejo e a qualidade de vida ligada ao sexo. 

Descoberto quase acidentalmente, durante uma pesquisa para o tratamento de angina, o Viagra revolucionou de imediato não só a realidade sexual dos homens com algum grau de disfunção erétil, público-alvo do medicamento, mas também a maneira como se via o sexo em geral.

"O Viagra transformou a sexualidade em tema de conversa, fez com que fosse possível novamente ter relações sexuais. E, com isso, fez com que as pessoas precisassem optar por tê-las ou não", resume a doutora Pepper Schwartz, professora de Sociologia na Universidade de Washington, EUA, e autora de "The Normal Bar: The Surprising Secrets of Extremely Happy Couples" (Random House, ainda sem edição no Brasil; "O Padrão Normal: Os Surpreendentes Segredos de Casais Extremamente Felizes", em tradução literal).

Para eles, era um sonho realizado. "Lembro do pai de um colega que, aos 80 anos na época do lançamento, costumava brincar: 'o homem foi à Lua e isso não mudou nada na minha vida. Mas essa pilulazinha…'", conta Maria Helena Vilela, educadora sexual e diretora do Instituo Kaplan - Centro de Estudos da Sexualidade Humana.

Os homens pareciam extremamente satisfeitos com o medicamento, mas alguns efeitos colaterais apareceram. Não somente para quem tomava a droga sem prescrição, mas nas relações afetivas dos casais. "O Viagra não foi uma unanimidade entre as mulheres como foi com os homens", diz Vilela.
Tal como a pílula anticoncepcional (anos 1960), o Viagra, outra pílula, veio revolucionar o mundo dos anos 1990.  Nenhum medicamento ficou tão conhecido popularmente no mercado como o Viagra, um medicamento usado no tratamento da disfunção erétil dos homens. Na origem o medicamento original chama-se Citrato de sildenafila. No comércio é vendido sob os nomes de Viagra (usado no tratamento da disfunção eréctil no homem – impotência sexual) e Revatio (usado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar). No caso do viagra, tem a apresentação de um diamante na cor azul niágara. Medicamento pioneiro na moderna terapêutica da disfunção eréctil masculina, foi sintetizado originalmente pelo Laboratório Farmacêutico Pfizer. Seus principais concorrentes no mercado de medicamentos para o tratamento da disfunção erétil são a tadalafila (Cialis) e a vardenafila (Levitra, Vivanza).

Disfunção erétil (DE) é a incapacidade de obter e manter uma ereção suficiente para uma relação sexual satisfatória. Estima-se que essa condição atinja cerca de 150 milhões de homens em todo o mundo. No Brasil, calcula-se que metade dos homens acima de 40 anos tenha problemas de ereção, o que representa um universo de 11 milhões de pessoas. Desses, apenas cerca de 10 por cento procuram ajuda médica. O mercado de DE começou a se desenvolver no Brasil com o lançamento do Viagra pelo laboratório Pfizer, em 1998.

O Brasil foi o segundo país do mundo a comercializar essa droga, apenas dois meses após seu lançamento nos Estados Unidos. Assim, Viagra transformou-se em nome forte e sinônimo da categoria. A pílula para a DE modernizou a imagem da Pfizer e dobrou o valor da empresa já no ano de seu lançamento. Em maio de 2003, dois novos medicamentos começaram a entrar no mercado: o Cialis, do laboratório Lilly, e o Levitra, da Bayer, comercializado em parceria com a GlaxoSmithKline (GSK).

Esses novos e fortes concorrentes entraram com campanhas de marketing agressivas, anunciando uma ‘tecnologia’ mais moderna e eficiente, com menos contraindicações e efeitos colaterais. A comunicação do Viagra havia tido uma missão de catequese: havia transposto barreiras e tabus, instruindo o público e desmitificando o problema. O Cialis e o Levitra já partiram de outro estágio, mostrando os benefícios do uso do produto. Passaram a abordar o tratamento da DE por meio de lifestyle drugs (drogas recreativas) ou usando um grande enfoque emocional que fazia referência à autoestima e ao prazer.

Vale assinalar que, por se tratar de medicamento prescrito, a comunicação tem uma série de limitações: não pode mostrar o produto ou citar a marca; não pode mostrar ou ‘induzir’ o consumo; não pode expressar os benefícios funcionais. Os anúncios devem ter um caráter de ‘saúde pública’. Assim, os fabricantes criaram ícones nas campanhas para facilitar a identificação das marcas: Viagra — diamante azul; Cialis — 36 horas; Levitra — chama. E os canais de comunicação e informação com o consumidor mais importantes acabam sendo os médicos e os farmacêuticos.

O Cialis, de cor bege, tem como principal diferença o tempo de duração, de 24 a 36 horas, contra cerca de 8 horas de seus concorrentes. Os fabricantes do Levitra, alaranjado, alegam que o remédio tem baixa incidência de efeitos colaterais e começa a agir em pouco tempo, de 15 a 25 minutos após ser ingerido. Além disso, não sofre alterações se for consumido com comida ou álcool. Já o Viagra tem a seu favor o fato de ter sido o pioneiro nesse mercado.

Acredita-se que aproximadamente 85 por cento do consumo desse tipo de medicamento ocorra sem prescrição médica e que muitos compradores o usem de maneira ‘recreativa’, ou seja, não apresentam o problema e usam a droga por diversão, por insegurança ou para potencializar seu desempenho. Pesquisas apontam que esses usuários se sentem ‘pressionados e inseguros’ em relação à mulher moderna, que é exigente, independente, avalia o desempenho sexual do parceiro e o comenta com as amigas. A partir de 2004 começaram a aparecer uma série de notícias e ações que arranhavam a imagem da Pfizer e do Viagra. Nesse mesmo ano a empresa decidiu empreender ações legais contra a venda pela Internet de falsificações do Viagra. Quase na mesma época, teve de negar a informação do resultado de uma pesquisa da Queen’s University, de Belfast, de que o Viagra poderia reduzir a fertilidade masculina.

Em maio de 2005, a agência reguladora dos Estados Unidos para os setores de alimentos e medicamentos, a Food and Drug Administration, divulgou que tinha recebido reclamações de que o Viagra teria causado um tipo de cegueira nos usuários. Informou também que o Cialis e o Levitra haviam recebido queixas, mas em quantidade bem menor. Outra notícia envolvendo o nome Viagra, nessa mesma época, foi o escândalo de que o Medicaid, um programa de assistência médica a pessoas de poucos recursos, nos Estados Unidos, estava liberando o medicamento para agressores sexuais condenados.

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